20 Junho 2019
"Microplástico também é criado por todos os produtos da indústria química jogados no meio ambiente, como garrafas PET, copos descartáveis, sacolas, bolsas e outros materiais de embalagem ou cadeiras e mesas de plástico boiando na Baia de Guanabara. Com o tempo, expostos à radiação UV da luz solar, estes plásticos se degradam e se fragmentam em partículas cada vez menores e acabam se tornando em microplástico", escreve Norbert Suchanek, correspondente e jornalista de Ciência e Ecologia, em artigo publicado por EcoDebate, 19-06-2019.
Ninguém quer comer microplástico, porque estas invisíveis partículas de todos os tipos de plástico podem prejudicar a sua saúde silenciosamente e gravemente. E que pessoa quer se prejudicar sem ser louca? Mas, de qualquer maneira, cada dia comemos mais microplástico quando comemos peixes e mariscos dos nossos rios, lagos, da nossa costa e especialmente da nossa grandiosa Baía de Guanabara, uma das maiores baías do planeta.
Recentemente chegou uma notícia científica chocante para os cariocas: A Baía de Guanabara é um dos mares com mais acúmulo de microplástico do mundo!
Uma pesquisa, realizada pela PUC do Rio de Janeiro, mostra que a poluição na Baía vai muito além do esgoto fedorento e do lixo visível que flutua em suas águas. Os pesquisadores da PUC-Rio encontraram 7,1 partículas de plástico por metro cúbico, perto do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Pior: No outro lado da baia, os pesquisadores da Universidade Federal Fluminense registraram 16,4 itens de microplástico por metro cúbico, em frente de Niterói. “Isso é, pelo menos, sete vezes mais do que se vê em baías da Europa”, publicaram os jornais. Por exemplo: Na Baía de Brest, na França, o índice é de 0,24 itens por metro cúbico, e no Mar Mediterrâneo é na média de 1 microplástico por metro cúbico. Um outro estudo, do Departamento de Biologia Marinha da UFF, realizado recentemente chegou a conclusão: todos os mexilhões da Baia de Guanabara estão contaminados com microplástico.
Microplástico são definidos como partículas de plástico de menos de 5 milímetros que entram facilmente na cadeia dos alimentos e se acumulam nos seres vivos como mariscos, peixes e finalmente em nós. O homem plastificado!
A fonte mais moderna é a indústria de cosméticos. Há alguns anos micropartículas do plástico tipo “polietileno” são utilizadas na formulação de sabonetes esfoliantes para fazer peeling. Milhares de cariocas hoje usam estes “esfoliantes” de peeling para ter uma pele mais suave e para agradar o seu namorado ou namorada sem noção das consequências.
Com as águas da chuveiro que se juntou nos canos de esgoto, este peeling de plástico vai junto com os seus pedacinhos de pele pelos rios ou diretamente para a Baia de Guanabara ou pelos canos do emissário submarino nas praias de Copacabana ou Barra da Tijuca. E tudo isso sem nenhuma necessidade. Os produtos de peeling antigos que serviram a beleza da pele por milhares de anos são, por exemplo, açúcar, pó de café ou simplesmente aveia.
Especialistas da beleza tradicional confirmam: “Aveia é o melhor esfoliante natural que clareia a pele e remove as células mortas da pele. Devido às suas propriedades antioxidantes, a farinha de aveia ajuda a reparar os danos causados por influências externas. E por causa de suas propriedades anti-inflamatórias, também ajuda a hidratar e acalmar a pele.” Além disso: no final, a aveia que depois do peeling entra no ralo junto com a sua pele velha raspada é realmente um alimento saudável para peixes e mariscos.
Claramente partículas de plástico microscópicas em cosméticos não são necessárias. Por isso, na Suécia elas foram banidas, desde julho de 2018. E a proibição em toda União Europeia está em fase de planejamento.
