O mal está no grupo próximo a mim, diz FHC em diário

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22 Outubro 2015

"Estou cada vez mais convencido de que o mal está em que todo o grupo próximo a mim fala [...] As dez pessoas mais próximas são as que mais fazem confusão, porque são essas fofocas que saem no jornal." O desabafo é do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e ilustra seu incômodo com a troca de farpas e a rede de intrigas que permeavam a cúpula de seu ministério.

A reportagem foi publicada por Folha de S. Paulo, 21-10-2015.

A reflexão integra o primeiro volume da obra "Diários da Presidência" (Companhia das Letras), que chega às livrarias no dia 29 e detalha o cotidiano do poder nos primeiros dois anos do governo FHC, entre 1995 e 1996. O conteúdo foi extraído de gravações feitas pelo próprio tucano durante sua gestão.

No livro, FHC narra em detalhes o cotidiano do poder, as disputas internas e crises que fizeram parte da primeira metade de seu mandato. Em tom de desprezo, fala dos incessantes pedidos de cargos feitos por integrantes da base aliada e diz que no Brasil impera a "politicalha".

'Toma lá, da cá'

FHC descreve nos diários personalidades e hábitos de políticos e empresários que estavam na linha de frente da política à sua época. Ele conta, por exemplo, que o hoje vice-presidente Michel Temer (PMDB), então deputado, deu declarações positivas sobre uma proposta de reforma administrativa, e que só depois entendeu o motivo.

"O Luís Carlos Santos me disse no caminho do Planalto para o Alvorada que o Temer precisa de um acerto pessoal, quer indicar alguém para a Portus [fundo de pensão]", inicia.

"Vê-se, pois, que junto com toda a sua construção jurídica, que é correta, ele quer também alguma achega pessoal nessa questão de nomeações. É sempre assim. Temer é dos mais discretos, mas eles não escapam. Todos têm, naturalmente, seus interesses."

O senador José Serra (PSDB-SP), ministro do Planejamento na ocasião é uma das figuras mais presentes no livro. Por diversas vezes, FHC demonstra enfado com a disputa ideológica que Serra travava com o então titular da Fazenda, Pedro Malan.

Num trecho em que trata do caso, FHC chega a dizer que os dois protagonizavam um "braço de ferro inútil".

Outro personagem recorrente é o ex-ministro Sérgio Motta (Comunicações), que morreu em abril de 1998.

Homem forte do governo, muito próximo a FHC e com contatos na imprensa, o ex-ministro é descrito como "espaçoso" pelo tucano em seu diário. "Nesses últimos dias fiquei atazanado, e mesmo amargurado, com a relação tão difícil entre mim, Serra e o Sérgio [Motta]", narra FHC.

Para o ex-presidente, "os inimigos dão menos trabalho". "Todo mundo sabe disso, mas é duro sentir na pele". Ele diz que é mais difícil lidar com o próprio grupo, porque não há distanciamento para "fazer o que deve ser feito". Na obra, o tucano também relata ter vivido um dilema pessoal quando começaram as articulações pela implantação da reeleição.

O tucano trata o tema como algo que foi levado a ele por aliados. "Tenho muito receio das consequências do instituto da reeleição no Brasil", narra. Depois, no fim do segundo ano de governo, o assunto se torna recorrente e FHC, ao tratar dele, explicita ter medo de que a mudança seja vista como algo para favorecê-lo pessoalmente.