17 Mai 2023
A 37ª Assembleia Geral Ordinária do Celam, realizada em Tegucigalpa (Honduras), de 13 a 18 de maio de 2019, marcou o início de um caminho de renovação e reestruturação do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam), em sintonia com a reforma da Igreja universal. O caminho percorrido foi apresentado no início da 39ª Assembleia Geral Ordinária do Celam, que se realiza em Porto Rico, de 16 a 19 de maio, sob o lema: "Colegialidade, eclesialidade e sinodalidade para a missão".
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
É um tempo em que o Celam quis responder com paixão aos desafios pastorais do continente, como pediu o Papa Francisco, dizendo: "se queremos servir a nossa América Latina a partir do Celam, temos de o fazer com paixão. Hoje precisamos de paixão. Temos de pôr o nosso coração em tudo o que fazemos".
A perspectiva eclesiológica foi a do Concílio Vaticano II, assumida nas cinco Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano e na Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. Um caminho marcado pela opção preferencial pelos pobres e pela preocupação com o cuidado e a defesa da "casa comum", que moldou o rosto de uma Igreja latino-americana e caribenha em saída, pobre para os pobres e samaritana.
Em Tegucigalpa, o Celam assumiu a necessidade de discernir e responder aos sinais dos tempos com parresia, através de sete convicções, que definiram o Celam como um organismo necessário e atual, de carácter subsidiário, em relação direta com as Conferências Episcopais, sendo uma escola de sinodalidade, com uma planificação mais adequada, com uma ampla oferta formativa através do Cebitepal.
Daí surgiram os nove princípios que orientaram o processo de renovação e reestruturação do Celam, em chave sinodal, colegial, de conversão integral, com voz profética, visão integradora, com impacto, sendo uma rede de redes, descentralizada e com sentido de pertença e acolhimento e contribuindo para o Magistério da Igreja.
Foto: Luis Miguel Modino
O núcleo central desta renovação tem a ver com a criação de quatro Centros Pastorais: Centro de Gestão do Conhecimento, que procura melhorar a capacidade da Igreja para analisar a realidade numa base científica, ouvir as pessoas e ajudar a fortalecer a sua voz profética no continente; Centro de Programas e Redes de Ação Pastoral, para articular redes territoriais e temáticas sobre ecologia, migração, mulheres, povos indígenas, povos afro e garífunas; Cebitepal, focado no campo da formação; e Centro para a Comunicação, para renovar e melhorar a capacidade comunicacional da Igreja no continente, bem como o seu impacto profético. Estes Centros Pastorais organizam as suas linhas de trabalho em três eixos que refletem os quatro sonhos expressos pelo Papa Francisco na Querida Amazónia.
O Celam ganhou em eficiência e qualidade, trabalho em rede, animação de processos, não eventos, colegialidade e sinodalidade, ampliando a participação do Povo de Deus, para superar a auto referencialidade e o clericalismo. Tudo isto é gerido pelo Comité de Coordenação e em aliança com diferentes organismos da Igreja no continente.
No que diz respeito à Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe, salientou-se que foi uma proposta do Papa Francisco, que pediu "uma iniciativa de carácter sinodal que, além disso, permitisse retomar e aproveitar a riqueza da Conferência de Aparecida", da qual disse que "ainda temos muito que aprender". O relatório recordou o processo desta assembleia, que decorreu entre 21 e 28 de novembro de 2021, no México, com a participação de 1.104 membros da assembleia, na sua maioria leigos e leigas, destacando o extenso processo de escuta, realizado num tempo marcado pelas limitações dos encontros presenciais impostas pela pandemia.
Como resultado, surgiram 41 desafios pastorais, agrupados em sete núcleos temáticos, fonte de trabalho para as comissões de apropriação a diferentes níveis. Isto refletiu-se no texto
"Para uma Igreja Sinodal em saída para as periferias", publicado em novembro de 2022. Uma assembleia que deve ser vista como "o início de um grande processo pastoral de revitalização da Igreja na América Latina e no Caribe".
Sobre o Sínodo 2021-2024, que tem como tema "Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação, missão", o relatório da Presidência do Celam sublinha que "desencadeou itinerários inusitados de escuta, diálogo e discernimento à luz do Espírito e ao ritmo de cada uma das fases previstas", procurando concretizar o convite do Papa Francisco a assumir com entusiasmo a aventura de "caminhar juntos". Um processo em que o Celam ofereceu total apoio e colaboração a cada um dos pedidos da Secretaria Geral do Sínodo, uma aliança reforçada na Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que se concretizou em alguns compromissos assumidos pelo Celam.
O que se destaca como a principal contribuição do Celam para o Sínodo da Sinodalidade é a organização e realização da Etapa Continental do Sínodo nas quatro Assembleias Regionais, nas quais foi privilegiado o discernimento comunitário através do método da conversa espiritual. Participaram mais de 400 pessoas e finalmente foi elaborado o Documento de Síntese Continental.
Foto: Luis Miguel Modino
A nova sede do Celam, iniciada em 2013 e que começou as suas obras em 2019, foi outro dos relatórios apresentados, relatando o processo realizado e o traçado arquitetônico da nova sede, inaugurada a 12 de julho de 2022. "Esta nova sede situa-se no contexto do processo de renovação e reestruturação do Celam, porque não pode haver novas estruturas se não houver uma renovação interior que as alimente e nutra", insistia a apresentação.
Um espaço que está "ao serviço das 22 Conferências Episcopais do continente e da Igreja latino-americana e caribenha que nos permite testemunhar uma Igreja em saída, mais sinodal, que assume os desafios deste tempo, oferecendo melhores serviços pastorais de forma integral".
Por fim, quis mostrar que "a opção pelos pobres e os mais vulneráveis do continente latino-americano e caribenho levou o Celam a assumir, durante o quadriénio 2019 - 2023, novos desafios na perspectiva da comunhão, da colegialidade e da sinodalidade". Entre eles está a colaboração com a Conferência Eclesial da Amazônia, a política de prevenção e cuidado do Celam, com a criação de uma comissão sobre o tema, em comunhão com as orientações e ações tomadas pela Igreja universal, seguindo as diretrizes do Sumo Pontífice.
Também os projetos do Fundo Populorum Progressio, um fundo criado por S. Paulo VI, "para ajudar os camponeses pobres e promover a reforma agrária, a justiça social e a paz na América Latina". Este deu lugar em 1992 à Fundação Populorum Progressio, considerada por São João Paulo II como "um gesto de amor da Igreja em solidariedade com os mais abandonados e necessitados de proteção, como os povos indígenas, mestiços e afro-americanos".
Em setembro de 2022, o Papa Francisco decidiu criar este fundo, confiando ao Celam a tarefa de ajudar na análise dos projetos e na sua implementação, continuando a trabalhar em conjunto com a Cúria Romana através do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que manterá a responsabilidade pela administração do fundo, que estará ligado ao serviço desta missão. O objetivo é continuar a "tornar visível a opção preferencial pelos mais pobres que caracteriza a Igreja na América Latina e no Caribe".
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Celam faz balanço dos últimos quatro anos: Igreja latino-americana e caribenha em saída, pobre para os pobres e samaritana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU