28 Janeiro 2011
Cerca de 5.000 indígenas do estado mexicano de Chiapas, sudeste do México, se reuniram para a sua despedida do bispo Samuel Ruiz, conhecido por sua intermediação no conflito zapatista e por sua defesa dos direitos dos mais necessitados.
A reportagem é da Agência Efe, 27-01-2011. A tradução é do Cepat.
Conhecido como "bispo dos pobres", Samuel Ruiz foi enterrado em uma celebração que reuniu milhares de pessoas na Catedral de San Cristóbal de las Casas, onde descansarão seus restos mortais.
Durante a concentração na praça principal em frente à igreja, o núncio apostólico Cristophe Pierre presidiu as exéquias em uma emotiva cerimônia que incluiu elementos autóctones que Ruiz adotou das culturas chiapanecas ao longo dos 40 anos em que esteve à frente da diocese.
Na cerimônia foram lidos textos bíblicos em línguas tzotzil, tzeltal, e realizadas petições em chol, tojolabal e zoque, as principais línguas originárias, além do quiché, da Guatemala.
Além disso, se fez soar o caracol, algo que se costumava tocar nas cerimônias nas comunidades.
No começo da cerimônia, o representante do Papa leu a nota de pêsames do Vaticano, assinada pelo cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado de Bento XVI, que recordou que o bispo, que morreu na segunda-feira, participou do Concílio Vaticano II.
No Concílio Vaticano II, realizado nos primeiros anos da década de 1960, foi a reunião em que nasceu a chamada Teologia da Libertação ou como a denominavam os bispos "a Igreja dos pobres", opção da qual Ruiz foi um destacado representante no México.
Em nome da Conferência do Episcopado Mexicano falou seu vice-presidente, Rogelio Cabrera López, arcebispo de Tuxtla Gutiérrez, que esteve acompanhado de cerca de 10 bispos, entre eles Alvaro Ramzzini, bispo de São Marcos, Guatemala, e amigo de Samuel Ruiz.
Cabrera destacou o trabalho de Ruiz García como a de "um promotor incansável da paz e uma voz clara da justiça", além de sua "liderança na promoção da paz e dos direitos humanos no México e em suas intervenções em nível internacional".
"A presença majoritária de indígenas é garantia de que o que fez em nome de Deus terá continuidade", disse o religioso.
Durante a missa se podiam ouvir sons da marimba chiapaneca, que acompanharam as orações e cânticos religiosos nas cinco diferentes línguas indígenas que integram a diocese e os testemunhos de amor para com quem batizaram de "Tatic", padre bom, em sua língua.
Também participou um indígena do povo Quiche, da Guatemala, que agradeceu o apoio do bispo aos mais de 40.000 refugiados guatemaltecos durante a guerra em seu país.
O pai-nosso foi rezado de maneira simultânea em espanhol, tsotsil, tzeltal, chol, zoque, tojolabal e outras línguas estrangeiras.
O atual bispo da diocese, Felipe Arizmendi, agradeceu ao seu antecessor "por ter tido consciência desde 1975 que quem não assume esta opção pelos pobres não tem lugar nesta diocese".
Recordou que o bispo, ordenado há 51 anos nesta mesma catedral onde foi mediador dos diálogos entre a guerrilha do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) e o governo mexicano, afirmava que é preciso esperar o "juízo final" para saber se sua vida foi verdadeiramente de serviço.
"Mas as intermináveis filas daqueles que quiseram dar-te seu último adeus em teu féretro nestes dois dias, sobretudo de tantos indígenas, mulheres e marginalizados, nos dão o juízo dos pobres, e nos demonstram claramente que foste luz e sal que tratou de dar sabor ao mundo", acrescentou Felipe Arizmendi.
Um dos sobreviventes do massacre de Acteal, em que morreram 45 pessoas em 1997, disse que sem o bispo os indígenas continuariam "escravizados e cegados pelo mau governo". "Agora já não caminhamos encurvados, já não baixamos a cabeça diante dos poderosos, graças Tatik", acrescentou.
Após a cerimônia, um grupo de familiares, colaboradores próximos e hierarcas religiosos ingressou na Catedral para depositar o féretro no lugar onde descansará para sempre.
Os milhares de indígenas concentrados na praça puderam observar dali toda a cerimônia através de um telão.
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Milhares de indígenas se despedem de seu "Titac’ Samuel - Instituto Humanitas Unisinos - IHU