23 Outubro 2018
"Quanta reconciliação poderia ser alcançada entre a Igreja e as pessoas LGBT se houvesse espaços de escuta por parte dos representantes da Igreja."
A opinião é de Francis DeBernardo, diretor-executivo da New Ways Ministry, organização católica de gays e lésbicas, 20-10-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Eis o texto.
Nas conferências de imprensa diárias a respeito do Sínodo, os convidados, seja bispo, cardeal, jovem, freira ou padre, declararam, por unanimidade, que foi uma experiência única de troca de ideias entre o bispo e outros delegados "adultos" com os delegados jovens. Tenho que admitir que no começo eu estava um pouco cético um ambiente em que, segundo relatos, todos se davam bem e estavam dispostos a compartilhar ideias abertamente e ouvir de forma igualmente aberta.
Mas passei a acreditar que pode haver verdade nesses relatos. Não mudei de opinião pela exposição à repetição constante deste tema, mas pela sinceridade genuína com a qual muitos palestrantes falam desta experiência.
Na conferência de imprensa de quarta-feira, o Abade Geral da Ordem Cisterciense Mauro Giorgio Giuseppe Lepori e o irmão Alois, Prior da comunidade ecumênica de Taizé, na França, falaram com paixão sobre a importância deste diálogo sem precedentes. O Abade Lepori disse que o Sínodo foi um exercício de "comunidade e comunhão", não apenas nas reuniões, mas também nos coffee breaks informais em que os participantes têm a oportunidade de conversar.
Abade Lepori, O. Cist.
O irmão Alois enfatizou que o Sínodo mostrava à Igreja a importância de ouvir. "Muitos querem ser ouvidos, mas não encontram uma porta aberta", observou. O Sínodo o ensinou a importância da amizade e do relacionamento na construção da Igreja.
Apesar de acreditar e concordar com estes líderes religiosos, eu também precisava reconhecer minha própria experiência de mais de 25 anos de ministério católico com pessoas LGBT, suas famílias e ministros pastorais. Neste período, encontrei centenas de fiéis católicos - LGBT e simpatizantes - que tentaram por diversas vezes ter um diálogo respeitoso com os bispos e/ou outras autoridades diocesanas. A maioria nunca encontrou a porta aberta. Na verdade, muitas vezes nem recebiam resposta. Todas essas pessoas estavam em minha mente e no meu coração quando decidi fazer uma pergunta aos convidados da conferência de imprensa:
"Nos últimos dias, tenho ouvido que o sínodo foi uma experiência única e aberta para todos os participantes e o quanto todos vocês estão compartilhando ideias e ouvindo uns aos outros. Mas em meu ministério conheci centenas de católicos que tentaram por diversas vezes encontrar o bispo, mas nunca tiveram essa oportunidade nem conseguiram encontrá-los sequer para tomar um café. O documento final do Sínodo vai incluir instruções para os bispos sobre como ouvir? Como os bispos do mundo todo vão poder reproduzir essa experiência poderosa que tiveram no Sínodo?"
A questão causou um longo silêncio e uma risadinha do moderador, Greg Burke, porta-voz do Vaticano. Além disso, os palestrantes ficaram se olhando como se esperassem que outra pessoa respondesse.
Irmão Alois
O Abade Lepori foi corajoso. Ele reconheceu que a experiência do Sínodo foi realmente especial e diferente da vida normal da Igreja e descreveu como um "acontecimento" testemunhado por ele, e não algo que pode ser fácil simplesmente ensinado. Disse ainda que observou que "o desejo crescente de deixar Sínodo como testemunhas", não apenas como mensageiros entregando uma correspondência. E que queria sair do Sínodo como testemunha, oferecendo seu testemunho do que aconteceu. Disse que confia que o Espírito Santo e o Papa transmitam a importância da experiência do Sínodo aos demais.
Em resposta a uma pergunta de outro jornalista, o irmão Alois ampliou a ideia da importância da escuta na Igreja. "Um Ministério de escuta é indispensável", disse. Em Paris, as igrejas ficam abertas e as pessoas param em determinados lugares "apenas para ouvir". Oferecem ajuda, se necessário, e às vezes encaminham a um conselheiro espiritual ou psicológico, mas seu propósito principal é "escutar as alegrias e sofrimentos" das pessoas.
Uau!
Que Ministério maravilhoso! Imaginem a transformação da nossa Igreja se mais paróquias instituíssem ministérios de escuta como esse. Quanta reconciliação poderia ser alcançada entre a Igreja e as pessoas LGBT se houvesse espaços de escuta por parte dos representantes da Igreja.
Espero que o Lepori esteja certo e o Espírito Santo ajude a disseminar a experiência do Sínodo entre bispos e líderes da Igreja ao redor do mundo. Depois de um período de tantos escândalos e conflitos internos, é hora de os líderes da Igreja abrirem seus ouvidos, coração e mente para novas vozes.
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Questão para o Sínodo: como os bispos podem aprender a ouvir? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU