Por: Jonas | 01 Setembro 2015
O papa Francisco voltou, ontem, ao tema dos imigrantes que agora, realmente, parece preocupar toda a Europa e não apenas os países que os recebem, como Itália e Grécia. Ao meio-dia, falando como de costume da janela de seu apartamento com vista para a Praça de São Pedro, o Papa estimulou os governantes europeus a “cooperar com eficácia para impedir estes crimes que ofendem toda a família humana”. O Pontífice se referia em particular às 71 vítimas, todas migrantes, sobre as quais, até o momento, não se conhece a nacionalidade, encontradas em um caminhão frigorífico, na Áustria. Entre elas havia oito mulheres e quatro crianças. Mas, também a um segundo caminhão, detido na Áustria, no qual viajavam escondidos 26 migrantes, três deles crianças em graves condições de saúde devido à desidratação.
A reportagem é de Elena Llorente, publicada por Página/12, 21-08-2015. A tradução é do Cepat.
“Lamentavelmente, nesses últimos dias, muitos migrantes também perderam a vida nessas terríveis viagens. Rezo e convido para rezar por todos estes irmãos e irmãs”, disse Francisco, que no dia 19 de setembro parte em uma viagem que o levará primeiro a Cuba e, em seguida, aos Estados Unidos. Durante sua estadia nos Estados Unidos, Francisco falará ao Congresso estadunidense, em Washington, e depois à assembleia da ONU, em Nova York. Segundo o diretor do jornal La Repubblica de Roma, Eugenio Scalfari, que neste fim de semana disse que teve uma longa conversa telefônica com o Papa, o tema dos imigrantes será um ponto forte de seus discursos.
Fazendo eco deste e de outros pedidos de Francisco, sempre em favor dos migrantes, e para ir ao encontro, indiretamente, de alguns políticos de direita que criticam a Igreja porque não cuida dos migrantes, em uma carta aos fiéis, o arcebispo de Turim (norte da Itália), Cesare Nosiglia, pediu às famílias que hospedem ao menos um migrante por alguns meses, e às paróquias, cinco cada uma. Em geral, os migrantes são alojados em centros de recepção que atualmente não são suficientes.
Diante de tudo isso e da lista de refugiados mortos que não tem fim, tanto em mar – onde se registraram 2.400 mortes desde janeiro –, como em terra, a União Europeia (UE) começa a manifestar reais sinais de preocupação. Os ministros do Interior da França, Grã-Bretanha e Alemanha pediram uma reunião urgente da UE. Em uma declaração conjunta, os três ministros: Bernard Cazeneuve, da França, Thereza May, da Inglaterra e Thomas de Maizière, da Alemanha, destacaram a necessidade de tomar “medidas imediatas” e pressionam, ao mesmo tempo, para que sejam constituídos escritórios de registro de migrantes na Itália e na Grécia, desse modo, é possível identificar rapidamente os que pedem asilo. Segundo as leis internacionais atualmente vigentes, podem pedir asilo somente aqueles que são perseguidos ou vêm de um país em guerra. Quem escapa por fome ou miséria não pode gozar desse direito e seria deportado. Este critério está sendo posto em discussão por muitos especialistas em migrações. O próprio primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, está pedindo uma revisão de algumas destas normas ao solicitar um “direito de asilo europeu”. “A Europa deve deixar de se comover diante do que acontece e começar a se mover. Acabou o tempo dos minutos de silêncio. Eu espero que se escolha superar os acordos de Dublin (que regulam o direito de asilo em nível europeu) e que se crie uma política de imigração europeia, com um direito de asilo europeu. Esta será a batalha que deveremos encarar nos próximos meses”, disse Renzi em uma entrevista ao jornal de Milão, Il Corriere della Sera, publicada em sua edição dominical.
“Acredito que está emergindo a verdade sobre os migrantes – acrescentou -: não é um problema italiano sobre o qual se pode especular para se ganhar meio ponto nas pesquisas de opinião, mas, ao contrário, uma grande crise mundial e europeia que deve ser enfrentada em Bruxelas – sede principal da UE -, não em Lampedusa – a ilha italiana onde chegaram milhares de migrantes (...). As dramáticas imagens das crianças asfixiadas no caminhão (na Áustria), das crianças mortas nos sótãos dos barcos, dizem-nos que a Europa deve buscar uma estratégia”. Segundo Renzi, de qualquer forma, não basta apenas ter uma política europeia. “Não basta estancar a emergência, mas, ao contrário, é necessário ter um papel mais ativo na África e no Oriente Médio, investir mais na cooperação internacional, facilitar para que as pessoas possam voltar a seus países e impedir os traficantes de seres humanos para sempre. Este é o momento exato para lançar uma ofensiva política e diplomática”, concluiu. Segundo dados do Ministério do Interior italiano, em todo o ano de 2014, foram recebidos 63.500 pedidos de asilo. Apenas nos primeiros seis meses de 2015, o número chegou a 44.700, o que faz prever que esses pedidos duplicarão até o final do ano.
Neste contexto dramático, o secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, organizou um encontro especial no próximo dia 30 de setembro, em Nova York, por ocasião do início da assembleia geral anual da ONU. “O tema da imigração estará na agenda dos chefes de Estado e de governo que estarão em Nova York”, confirmou um porta-voz da ONU.
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Papa diz que crime contra os imigrantes ofende toda a família humana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU