15 Dezembro 2014
"É urgente para a esquerda restante deste país, dentro e fora do jogo eleitoral, tomar para si a bandeira mais que justa de revisão da Lei da Anistia e acabar com esse absurdo votado em um Congresso tutelado em 1979, recheado que estava de senadores biônicos da Arena e com um general-presidente no Palácio do Planalto", escreve Bruno Lima Rocha, professor de ciência política e de relações internacionais, lecionando na ESPM-Sul, Unisinos e Unifin.
Eis o artigo.
A partir do momento que e o relatório final da Comissão da Verdade, ao ser entregue, termina por indicar a Revisão da Lei de Anistia, as atenções passaram a girar ao redor do embate público entre os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Maria do Rosário (PT-RS). Bolsonaro novamente passara do limite do que pode ser falado e ultrapassa a linha da liberdade de expressão para chegar à pregação do ódio e do chauvinismo. Como a direita ideológica já não tem não tem mais medo de mostrar o próprio rosto, refletindo o pior do país e sua herança pós-colonial, o fato pontual se transforma em motivação coletiva para a ação.
Este analista entende que é hora de se manifestar quanto a personagens aparentemente caricatos como Jair Bolsonaro. Por um lado, obviamente, quanto maior a publicidade desta excrescência, maior o número de adeptos do parlamentar fluminense. O mesmo pode ser dito quanto à ex-ministra Maria do Rosário e atual parlamentar pelo PT-RS. Ainda que operando dentro da legalidade, sua reação poderia (deveria) ser ainda mais contundente, sendo que esta crítica é expandida para as bancadas que entraram com pedido de cassação (PT, PSB, PC do B e PSOL). Mas, constatemos o óbvio: isso passou de qualquer limite, saiu da rubrica de um tragicômico de ultra-direita para ser o porta-voz no Congresso de uma direita golpista, proto-fascista (com discursos cuja demência torna-se um híbrido entre a UDN e os esquálidos da Venezuela) e que cresce para além das tribos urbanas (como carecas de extrema direita ou a versão neonazista).
Desta vez estas ideias das viúvas da ditadura e da histeria anti-bolivariana chegou às raias do descontrole. E, por trás deste tragicômico violador (simbólico até onde se saiba), está o pânico em voltar ao debate da revisão da absurda Lei da Anistia. Bolsonaro representa o pensamento corrente nos três clubes militares (Clube Militar, Naval e da Aeronáutica), não no que diz respeito ao tema do "status de mulher violável", mas sim na defesa incondicional da Anistia para os operadores da repressão que dentre outros crimes de lesa humanidade, violentaram presas e presos políticos. Muito deste desalinho e desconforto da política brasileira é responsabilidade direta do partido de governo, o PT, ao optar o pacto de governabilidade e gerir o Brasil com o pior da oligarquia nacional, incluindo uma leva significativa de ex-arenistas.
Entendo que é urgente para a esquerda restante deste país, dentro e fora do jogo eleitoral, tomar para si a bandeira mais que justa de revisão da Lei da Anistia e acabar com esse absurdo votado em um Congresso tutelado em 1979, recheado que estava de senadores biônicos da Arena e com um general-presidente no Palácio do Planalto. O relatório da Comissão Nacional da Verdade constata o que qualquer pessoa razoavelmente informada no tema já o sabia. No Brasil, o Estado organicamente cometeu crimes de lesa humanidade, crimes estes não punidos e sim perdoados. Isso sim passa do limite de qualquer tolerância societária. O mesmo se aplica para as palavras absurdas de Bolsonaro. O capitão da reserva do Exército Brasileiro manifestara na tribuna o pensamento corrente nos porões policiais, mesmo em democracia. É do linguajar do submundo policial afirmar que “tal mulher pode ser violentada e outra nem para isso dá”. Não era (não é) incomum ouvir tamanha barbaridade na informalidade de corruptos violentos e agentes estatais para além da margem da lei.
Vale uma comparação. A força política que promove o estupro em massa de mulheres que segundo os mesmos mereceriam serem violadas é o famigerado Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS ou ISIL). Por sorte, na fronteira norte da Síria com a Turquia, a esquerda curda é a protagonista da humanidade para combater esta excrescência por todos os meios necessários. É hora de assumirmos aqui no Brasil a mesma postura. Os lemas por tanto se complementam:
FORA BOLSONARO COMO PARTE DA REVISÃO E REVOGAÇÃO DA LEI DE ANISTIA.
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Bolsonaro, a excrescência da política e a urgente revisão da Lei da Anistia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU