26 Julho 2022
“Os católicos alemães não estão decidindo por conta própria um novo modo de agir na Igreja local; eles estão apresentando propostas que são humanamente argumentadas e teologicamente fundamentadas, que estão oferecendo à consideração do papa.”
O comentário é de Blandine Ayoub, publicado em Garrigues et Sentiers, 22-07-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
[...] Graças aos relatos de Jérôme Vignon, observador francês e representante da Promesses d’Eglise, podemos comunicar as várias etapas do Sínodo alemão, que realizou a sua terceira reunião plenária nesta primavera [europeia], em um clima agitado: os leigos alemães pediram que as autoridades eclesiásticas finalmente lhes digam a verdade, sobretudo sobre os abusos sexuais; por sua vez, o Papa Francisco desconfia desse Sínodo, independente do “dele”, e de práticas demasiadamente... democráticas.
O bispo Georg Bätzing, que o preside junto com uma leiga (!), parece ser um modelo de diplomacia, pois conseguiu a criação de um órgão encarregado de garantir que o Sínodo alemão não pegue de surpresa toda a cristandade proclamando os seus resultados e as suas recomendações antes de qualquer outra pessoa, mas se uma ao processo sinodal mundial e ao seu ritmo, mantendo a dupla confiança, dos católicos alemães e do papa.
Graças ao seu modo exemplar de atuação, foram adotados três textos principais com uma grande maioria (dois terços dos bispos): o texto de orientação geral, intitulado “Caminho de conversão para a renovação da Igreja”, que explica sob que condições os “sinais dos tempos” podem ser considerados como fonte teológica, junto com a Escritura, a Tradição e o ensinamento magistral da Igreja, e como a Igreja pode se reformar na Alemanha sem tocar no direito canônico; um texto intitulado “Distribuição do poder e da decisão”, que evoca a noção de corresponsabilidade diante do autoritarismo anacrônico das instituições eclesiais católicas no nosso mundo contemporâneo, e como corolário um texto que propõe uma modalidade de consultar os leigos para a designação dos bispos; por fim, um texto sobre o lugar das mulheres e a sua igual dignidade no anúncio do Evangelho e, portanto, nas funções e nos ministérios da Igreja – um voto que parece ter sido longamente aplaudido.
Além disso, foram votados três textos aplicativos sobre o tema “A vida do padre hoje”: um propunha a abertura de outras opções em relação ao celibato obrigatório; outro tratava da dupla formação pessoal e profissional dos membros do clero, em particular dos bispos; o terceiro abordava a prevenção aos abusos sexuais.
Quanto à vida de casal, para a qual quatro textos são propostos à votação, há tensões palpáveis entre quem pede apenas mais explicações da doutrina da Igreja e quem pensa que as propostas da Humanae vitae ou as afirmações sobre a homossexualidade são simplesmente incompatíveis com a vida das “pessoas reais”; os textos votados são um pedido argumentado ao papa para rever a doutrina da Igreja sobre esses temas – como diz o cardeal Marx, a quem agradecemos por existir: “O Catecismo católico não é o Alcorão”.
Jérôme Vignon, nos eu relato, diz estar maravilhado com a criatividade que emerge a partir das discussões, da escuta respeitosa e do modo como todas as propostas são defendidas com base em fundamentos teológicos e evangélicos.
Agora será importante que esses progressos dinâmicos do Sínodo alemão não causem tensões no Vaticano ou na Igreja universal: na minha opinião, esse trabalho é vantajoso para todos, porque o modo como estão organizados os debates, a participação dos bispos, as altas porcentagens com que as propostas são adotadas dão uma legitimidade certa a esse trabalho titânico, que de modo algum pode ser considerado como um capricho de alguns poucos leigos entusiasmados.
Além disso, os católicos alemães não estão decidindo por conta própria um novo modo de agir na Igreja local; eles estão apresentando propostas que são humanamente argumentadas e teologicamente fundamentadas, que estão oferecendo à consideração do papa. Como eles escolheram incluir a sua abordagem alemã específica no caminho sinodal comum aberto por Francisco, esperamos que o papa leve em conta essas ricas reflexões, possibilitadas pela extraordinária eficiência dessa Igreja próspera e organizada, na qual os leigos há muito tempo sabem existir e tomar a palavra.
Obrigado a eles pelo seu trabalho, wirklich, vielen Dank!
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“O Sínodo Alemão abre o caminho para nós” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU