11 Outubro 2022
“A exclusão dos migrantes é repugnante e criminosa”. A proteção de quem é obrigado a emigrar está no centro do pontificado de Francisco desde a primeira hora. Mas nos numerosos apelos - muitas vezes muito fortes e diretos - para acolher, proteger, promover e integrar os imigrantes, o Papa nunca havia chegado a uma denúncia com palavras duríssimas como as pronunciadas no domingo no adro da Basílica de São Pedro.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 10-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O pontífice presidiu a missa de proclamação de dois santos: Giovanni Battista Scalabrini (1839-1905) e Artemide Zatti (1880 - 1951). O primeiro fundou os Scalabrinianos, congregação que atende os migrantes. Zatti, salesiano, foi ele próprio um migrante: mudou-se com a família da Itália para a Argentina.
Bergoglio recordou muitas vezes nos últimos anos que houve um tempo em que foram os italianos - como sua família - que aos milhares deixaram suas terras em busca de salvação e fortuna; hoje, ao contrário, aqueles que abandonam o seu país de origem, vindos das zonas mais pobres do mundo, muitas vezes chegam à península italiana. Durante a homilia de ontem acrescentou expressões "de improviso" nada usuais:
"A exclusão dos migrantes é escandalosa! Aliás, a exclusão dos migrantes é criminosa, faz com que morram diante de nós”. E assim, hoje "temos o Mediterrâneo que é o maior cemitério do mundo".
Ele pontua: "A exclusão dos migrantes é repugnante, é pecaminosa, é criminosa". E depois descreve uma cena imaginária: “Não abrir as portas a quem precisa. ‘Não, nós não os excluímos, nós os mandamos embora’: para os campos de concentração, onde são explorados e vendidos como escravos. Irmãos e irmãs - é o seu pedido sincero - hoje pensamos nos nossos migrantes, nos que morrem”. E depois convida a uma reflexão:
“Aqueles que conseguem entrar, os recebemos como irmãos ou os exploramos? Deixo a pergunta, só isso”. Bergoglio exorta cristãos e não cristãos a eliminar os muros que separam e cita os dois novos santos:
Scalabrini “olhava além, olhava adiante, para um mundo e uma Igreja sem barreiras, sem estrangeiros. Por sua vez, o irmão salesiano Artemides Zatti, com sua bicicleta, foi um exemplo vivo de gratidão: tendo se curado de tuberculose, dedicou sua vida a gratificar os outros, a curar os doentes com amor e ternura”. Conta-se que “foi visto carregando nos ombros o corpo morto de um dos seus doentes.
“Cheio de gratidão pelo que havia recebido”, destaca o Papa, “quis expressar o seu ‘obrigado’ cuidando das feridas dos outros. Dois exemplos”, assim os define. O caminho a percorre pela questão da migração, Francisco já o havia indicado numa entrevista ao La Stampa: “Devem ser seguidos alguns critérios. Primeiro: receber, que também é tarefa cristã, evangélica. As portas devem estar abertas, não fechadas. Segundo: acompanhar. Terceiro: promover. Quarto: integrar”.
Ao mesmo tempo, “os governos devem pensar e agir com prudência. Quem administra é chamado a pensar em quantos migrantes podem ser acolhidos”. E se o número for superior às possibilidades, “a situação pode ser resolvida por meio do diálogo com os outros países”.
Recentemente, respondendo a uma pergunta sobre a vitória da centro-direita nas eleições italianas, o cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, afirmou: “Se alguém está em dificuldade no meio do mar, é moralmente e humanamente obrigação ajudar e não tornar as coisas mais difíceis”.
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Migrantes. O anátema do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU