03 Abril 2023
“Uma triste realidade que nos interpela, nos questiona, a todos, profundamente, que não nos deixa tranquilos”, sublinhou o bispo de Ciudad Juarez, Dom José Guadalupe Torres Campos, celebrando a missa em memória dos 39 migrantes que morreram na noite de 27 de março, por volta das 22h, devido a um incêndio ocorrido em um centro provisório do Instituto Nacional de Migração (INM), no estado de Chihuahua, na fronteira entre o México e os Estados Unidos.
A reportagem é publicada por Agência Fides, 30-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O bispo sublinhou a necessidade da conversão, de mudar, colocando no centro a pessoa humana e a sua dignidade. “Salvar a pessoa, ver a pessoa, um migrante e um refugiado são pessoas, não são um número ou uma estatística, mas uma pessoa, um filho de Deus, e devemos tratá-los como pessoas, com dignidade, com respeito, com amor”, reiterou o bispreligiosoo.
Dom José insistiu na necessidade da conversão: “Devo me converter, eu em primeiro lugar, todos devemos nos converter, mudar a nossa mentalidade, as nossas atitudes (...) não sermos egoístas que buscam apenas os próprios interesses, de qualquer tipo, ideológicos, políticos, individuais, comerciais, pessoais (...) Devemos mudar, nos converter!”. Depois, exortou a olhar para “Jesus que é luz, é vida, é salvação, devemos contemplá-lo, imitá-lo, segui-lo”.
Respondendo às perguntas dos jornalistas, o bispo de Ciudad Juarez destacou a urgente necessidade de um projeto conjunto a ser levado em frente sobre esse tema e de uma mudança da política migratória do governo federal, a quem compete essa matéria.
Depois, afirmou a solução da regularização, “sempre respeitando os migrantes, que são pessoas”. “Todos somos corresponsáveis por essa situação – acrescentou –, por indiferença, por omissão, por ação...”.
Segundo as notícias recolhidas pela Agência Fides, os trágicos fatos ainda estão sendo investigados pelas autoridades. Para protestar contra sua transferência, alguns migrantes detidos teriam começado a provocar um motim, queimando alguns colchões, mas o incêndio teria saído do controle rapidamente, provocando a morte de 39 pessoas e outros 29 feridos, dos quais cerca de 12 ainda estão na UTI.
A maioria dos migrantes mortos eram homens de nacionalidade venezuelana. No centro, encontravam-se 68 migrantes de diferentes nacionalidades, em processo de recolocação. Os migrantes morreram em consequência da intoxicação pela fumaça, enquanto algumas testemunhas afirmam que os guardas teriam se recusado a abrir as portas.
Os promotores mexicanos comunicaram que identificaram oito suspeitos, considerados responsáveis por esses trágicos eventos. Cinco deles seriam seguranças da estrutura. O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, disse que os responsáveis serão punidos “em conformidade com a lei”, garantindo transparência nas investigações e “nenhuma impunidade” para os responsáveis pela “dolorosa tragédia”.
Os bispos da fronteira Texas-México lamentaram o ocorrido e pediram “a segurança dos irmãos migrantes, oferecendo-lhes sempre um tratamento digno e humano”. A rede eclesial latino-americana e caribenha para as migrações, as pessoas deslocadas, os refugiados e o tráfico de pessoas, manifestou sua “proximidade eclesial, para que o direito de migrar, assim como o de não migrar, seja respeitado em todos os seus extremos e sejam atendidas as condições mínimas para uma migração em que prevaleça o respeito pela dignidade humana, e que caiam as correntes que privam da liberdade os homens e as mulheres forçados a migrar”.
Na Audiência geral do dia 29 de março, ao saudar os peregrinos de língua espanhola, o Santo Padre Francisco os convidou à oração com estas palavras: “Rezemos pelos migrantes que morreram ontem em um trágico incêndio em Ciudad Juárez, no México, para que o Senhor os acolha em seu Reino e conforte suas famílias. Rezemos por eles”.
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México. Migrantes morrem em incêndio em Ciudad Juarez: “Uma triste realidade que nos interpela profundamente”, afirma o bispo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU