Vaticano, jesuítas e religiosas convidam a “escutar e envolver” os migrantes e refugiados, mais vulneráveis pela covid-19

Foto: Vatican News

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25 Setembro 2020

A Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, o Serviço Jesuíta a Refugiados (SJR) e a União Internacional de Superioras Gerais convidaram a “escutar e envolver” os migrantes e refugiados, que por consequência da covid-19 estão mais vulneráveis.

A reportagem é publicada por Diario Siglo XXI, 23-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Os representantes das três instituições assim destacaram nessa quarta-feira, 23-09, durante um encontro virtual da 106ª Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado que a Igreja celebrará neste domingo, 27-09, com o lema, escolhido pelo papa Francisco, “Forçados, como Jesus Cristo, a fugir”.

De forma concreta, o subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, o cardeal Michael Czerny, propôs “trabalhar com as Igrejas locais” como já estão fazendo organizações católicas como o SJR, para prestar ajuda aos deslocados internos e envolvê-los nas decisões.

Como lembrou o diretor internacional do SJR Tom Smolich, em 2019 houve 45,7 milhões de deslocados por conflitos armados, violência generalizada ou violações de direitos humanos e advertiu que neste momento “a vulnerabilidade à covid-19 e ao abuso é muito elevada”.

Frente a esta situação, a secretária-executiva da União Internacional de Superioras Gerais (UISG), a irmã Patricia Murray, apostou por rejeitar os “medos e preconceitos” de cada uma e “escutar atentamente” os deslocados internos, assim como todas as pessoas marginalizadas para “conseguir uma mudança”.

A irmã Inés Oleaga, ex-voluntária do Serviço Jesuíta a Refugiados na República Democrática do Congo, contou a situação de Masisi, uma zona onde o “deslocamento é constante” devido a muitos grupos armados que tornam a zona “hostil”.

“É comum ver pessoas em deslocamento, vão ao lugar mais próximo a seu lugar de origem, a um campo de refugiados, seja da ACNUR ou espontâneo, a famílias de acolhida, etc. Masisi é uma zona de deslocamento e retorno”, comentou.

Ao desafio de “sobreviver em sentido literal” soma-se o de “poder viver em meio a muita precariedade”, pois, segundo denunciaram, as vezes há “muita burocracia e corrupção para que a ajuda chegue às pessoas”. Neste contexto, as mulheres veem-se obrigadas a sair a buscar a vida, expondo-se a violências sexuais.

Oleaga destacou a importância de “envolver para promover” e, neste sentido, destacou algumas das iniciativas feitas em Masisi, como um campeonato de futebol ou um grupo de teatro, para buscar a paz entre etnias ou grupos historicamente enfrentados.

Do ponto de vista de María Santos Caicedo, líder comunitária de deslocados internos na Colômbia, contou como em 2018, em razão do assassinato do líder de sua comunidade, teve que fugir de seu território com seu filho maior com deficiência e deixar para trás seu companheiro e outros dois filhos.

“É algo muito doloroso deixar toda a tua vida de lado para salvaguardar a própria e a da família”, afirmou emocionada. A partir desse momento, precisou “se encher de valor para seguir lutando” e agora faz trabalhos manuais, mandalas, como uma forma de esquecer o sofrimento de ganhar a vida.

Mulheres deslocadas: construtoras de paz e resilientes

Caicedo pediu que as mulheres deslocadas não sejam “revitimizadas” e reivindicou o papel delas na construção da paz. Por isso, exigiu que elas não fossem tratadas como “instrumentos” porque têm “voz e voto” e são mulheres “resilientes”.

Por outro lado, a diretora nacional da SJR em Mianmar, Rosalyn, explicou que em seu país existem mais de 450 mil pessoas deslocadas e contou como seus próprios pais tiveram que escapar da guerra civil. “Agora estou triste por ver que pessoas continuam a escapar da guerra em meio à pandemia”, lamentou.

A vida dessas pessoas é marcada pelo deslocamento a tal ponto, que um homem de 65 anos disse-lhe que precisou fugir onze vezes na vida porque sua aldeia havia sido queimada pelos militares.

Rosalyn revelou que as dificuldades já enfrentadas pelos mais vulneráveis em Mianmar, como o risco de minas, abuso sexual, tráfico de pessoas ou o recrutamento de crianças-soldados, agora se somam à covid-19, o que tornou a vida “ainda mais difícil”.

Para os participantes do evento, “há oportunidades de inclusão” dos deslocados internos “apesar das adversidades” porque, como já disseram, “o exterior maior são eles próprios”.

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