04 Abril 2023
Autoridades do santuário mariano mundialmente conhecido estão avaliando a remoção da proeminente obra de arte de Marko Rupnik, o artista jesuíta suspenso por abusar sexualmente de várias mulheres.
A reportagem é de Christophe Henning, publicada em La Croix International, 03-04-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O conselho consultivo do mundialmente conhecido santuário mariano de Lourdes, no sul da França, está avaliando o desmonte de vários mosaicos imponentes criados por Marko Rupnik, o jesuíta esloveno e abusador sexual em série.
A obra do padre Marko Rupnik pode parecer uma provocação, especialmente no principal santuário mariano da França, onde os bispos locais querem mostrar sua atenção às vítimas dos abusos sexuais clericais (Foto: José Luiz Bernades Ribeiro/Wikimidia Commons)
O padre e artista de 68 anos foi suspenso do ministério público desde fevereiro, depois que vários adultos relataram que haviam sido abusados sexualmente e/ou psicologicamente por ele.
Os icônicos mosaicos de Rupnik estão expostos no Vaticano e em mais de 200 igrejas e santuários em todo o mundo [como na Basílica de Aparecida]. Vários deles também adornam a fachada da basílica de Nossa Senhora de Lourdes, e os bispos franceses estão preocupados que a obra de arte possa ser uma provocação às vítimas de abuso sexual. A assessoria do santuário se reuniu no dia 27 de março para iniciar as discussões sobre como proceder.
Basílica de Aparecida inaugurada em 2022 a qual conta com 4 mil metros quadrados de mosaicos, é a maior obra realizada por Rupnik em todo o mundo (Foto: Robison Camargo / Wikimidia Commons)
Rupnik foi contratado para projetar os mosaicos para a Basílica de Lourdes em 2008, no 150º aniversário das aparições marianas. As peças ilustram os mistérios luminosos do rosário.
“Como toda obra de arte, eles são apreciados por alguns, menos por outros, mas a imensa maioria dos peregrinos e dos visitantes de Lourdes enfatizam sua beleza”, disse um comunicado março divulgado pelos responsáveis do santuário no dia 31 de março. Contudo, “a questão do status de suas obras e de seu futuro veio à tona”, continuou o comunicado.
“Levando-se em conta a especificidade do santuário de Nossa Senhora de Lourdes, a questão geral do status das obras de artistas envolvidos em situações de abuso assume aqui um caráter consideravelmente mais sensível”, disse o bispo Jean-Marc Micas, de Tarbes e Lourdes.
“Lourdes é um lugar onde muitas vítimas vão ao encontro da Imaculada Conceição em busca de consolo e cura. Sua angústia diante dos mosaicos de Marko Rupnik nesse mesmo lugar é grande e não podemos ignorá-la”, observou.
A questão, então, foi encaminhada ao conselho consultivo do santuário, assim como a seu reitor, Pe. Michel Daubanes. “Nós já sabemos, agora, que as vítimas devem estar no centro das nossas reflexões, e toda decisão será carregada de consequências”, disse Daubanes.
Um grupo de reflexão será criado em abril, reunindo o bispo e o reitor, além de pelo menos uma vítima, um especialista em arte sacra e um psicoterapeuta. A questão tem sido levantada em termos muito amplos, com o objetivo de reunir “os elementos necessários para tomar a melhor decisão”.
Entre as obras mais proeminentes de Rupnik está a Capela Redemptoris Mater, no Palácio Apostólico do Vaticano. Foi João Paulo II quem encarregou o artista jesuíta de refazer aquela que é considerada a “capela privada do papa”.
Enquanto isso, a Diocese de Versalhes, na grande Paris, cancelou recentemente uma encomenda assinada com Rupnik para projetar uma nova igreja já em construção na diocese.
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O que fazer com os mosaicos de Rupnik em Lourdes (ou em Aparecida)? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU