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27 Junho 2016

O salão inteiro aplaudiu quando a tradutora expôs em francês o que Lula havia dito em Português: "Cuidado com a União Europeia, porque é um patrimônio da humanidade". Esta afirmação foi parte de seu discurso de aceitação do Doutorado honorário, em setembro de 2011, no prestigioso Centro de Estudos Políticos de Paris, conhecido entre cientistas e pesquisadores como Sciences Po. No entanto, o ex-presidente brasileiro não se permitiu elogiar a UE nem nessa, nem em outras declarações. Para Lula, a integração europeia foi uma ferramenta de superação das guerras. Lula também considera a Europa como um espaço para a conquista de direitos sociais durante o século XX. Sua alusão à União Europeia como um patrimônio mundial deveria ser entendida neste contexto: como uma contribuição regional para um mundo mais pacífico, e como laboratório do Estado de bem-estar social. O líder brasileiro chamava a atenção para a proteção desse Estado de bem-estar social, assim como de suas mínimas conquistas.

A reportagem é de Martín Granovsky, publicada por Página/12, 25-06-2016. A tradução é de Henrique Denis Lucas.

Agora que o Brexit já é uma decisão popular e que o Reino Unido deixará a UE, talvez a abordagem de Lula para a questão europeia sirva para imaginar cenários e novos problemas.

Os sindicatos fizeram campanha contra a "saída". A Trades Union Congress (TUC), o Comando Geral dos Trabalhadores britânico, sustentava que o Brexit significaria menos proteção social, com risco para o sistema público de saúde e que a situação dos trabalhadores poderia piorar. Esclareceram, à propósito, que as coisas não estavam bem. Esse discurso laborista sobre os riscos da ruptura com a UE tornou-se majoritário e obrigou dirigentes tradicionalmente eurocéticos a se pronunciarem contra o Brexit, como no caso do próprio chefe, Jeremy Corbyn. Em 1975, Corbyn votou para romper com a Comunidade Econômica Europeia. Em 1993, ele votou contra o Tratado de Maastricht, que não foi apenas a base jurídica para a UE, mas também a sua fundamentação ortodoxa para barrar o déficit fiscal. Em 2008, disse que a UE "sempre teve um grave déficit democrático." E no ano passado fez um prognóstico sobre o Brexit:

"Se a Europa tornar-se uma organização brutal que trata todos os seus membros como tem tratado os gregos, ela perderá o apoio de muitos cidadãos". Ou será que a Europa, como uma organização, já deixou de ser o escudo contra milhares de anos de guerra para se tornar um fórceps capaz de pressionar tanto, mas tanto, que produziria implosões e explosões em toda a região.

O futuro de Corbyn servirá como termômetro do que acontece numa Europa convulsionada pela dispersão, pelo desemprego, pela crise e pela xenofobia. Sua campanha contra o Brexit foi leviana e agora, dentro do laborismo, os partidários da permanência na UE acusam-no de ter ajudado os simpatizantes da saída. Mas o Brexit venceu em cidades industriais e laboristas, como Birmingham, o segundo maior município do Reino Unido.

O laborismo conseguirá preservar politicamente esses trabalhadores para que terminem na extrema direita, como ocorre nos subúrbios da França? Para este desafio, existe alguma figura laborista melhor do que Corbyn? Até que ponto a TUC pertence a uma elite política, e quanta representatividade realmente possui?

O Reino Unido sempre demonstrou a sua diferença frente ao resto da Europa. "British is different" é uma frase clássica. Inclusive existem piadas autoirônicas: "Vocês sabem o que é sexo? Uma atividade praticada no continente". O continente, obviamente, não abrange as Ilhas Britânicas.

O Brexit, então, supõe uma tendência europeia ou deve ser lido como uma forma de confirmar a diferença da identidade essencialmente britânica?

Uma UE em austericídio, nas palavras do economista Paul Krugman, obcecada com a redução da despesa pública, é parte da solução ou do problema? Não foi a UE dos últimos anos que permitiu o reinado da tríade formada pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional? Rápido no gatilho, o líder Pablo Iglesias, do Podemos, partido político que pretende ficar em segundo lugar nas eleições espanholas de amanhã, já disse que "de uma Europa justa e solidária ninguém gostaria de sair".

"Um fantasma ronda a Europa", introduziam Karl Marx e Friedrich Engels no Manifesto de 1848. "O fantasma do comunismo". Hoje, um outro fantasma ronda a Europa. O ponto é saber qual.

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