12 Agosto 2022
O Papa Júlio II teve Michelângelo e Rafael. O Papa Francisco tem Timothy Schmalz.
No mesmo sentido que os artistas renascentistas do século XVI deixaram uma marca indelével no Vaticano por seus trabalhos que ainda comunicam séculos depois, nos anos recentes, esse foi o trabalho de Schmalz, um escultor canadense, que tem assumido as mensagens do papado de Francisco e as cinzelado de forma permanente.
A reportagem é de Christopher White, publicada por National Catholic Reporter, 01-08-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Papa Francisco abençoa escultura de bronze “Maria, a Desatadora de Nós”, de Timothy Schmalz, em seu segundo dia no Canadá, enquanto visitava o Lago Ste. Anne, o local de peregrinação mais popular para os povos indígenas na América do Norte. A escultura ficará instalada permanentemente lá.
Foto: Timothy Schmalz concedida ao National Catholic Reporter
Há um ano, Schmalz estava dando toques finais no novo trabalho inspirado por uma das devoções favoritas do Papa Francisco à Maria: a Desatadora de Nós.
Quando Schmalz escutou que o Papa Francisco estava planejando visitar seu país natal, ele abordou os bispos canadenses com imagens da sua nova escultura de bronze.
Essas imagens foram enviadas para o Vaticano e, conforme Schmalz, foi Francisco quem disse que ele queria dá-la como um presente permanente aos povos indígenas do Canadá durante sua visita.
Em certo aspecto, Schmalz se tornou o escultor do papado de Francisco.
Em 2019, sua escultura de bronze de 6 metros Angels Unawares, que retratava migrantes e refugiados amontoados a bordo de um barco fugindo da guerra, perseguição, escravidão e outros males sociais, encontraram casa na Praça São Pedro.
A escultura, a primeira instalada na Praça São Pedro em muitos séculos, tornou-se a favorita instantânea dos peregrinos que atravessam a icônica praça, e agora as réplicas percorreram o mundo.
Desde então, Schmalz passou a criar esculturas de tráfico de pessoas, que Francisco lamentou como uma forma moderna de escravidão, e os nascituros, muitas vezes descritos por Francisco como vítimas da “cultura do descarte”.
E no segundo dia do papa no Canadá, enquanto visitava o Lago Ste. Anne, o local de peregrinação mais popular para os povos indígenas na América do Norte, o papa abençoou a mais recente de Schmalz: Maria, a Desatadora de Nós, que será instalada permanentemente lá.
A imagem, baseada em uma devoção mariana popular e em uma pintura barroca que retrata Maria desatando nós individuais, foi muitas vezes invocada por Francisco em tempos de dificuldade e crise e quando a ajuda divina é necessária para ajudar a desfazer situações difíceis.
A escultura de bronze “Maria, a Desatadora de Nós”, de Timothy Schmalz. Foto: Timothy Schmalz concedida ao National Catholic Reporter
Schmalz disse ao NCR que, em sua opinião, não há símbolo melhor para a atual corda bamba que o Papa Francisco está caminhando na tentativa de corrigir erros históricos, pedindo desculpas aos povos indígenas no Canadá por abusos em escolas residenciais administradas pela Igreja Católica.
Na escultura de bronze de Schmalz, Maria está atrás de um globo, desatando uma cadeia de nós ao redor do mundo.
“É um retrato de seu coração”, disse Schmalz, referindo-se a Francisco. “É isso que ele está fazendo, viajando pelo mundo para estar aqui”.
A escultura captura Maria não olhando para fora, mas olhando – com a testa franzida – diretamente para os nós.
Schmalz diz que vê isso como um paralelo para o que o papa está fazendo em sua turnê de uma semana aqui “olhando diretamente para os problemas históricos da Igreja” e tentando corrigi-los.
“Tudo sobre a peça é de imperfeições frágeis e humanas e elas precisam ser tratadas e corrigidas”, acrescentou.
Francisco, que deixou o Canadá em 29 de julho para retornar a Roma, disse repetidamente durante sua visita que o trabalho de reconciliação da Igreja com os povos indígenas está apenas começando.
Schmalz disse que espera que sua escultura ajude nesse processo, dizendo que se o papa pode se desculpar pelos pecados históricos da Igreja, os católicos comuns também podem em suas próprias vidas.
Ele espera que, quando a escultura for instalada permanentemente, inclua fitas e nós reais que os indivíduos possam desfazer enquanto viajam para o Lago Ste. Anne e rezar.
“Sinto que sou um soldado artístico do Papa Francisco”, admitiu Schmalz. “E esse é um ótimo tipo de soldado. Precisamos desses símbolos por aí”.
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O escultor que ajudou o Papa Francisco a “desatar nós” no Canadá - Instituto Humanitas Unisinos - IHU