Microplástico também é criado por todos os produtos da indústria química jogados no meio ambiente, como garrafas PET, copos descartáveis, sacolas, bolsas e outros materiais de embalagem ou cadeiras e mesas de plástico boiando na Baia de Guanabara. Com o tempo, expostos à radiação UV da luz solar, estes plásticos se degradam e se fragmentam em partículas cada vez menores e acabam se tornando em microplástico.
Mas uma outra fonte destas partículas minúsculas e um dos maiores vilões para a Baia de Guanabara e nossos rios e costas são as roupas de tecidos sintéticos, especialmente quando são tratadas numa máquina de lavar. A máquina de lavar não só lava as roupas, ela também é uma grande criadora de microplásticos, quando a roupa é feita com fibras da indústria de petróleo e da química com acrílico, polietileno ou poliéster, incluindo as camisas “ecológicas” e caríssimas produzidas com garrafas PET. Durante o processo de lavagem, as peças se esfregam umas nas outras e nas partes móveis da máquina.
Com cada lavagem, nossas roupas perdem fibras que se acumulam como microfibras na água da lavagem. De acordo com um estudo britânico, até 700.000 fibras são liberadas por ciclo da máquina de lavar, com carga padrão de 6 quilos de roupas sintéticas. Pela saída da máquina de lavar, os micro-plásticos entram nos sistemas de água e esgoto. Não há filtro que retenha essas partículas sintéticas quase invisíveis. Pior, os micro-plásticos são tão pequenos que passam facilmente por todas as peneiras do tratamento de águas residuais e contaminam os rios, lagos, lagoas e nossas costas.
De acordo com o cálculo modelo da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), fibras desbotadas de roupas sintéticas são hoje responsáveis por 35 % de todos os microplásticos nos oceanos. Com o uso de máquinas de lavar e roupas plásticas – que são fabricadas em sua maioria na China – em todos os lugares do Brasil, as microfibras, com certeza, já estão também contaminando o Rio Amazonas e seus afluentes.
Por enquanto, a melhor solução é simplesmente não comprar estas roupas sintéticas, que é, na verdade, uma solução com muito mais vantagens. Primeiro, têxteis sintéticos não são necessários. Por milhares de anos, as roupas foram feitas pelas fibras naturais como algodão, linho, lã, seda, juta, sisal ou coco. A famosa Levis foi feita originalmente, no final do século 19, com a fibra de cânhamo, uma fibra altamente resistente. Por isso, a Levis virou em poucos anos a mais famosa calca para trabalhadores e trabalhadoras nos Estados Unidos e conquistou depois o mundo.
Mas o Brasil com sua riqueza de biodiversidade tem ainda mais alternativas naturais, por exemplo a fibra de tururi da Amazônia, usada originalmente pelos povos indígenas. Essa fibra é extraída da palmeira chamada de ubuçu (manicaria sacifera), abundante nas margens das várzeas e ilhas da Amazônia, principalmente nos estados do Amapá, Pará e Amazonas.
Sim, os tecidos naturais perdem também nas máquinas de lavar, mas estas fibras naturais, como o tururi, algodão ou cânhamo, desaparecem sem danos ao meio ambiente ou são digeridas naturalmente pelos animais e convertidas em nutrientes.
Imagine: Em vez de importar milhares de contêineres de roupas sintéticas da China – com o seu grande impacto negativo em nosso clima e meio ambiente – o Brasil voltasse a produzir os seus próprios tecidos e roupas. Milhares de empregos seriam criados tirando milhares de famílias da pobreza e da rua e salvando nossas águas e baias, peixes, mariscos e golfinhos.
Durante sua campanha para libertar a Índia do domínio colonial britânico, Mahatma Gandhi levantou a roda de fiar como um símbolo de independência. Nesta época de revolução industrial, o Reino Unido obrigou os indianos comprar caro os tecidos da indústria inglesa, produzidos com algodão exportado barato da própria Índia: Somente quando a Índia produz suas próprias roupas, a Índia realmente estará livre, disse Gandhi. Por isso, ainda hoje, a bandeira indiana mostra uma roda de fiar.
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Microplástico para todos! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU