18 Junho 2015
Um Vatileaks para o Papa Francisco. É a hipótese mais difundida, no Vaticano e não só, depois que, na tarde de segunda-feira, a revista L'Espresso violou o embargo ao publicar no seu sítio, na íntegra, o penúltimo esboço da nova encíclica de Bergoglio, dedicada à criação e intitulada Laudato si'. Um texto que saiu da Secretaria de Estado de Sua Santidade, três dias antes da sua difusão mundial.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 17-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nos sagrados palácios, há quem comece a suspeitar que o mandante seja aquela parte da Cúria Romana, sempre golpeada duramente pelo papa, que quer se opor à sua firme obra de limpeza.
Para acompanhar o texto da encíclica, há um comentário irônico do vaticanista da revista, Sandro Magister, imediatamente "suspenso por tempo indeterminado" pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
Um procedimento duro tomado pelo porta-voz vaticano, padre Federico Lombardi, que, em uma carta a Magister e ao diretor da L'Espresso, Luigi Vicinanza, defende que a publicação do esboço da Laudato si' "representa, evidentemente, uma iniciativa incorreta, fonte de forte desconforto para muitíssimos colegas jornalistas e de grave perturbação do bom serviço da Sala de Imprensa da Santa Sé".
Ao Fatto Quotidiano, Magister declara que "respeita em silêncio o procedimento tomado pelo padre Lombardi, não tendo nenhum motivo para contestar a sanção". O vaticanista rejeita firmemente "a sombra de um complô antipapal" por trás da publicação da encíclica ainda sob embargo, afirmando que "a decisão de publicá-la foi do diretor da L'Espresso, que conseguiu obtê-la não pelos canais oficiais, como a Sala de Imprensa da Santa Sé e a Livraria Editora Vaticana. A mim – conta ainda Magister –, só foi pedido para escrever algumas linhas de introdução, mas só posteriormente, quando o texto já estava pronto para ser posto na rede".
Mas por que romper o embargo? "O diretor – responde o vaticanista – só tinha medo de que a encíclica seria publicada por outros, porque circulavam muitas versões do texto, e ele queria ser o primeiro a divulgá-la".
No seu blog Magister, aos 72 anos e com uma longa carreira às costas, escreve, de modo zombeteiro, acompanhando a publicação da Laudato si': "Ei-la aqui. Apareceu de repente no site da L'Espresso nas horas meridianas da segunda-feira, 15 de junho, exatamente três dias antes do seu anunciado batismo público. O autor deste blog também se encontrou com ela diante da tela, totalmente inteira, desencavada sabe-se lá de onde, e, então, a acompanhou com algumas linhas de apresentação, para introduzi-la na sociedade como se convém".
Assim que o texto foi publicado no sítio pela revista, o padre Lombardi freou imediatamente os jornalistas credenciados permanentemente junto à Sala de Imprensa da Santa Sé. Mas o dano já foi feito. Mas resta a pergunta: é apenas um furo jornalístico ou se trata de uma sabotagem do documento mais importante de Bergoglio?
A suspeita, no Vaticano e não só, é de que se trata justamente de uma tentativa, no alvo, de aniquilar as passagens mais fortes e mais esperadas do texto do Papa Francisco, banalizando o documento inteiro a um Cântico das Criaturas do século XXI.
De fato, o texto de Bergoglio não é nada disso. Nele, ele afirma que o direito à propriedade privada não é "absoluto ou intocável", reitera o "não" à teoria de gênero e ao aborto, adverte o mundo contra o perigo de uma guerra química ou nuclear, analisa as mudanças climáticas e ataca a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20, que "emitiu uma ampla, embora ineficaz, Declaração Final" sobre a redução dos gases do efeito estufa, pede a solução da dívida externa e aponta o dedo contra o resgate dos bancos a todo o custo.
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Bergoglio e o Vatileaks da encíclica revelada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU