28 Janeiro 2014
A discussão com as autoridades indianas conseguiu tirar um dos presidentes da farmacêutica Bayer do sério. A pauta era a patente do medicamento anticancerígeno Nexavar, um fármaco de última geração para tratar câncer de fígado e rins. “Não criamos este medicamento para os indianos, mas para os ocidentais que podem pagar por ele”, disse o presidente do conselho de administração de Bayer, Marijn Dekkers. E vários meios divulgaram depois.
A reportagem é de Emilio de Benito Madri, publicada pelo jornal El País, 23-01-2014.
Um ex-colega de Dekkers, John LaMattina, lhe deu a oportunidade de se desculpar. Em um artigo publicado na revista Forbes, o ex-diretor da Pfizer recrimina suas palavras. E assim deu motivo para que Dekkers se explicasse. Bayer responde através dessas declarações.
“Lamento que uma rápida resposta no âmbito de toda uma discussão viesse à tona de uma maneira não intencionada. Não pode ser mais o oposto do que eu quero e do que fazemos na Bayer", disse Dekkers. Como empresa "queremos melhorar a saúde e a qualidade de vida das pessoas, independentemente de sua origem ou renda”. “Em qualquer caso, estava frustrado pela decisão do Governo indiano de não proteger a patente do Nexavar que nos foi concedida pela autoridade responsável pelas patentes do país. Estou convencido de nossa capacidade para inovar e em uma aberta discussão na reunião, enquanto expressava minha frustração fundamental, tinha que ter esclarecido isto”.
“Em qualquer caso, reafirmo que não há nenhum motivo para que um país debilite a proteção da propriedade intelectual. Sem novos medicamentos, tanto as pessoas dos países em desenvolvimento como as de outros mais prósperos sofrerão”, acrescenta. E conclui mencionando que ainda que os fabricantes de genéricos têm “um papel crucial para desempenhar”, “não investem em investigação e não produzem novas curas ou tratamentos, nem para os mercados em desenvolvimento nem para os desenvolvidos”.
O confronto com a Índia é um mais do grande laboratório com um país que aplica rigorosamente uma lei de patentes que lhes recusa a proteção de alguns produtos líderes de mercado (a maioria dos casos porque não permitem modificações na patente original que acompanhem os avanços nas pesquisas dos medicamentos, por exemplo, procurando diferentes sais para a composição). Foi o que levou ao conflito com Novartis por outro medicamento anti-cancerígeno (o Glívec). Com essa política, o Governo indiano não só consegue que a patente dure menos (o que obriga aos laboratórios a baixar seus preços para competir), mas também protege a sua crescente indústria de genéricos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Não criamos medicamentos para os indianos, mas para os que podem pagar” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU