2º domingo de Páscoa – Ano A – Subsídio exegético

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Por: MpvM | 14 Abril 2023

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.

Leituras do dia

1ª Leitura: At 2,42-47
Salmo: 118,2-4.13-15.22-24
2ª Leitura: 1Pd 1,3-9
Evangelho: Jo 20,19-31

O Evangelho

Pode-se dividir o texto em três partes:

1) Experiência do Ressuscitado (vv,19-23)

A comunidade se reunia no domingo (1ºdia) de tarde para a celebração, quando no mundo judaico já seria o segundo dia. Embora se tratasse de uma Igreja medrosa, pois estava com portas fechadas, é neste ambiente de discípulos que se reúnem no primeiro dia, que o Ressuscitado se manifesta. Ele está presente, não mais na forma física, pois passa pelas portas fechadas; Porém, ao mostrar as chagas atesta ser o mesmo que passou pela cruz. Deseja a paz e agora que a fé está madura, começa a missão: “como Pai me enviou, eu vos envio”. O enviado necessariamente deve ter experiência do Cristo Ressuscitado. Para tanto, os discípulos são batizados no Espírito. O sopro que lembra a criação (Gn 2,7; Ez 37). O Espírito vem do sopro de Jesus e recria a comunidade dos apóstolos para a missão. Eles têm, no Espírito, o poder de perdoar e reter os pecados. Trata-se de anunciar e denunciar, mas também de receber de volta na comunidade de fé aquelas pessoas que se afastaram de Jesus, o que na concepção joanina é o verdadeiro pecado.

2) Tomé e a crise de fé (vv.24-29)

Todos os discípulos tiveram crise de fé, não apenas Tomé. Pode-se perceber isto em Mc 16,14, quando o Ressuscitado lhes censura a incredulidade. Em Mt 28,17 se afirma que, diante do Ressuscitado, alguns tiveram dúvidas e em Lc 24,38 se esclarece que, novamente Jesus questiona o porquê da perturbação diante da ressurreição.

Em Jo 20,24-29 está um retrato falado das comunidades cristãs do período pós-pascal, entre fiéis que não conheceram o Jesus histórico. Muitos se questionavam: ele de fato está vivo? O evangelista ilustra as dúvidas das comunidades na pessoa de Tomé. Este, como tantos outros, não acreditava no testemunho da comunidade que se reunia no primeiro dia. Queria ver e tocar. João, através do relato de Tomé, mostra que a experiência do Ressuscitado é feita na comunidade que se reúne e celebra no primeiro dia da semana: domingo (vv.19.26). É lá que a fé amadurece e se solidifica. Trata-se de uma Igreja reunida, mas medrosa, pois as portas estão fechadas. Ainda não é uma igreja em saída. O Ressuscitado lhe traz a paz e envia seus membros para dar continuidade à sua missão. Estar em comunidade, no primeiro dia é fundamental para crer na ressurreição e ir em missão. Tomé não estava na comunidade, por isto teve de esperar mais oito dias, portanto, novamente no primeiro dia e estar com a comunidade, para enfim, fazer a experiência de fé que os demais já haviam feito uma semana antes.

Mais do que pensar em Tomé, convém aqui pensar nos leitores do quarto evangelho, dos anos 90. O texto quer conscientizar que é preciso crer sem ter visto, mas para isto, duas coisas são necessárias: a comunidade e a celebração no primeiro dia. É neste ambiente que os discípulos, assim como Tomé, encontrarão o Cristo Ressuscitado. É neste contexto que Tomé faz a grande profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus”. Na comunidade celebrativa se professa o Ressuscitado como o Senhor e Deus. Tomé, como os cristãos das comunidades joaninas, devem passar do ver, para o crer sem ter visto.

3) Epílogo (30-31)

É provavelmente a conclusão original da obra de João, antes do acréscimo do capítulo 21. Apresenta a ação de Jesus, para que a comunidade creia e receba a vida eterna.

Relacionando com as outras leituras

At 2,42-47: A experiência do Ressuscitado foi a base de uma nova sociedade. Ou seja, ela transformou a vida dos fiéis. Por isto mesmo, os que acreditavam eram assíduos ao ensino dos apóstolos (palavras de Jesus, a base doutrinal), à comunhão fraterna (partilha dos bens), à fração do pão (refeição, eucaristia) e às orações (celebrações).

Os que faziam a adesão ao Cristo Vivo, nas comunidades pós-pascais se transformavam em novas criaturas. Por isto mesmo, os de fora, vendo a vida exemplar, na alegria da partilha, da fé e da oração, se sentiam contagiados a também viver este modelo. Foi assim que a comunidade exercia seu zelo missionário: fé e exemplo de vida.

1Pd 1.3-9: A carta nos lembra que a identificação dos fiéis com Cristo, na sua entrega por amor ao Pai e ao próximo nos leva à ressurreição. Os discípulos são exortados a viver com esperança mesmo em meio às dificuldades da vida, contemplando a salvação definitiva que virá.

A ressurreição de Jesus nos tornam homens e mulheres novos. A fé é o requisito para tornar real esta verdade. Os problemas dos leitores de 1Pedro são muitos, mas, contemplando o Ressuscitado, eles têm a promessa da vitória: “nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe” (1Pd 1,3). Isto, mediante a fé num Ressuscitado que eles não viram, como Jesus disse a Tomé: “felizes os que creem sem ter visto” (Jo 20,28b).

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