21 Junho 2022
Duas expressões, quando na Itália se fala de natalidade, traem o vício cultural que enfraquece a maioria das tentativas de enfrentá-la e resolvê-la. Estas são as expressões: não somos um país para mães; temos que conciliar maternidade e trabalho. Este é o vício (facilmente dedutível): os filhos são um ônus materno. Um vício que deriva de uma estrutura precisa e robusta, perfeitamente coincidente com a nossa estrutura social, patriarcal e familiarista.
Nada de novo. Nunca avaliamos, porém, como essa distorção sistêmica também possa produzir outros vícios, induções culturais, o primeiro dos quais é a ideia de que ter filhos não implica apenas uma renúncia, mas, de fato, seja uma renúncia. Por mais reacionário que possa parecer, muitas mulheres, mesmo que queiram, estão cada vez menos dispostas a escolher entre trabalho e família: esse é o dado mais interessante da pesquisa sobre maternidade e trabalho realizada pelo Freeda, o portal online voltado para as novas gerações (Z e millennials: na faixa dos vinte aos trinta anos) que trata de temas femininos e feministas. 77% das entrevistadas (todas mulheres entre 25 e 34 anos, em sua maioria trabalhadoras e vivendo em casal) acreditam que as mães são obrigadas a escolher entre ter uma família e uma carreira e, sobretudo, 40% delas jamais renunciariam ao trabalho dos sonhos para ser mãe.
A reportagem é de Simonetta Sciandivasci, publicada por La Stampa, 16-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ainda somos o país que lê, nesta última não vontade, uma forma de cinismo, um impiedoso individualismo? Em parte sim, e não por carolismo, mas porque o autossacrifício é para nós uma condição sine qua non para muitas coisas: aprendemos (ou nos foi ensinado, ou inculcado) que opor-se a isso significa considerar-se absolutos no sentido latino, isto é, dissolvidos de qualquer obrigação, de qualquer limite. Essa visão sacrificial da vida certamente tem a ver com o catolicismo, mas, por mais paradoxal que possa parecer, é também um dos resultados da combinação disposta por capitalismo e coação ao otimismo, ao sucesso: sacrifique-se e terá tudo; sacrifique-se e vencerá a todos, inclusive a você mesmo.
Em "Sociedade do cansaço", Byung-chul Han descreve a pessoa deprimida de nosso tempo como alguém que perde a luta contra si mesmo, fracassa em se adequar à regra de "querer é poder" e, portanto, experimenta um distanciamento dos outros e uma rejeição de si insuperável. No NÃO das mulheres em escolher entre trabalho e carreira, ao contrário, existe uma recusa vitalista: um não vivo e seco tanto a ter que se sacrificar quanto a ter que ser uma excepcional mulher maravilha. E de fato isso não é dito por mulheres que pertencem à geração das "grandes renúncias", do trabalho que se inventa e se faz no sofá, do escritório em casa: todas micro-revoluções para privilegiados, claro, que porém dizer algo sobre a redução drástica da disposição à autoanulação para fins nobres. Reconduzir as coisas de volta a uma medida de simples normalidade: trabalhar sem morrer por isso, constituir família sem se anular.
A outra característica da pesquisa do Freeda é o pedido de licença parental compartilhada: 66% das jovens acreditam que as atualmente em vigor sejam demasiado curtas, penalizantes e também pouco inclusivas (20% desses 66% denunciam que os casais LGBTQ+ com filhos são excluídos de qualquer forma de tutela da parentalidade); 74% acreditam que uma licença parental paterna mais longa e bem retribuída contribuiria para uma repartição equitativa da responsabilidade familiar.
O sociólogo Domenico De Masi disse recentemente a este jornal que, dado que na Itália todos trabalhamos mais do que deveríamos (porque perdemos muito tempo e porque somos teimosamente convictos de que a qualidade de um trabalhador seja diretamente proporcional ao tempo que ele passa na mesa de trabalho), será muito difícil que os homens (do gênero masculino) aceitem, caso a lei lhes permitir, ausentar-se do escritório para cuidar dos seus filhos recém-nascidos. Temos certeza de que isso também se aplica para os homens na faixa dos vinte e trinta anos, cujas companheiras, pelo menos nesta pesquisa, dizem ter certeza de que podem contar com seu apoio?
Conhecemos realmente a geração que está se candidatando a construir as famílias do futuro?
Está quase totalmente ausente, nos resultados do Freeda, aquela "carga mental" que as mulheres sempre atribuíram a si mesmas porque sempre lhes foi implicitamente atribuído (um livro de alguns anos atrás contava isso perfeitamente: Bastava chiedere di Emma, ed. Laterza): o peso da gestão e do planeamento doméstico, tanto a plano prático como no plano emocional e relacional. E é esta outra indisponibilidade a esse outro sacrifício que, em vez de desmanchar a família, talvez consiga finalmente remodulá-la e colocá-la no plano em que a lei da nova lei de família de 1975 (vocês entendem, de 1975!) a colocou: a partilha dos ônus. Andrea Scotti Calderini, CEO e cofundador do Freeda, disse: "A comunidade do Freeda nos parece muito preocupada com o fato de que a maternidade possa representar um degrau quebrado, um momento de desvantagem competitiva em relação aos colegas".
A maioria das jovens de vinte/trinta anos consultadas nessa sondagem, mas também em geral (sabemos isso pelos números), querem ter filhos mas temem o rebaixamento e o empobrecimento. Em dezembro de 2021, 42% delas contaram que lhes foi perguntado, durante uma entrevista, se pretendessem ser mães. É um número bastante chocante.
Por fim, há mulheres que não querem filhos: como tentamos contar neste jornal, a maioria não os quer porque não os quer (31% das entrevistadas não os quer: 61% das quais se diz feliz assim como está, em solitária produtiva não casta existência). Significa, portanto, que este país ainda pode contar com uma geração que deseja se reproduzir e que demonstra um novo, humaníssimo, heroísmo: a impermeabilidade à péssima qualidade de quem administra seu futuro. Eu proporia não abusar.
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Não nos façam escolher entre trabalho e filhos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU