Mudança climática. Adolescente sueca lidera greve estudantil e desafia as elites europeias em Bruxelas com um discurso contundente

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22 Fevereiro 2019

Convidar Greta Thunberg é um ato de alto risco. A adolescente sueca de 16 anos entrou como um tornado desse ente abstrato chamado sociedade civil para devolver ao primeiro plano a luta contra a mudança climática. Sua retórica afiada tem cativado centenas de milhares de estudantes e ela se converteu em uma espécie de estrela pop. Seu rastro deixa altas doses de críticas a elites habituadas à complacência e acostumadas a utilizar com os jovens um discurso carregado de boas intenções, mas muitas vezes vazio e paternalista. 

A reportagem é de Álvaro Sánchez, publicado em El País, 21-02-2019. A tradução é de Graziela Wolfart.

Greta chamou de imaturos os líderes políticos reunidos na decepcionante cúpula climática de Katowice, por não assumirem a realidade da deterioração do planeta. Ao poder econômico quis pôr medo no Fórum de Davos. "Não quero que tenham medo, quero que tenham pânico".

Nesta quinta-feira, em Bruxelas, chamou do púlpito onde estavam as líderes que comandaram a revolta estudantil na Bélgica e na Alemanha para que a cercassem. "Me chamo Greta Thunberg e sou militante climática", começou sua intervenção com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, escutando atrás dela. E disse assim: "A maioria dos políticos não quer falar conosco. Está bem, nós também não queremos falar com eles. Queremos que falem com os cientistas, que os escutem, porque nós repetimos o que eles vêm dizendo há décadas".

A estudante está há 26 sextas-feiras consecutivas sem pisar nas aulas para se concentrar em frente ao Parlamento sueco. Pede mais contundência contra o aquecimento global. "Fazemos greve escolar porque fizemos nossos deveres. Há quem diga que somos a esperança. Que vamos salvar o mundo. Mas não é verdade, não o faremos. Não há tempo para esperar que cresçamos. Precisamos agir já diante da crise climática".

Thunberg reconheceu que a União Europeia tomou medidas para conter as emissões, mas crê que não são suficientes para evitar que a temperatura do planeta supere em 1,5 graus os níveis pré-industriais, um limite que o IPCC (Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre as Mudanças Climáticas, na sigla em inglês), considera perigoso.

Na terça-feira, Thunberg compartilhou na rede social Twitter, onde conta com quase 200.000 seguidores, uma foto em uma estação de trem. Ela se nega a subir em aviões por suas altas emissões contaminantes, fato pelo qual iniciava a longa viagem de trem de Estocolmo a Bruxelas com seu eterno cartaz nas mãos, convocando para a greve estudantil.

Nesse dia, um responsável australiano pela Educação, onde também chegou o apelo de Thunberg à greve climática, ameaçou estudantes e professores com castigos se se juntassem em horário escolar à mobilização internacional programada para o dia 15 de março. Thunberg respondeu com quatro frases. "De acordo. Te escutamos. E não nos importa. Tua declaração pertence a um museu".

Veja, com legendas em italiano, a fala de Greta:

A jovem sueca flerta com a impertinência com comodidade, e tratou de rebater as acusações que apresentam os adolescentes como manipulados e ingênuos. "Quando muitos políticos falam da greve escolar, se referem a qualquer coisa, exceto ao clima. Muitos dizem que somos preguiçosos e temos que voltar às escolas, inventam conspirações e afirmam que somos fantoches, que não pensamos por nós mesmos. Só estão tratando de mudar de assunto, não querem falar do clima".

Juncker interveio logo depois. Pelos precedentes, já estava avisado de que o discurso de Thunberg não seria a homilia branda de outras visitas. "Começamos a limpar o desastre que vocês provocaram, e não pararemos até terminarmos", disparou a adolescente à classe política. Inclusive a advertência pode valer a pena por figurar junto à imagem fresca e rejuvenescedora do ícone que quer mudar o planeta. "Este movimento está muito bem. E me reconheço em muitas das mensagens que lançam pelas ruas. Nos últimos anos me queixei muito de que os jovens não participam ativamente na política como eu fiz no passado", comentou. O chefe do Executivo europeu criticou os que duvidam da mera existência do aquecimento global. "Trump pensa que a mudança climática é uma invenção ideológica, e eu lhe respondo que basta observar a natureza, os insetos, para saber que algo está ocorrendo", concluiu.

A resposta nostálgica e breve de Juncker foi conhecida há pouco por Thunberg. "Creio que mudou de assunto muito rápido. É triste", lamentou.

Convertida em atração, com a sala da Comissão Europeia onde falou lotada, sua passagem por Bruxelas não arrancou nenhuma nova proposta concreta, como ela mesma admitiu. Sua agenda continuou a partir da uma da tarde nas ruas de Bruxelas, onde liderou a caminhada semanal pelo clima. Perguntada sobre quando vão parar as greves estudantis, a líder do movimento belga, Anuna De Wever, foi clara: "A pergunta não é quando nós pararemos, mas quando os políticos começarão".

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