28 Fevereiro 2023
No dia 26 de fevereiro, uma embarcação de madeira se partiu e naufragou no litoral da Calábria. Os mortos recuperados foram pelo menos 62. Poderia haver centenas, incluindo 12 crianças e um recém-nascido.
A reportagem é de Annalisa Camilli, publicada por Internazionale, 27-02-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O naufrágio ocorreu em Steccato di Cutro, perto de Crotone. O barco transportava pelo menos 150 pessoas e partira quatro dias antes de Izium, na Turquia.
De acordo com o que foi reconstruído em um comunicado da Guarda de Finanças, a embarcação teria sido avistada por um avião da Frontex na noite anterior ao naufrágio, no sábado, por volta das 22h30.
Para Sergio Scandura, da Radio Radicale, 16 horas antes do avistamento da Frontex, o centro de operações da Guarda Costeira italiana havia emitido um alarme, mas sem dar as coordenadas do avistamento.
De acordo com Scandura, a partir do comunicado da Guarda de Finanças, parece que os náufragos foram tratados como migrantes irregulares, e, portanto, uma operação policial havia sido realizada, não uma verdadeira operação de resgate. Uma mudança de abordagem em relação ao passado, quando veículos de socorro da Guarda Costeira e da Guarda de Finanças frequentemente intervinham no trecho da costa da Calábria, mesmo a muitos quilômetros da costa.
A embarcação provavelmente atingiu uma rocha, porque os sobreviventes não apresentavam sinais de queimaduras, segundo a equipe do Médicos Sem Fronteiras que os está atendendo. Alguns foram internados no hospital de Crotone, outros no centro de primeiro acolhimento (Cara).
Os sobreviventes contaram que partiram da Turquia, percorrendo uma rota que foi reativada há alguns anos e representa 15% das chegadas na Itália: a rota que parte da Turquia e chega à Calábria.
Uma tragédia dessas dimensões não ocorria no litoral italiano desde 2013, ou seja, antes da missão de busca e salvamento Mare Nostrum. O ministro do Interior, Matteo Piantedosi, visitou a praia onde ocorrem as buscas pelos corpos e concedeu uma coletiva de imprensa, na qual falou da necessidade de parar as partidas e definiu como “vocação à partida” o fato de as viagens não pararem apesar do inverno e das más condições do mar.
Trata-se de um massacre que infelizmente era amplamente previsível, porque o tempo piorou, enquanto as partidas da Turquia, da Tunísia e da Líbia nunca pararam, nem mesmo em pleno inverno, apesar da militarização do Mediterrâneo, dos acordos com Trípoli e Ancara, e da ausência de navios de resgate.
Agora, não há mais ninguém para socorrer, como consequência da campanha de criminalização que ocorre desde 2017 e que se agravou ainda mais com a última lei anti-ONGs aprovada em 23 de fevereiro pelo governo Meloni.
Nesse caso, é preciso esclarecer por que a Guarda Costeira não interveio na busca da embarcação, apesar de ela ter sido avistada horas antes.
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O maior naufrágio desde 2013 no litoral italiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU