Advento: "Concretude para não ser mentirosos"

Foto: Carlos Daniel | Cathopic

07 Dezembro 2023

"Na reflexão sobre o nascimento do Príncipe da paz, na semana do Advento, há quatro anos, o Papa explicou como podemos exercitar as virtudes: 'Não lançar o primeiro tiro de canhão'".

O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestre em Filosofia pela Unisinos.

"Hoje mesmo a sua voz segue ressoando em nossos ouvidos", disse São Máximo de Turim, no século V, na reflexão sobre o anúncio de João Batista. Convém observar que o anúncio deste eremita, modelo da vida ascética cristã, não foi apenas retórico; ao contrário, prático: "Assim surgiu João, batizando no deserto e pregando um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados." O anúncio e a prática concreta lembram as palavras do Papa Francisco:

"Concretude para não ser mentirosos. Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo a ponto de nos perdoar: nos perdoa quando somos concretos. É tão simples a vida espiritual, tão simples, mas nós a complicamos com todas essas nuances, não? E ao final nunca alcançamos a meta. Peçamos ao Senhor a graça da simplicidade."

Na entrevista que concedeu aos 83 jesuítas do Congo e Sudão do Sul em fevereiro deste ano, o Papa Francisco disse algumas coisas que reafirmam o comentário anterior, além de ressaltar um aspecto fundamental: "A Igreja não é uma multinacional da espiritualidade". Quando perguntando sobre "Qual é a missão que o senhor atribui à Companhia hoje?", respondeu: "Estou de acordo com as Preferências Apostólicas Universais que a Companhia elaborou. Elas consistem, em primeiro lugar, em mostrar o caminho para Deus através dos Exercícios Espirituais e do discernimento". Para quem nunca leu os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, é importante frisar que eles não visam o discernimento num sentido secular e completamente esvaziado de sentido espiritual.

A obra inicia com 20 orientações acerca dos exercícios, cuja finalidade é contribuir para a tomada de "alguma inteligência" para aqueles que se dispõem a este caminho. A primeira anotação explica a natureza dos exercícios, a quarta, retoma o ponto sublinhado por Francisco:

"Primeira anotação: Por este nome, exercícios espirituais, entende-se todo o modo de examinar a consciência, de meditar, de contemplar, de orar vocal e mentalmente, e de outras operações espirituais."

"Quarta: Dado que para os exercícios seguintes se tomam quatro semanas, para corresponder às quatro partes em que se dividem os Exercícios, a saber: a primeira, que é a consideração e contemplação dos pecados; a segunda, a vida de Cristo nosso Senhor até ao dia de Ramos, inclusive; a terceira, a Paixão de Cristo nosso Senhor; a quarta, a Ressurreição e Ascensão, a que se juntam três modos de orar; contudo não se entenda que cada semana tenha, necessariamente, sete ou oito dias. Porque, como acontece que, na primeira semana, alguns são mais lentos para achar o que buscam, a saber, contrição, dor, lágrimas por seus pecados; assim também, como uns são mais diligentes que outros, e mais agitados e provados de diversos espíritos, requere-se, algumas vezes, encurtar a semana e, outras vezes, prolongá-la, e assim em todas as outras semanas seguintes, buscando as coisas segundo a matéria proposta. Mas [os Exercícios] concluir-se-ão, pouco mais ou menos, em trinta dias."

A vida de João Batista não foi somente de anúncio; foi de preparação do caminho para o Salvador. Como lembra São Máximo de Turim, João "dispôs e orientou todo o curso de sua vida para a vinda de Cristo". Oito anos atrás, na homilia na solenidade de todos os santos, o Papa explicou sobre este caminho: "As bem-aventuranças são o caminho do Senhor. O caminho da mansidão e da paciência. Jesus percorreu esta estrada". Na reflexão sobre o nascimento do Príncipe da paz, na semana do Advento, há quatro anos, o Papa explicou como podemos exercitar essas virtudes: "Não lançar o primeiro tiro de canhão". O que isso significa? Evitar as guerras cotidianas que destroem as relações humanas:

"E todas as vezes que nós vemos que existe a possibilidade de uma pequena guerra, seja em casa, seja no meu coração, seja na escola, seja no trabalho, parar e buscar fazer as pazes. Nunca, nunca ferir o outro. Nunca. 'E como padre, eu posso começar para não ferir o outro?' Não falar mal dos outros. Não lançar o primeiro tiro de canhão. Se todos nós fizermos isso somente, não falar mal dos outros, a paz irá mais avante. Que o Senhor nos prepare o coração para o Natal do Príncipe da paz. Mas nos prepare, fazendo nós todo o possível, da nossa parte, para pacificar: pacificar o meu coração, a minha alma, pacificar a minha família, a escola, o bairro, o local de trabalho. Homens e mulheres de paz."

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