19 Abril 2018
"Não há dilemas ou dúvidas de qualquer tipo quando se fala da necessidade de cooperação entre tecnologia, política, economia e religião. Enquanto esses poderes continuar a se ignorarem uns aos outros, nunca vão realmente trazer benefícios para a humanidade. Todos devem servir ao homem, sua liberdade, seu bem-estar, e devem trabalhar juntos para proteger sua dignidade. É com esse critério que deveriam ser avaliadas a identidade e a humanidade de uma civilização, não com base no nível alcançado por seu desenvolvimento tecnológico".
A informação é publicada por L'Osservatore Romano, 17/18-04-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Falando há alguns dias na conferência "O dilema do século: tecnologia contra política", organizado em Istambul pela Fundação Grupo Marmara, o patriarca ecumênico Bartolomeu, Arcebispo de Constantinopla, observou que, embora seja verdade que "ninguém pode negar as contribuições positivas devidas do progresso da ciência e da tecnologia" é igualmente verdade que "ninguém pode fechar os olhos sobre os numerosos aspectos negativos do ‘tecnopólio’”.
A tecnologia é “o grande poder do nosso tempo, serve com eficácia ao ser humano, previne e cura as doenças, prolonga a nossa existência, facilita a vida diária, a expansão do conhecimento e da informação”, mas - de acordo com o patriarca ortodoxo, citando o sociólogo estadunidense Neil Postman – “a tecnocracia contemporânea tomou a forma de ‘tecnopólio’, de completo domínio sobre todos os aspectos da vida, é a rendição da cultura à tecnologia”. Esta última "penetra na sociedade em todas as áreas, reforma a sociedade e impõe a sua lógica e suas soluções. O objetivo do tecnopólio é a adaptação ilimitada do indivíduo às exigências da tecnologia. O emblema do tecnopólio é o computador, que agora se tornou essencialmente o centro de nossa vida". Em vez de estar ao serviço do homem, a tecnologia tornou-se uma "deusa onipotente", que "pretende nossa submissão total à sua vontade e a toda ordem".
Em seu discurso, intitulado "Para além dos dilemas", Bartolomeu recorda que "os nossos maiores problemas não são de natureza técnica e não resultam de uma falta de informação. Violência, crime, fome, injustiça social, fanatismo e choque de civilizações não são causados pela falta de tecnologia nem podem ser enfrentados através da informática". Apesar dos progressos alcançados, "continuamos a nos preocupar com a liberdade em perigo, com as preciosas tradições perdidas, com o ambiente natural destruído". Agora mais do que nunca, "o ser humano possui tanto conhecimento e, simultaneamente, atua de maneira tão destrutiva contra o seu próximo e a natureza". É por isso que "é impossível chamar o imenso progresso tecnológico de hoje de verdadeiro progresso, quando a pessoa e a sua liberdade estão ameaçadas".
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Discurso do Patriarca Bartolomeu. Contra o tecnopólio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU