Enganos sobre os alimentos transgênicos

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08 Junho 2018

Ao contrário do que se difunde, a aventura de alterar o DNA de nossos cultivos de alimentos, mediante as técnicas da chamada engenharia genética, não se sustenta na ciência, ao contrário, a desonrou. Seus engenheiros e aqueles que os apoiam, com frequência, ignoraram e até ocultaram ou destruíram evidências científicas. Também violaram os padrões da ciência. Inclusive, ocultaram essas infrações mediante o engano. Mais ainda, o processo de engenharia genética, em particular de cultivos, foi descrito de tal maneira que parece mais natural e preciso do que é na realidade, e mesmo os fatos mais básicos da biologia contemporânea foram distorcidos para minimizar os verdadeiros riscos dos cultivos transformados mediante a engenharia genética.

A reportagem é de Steven Druker, diretor executivo de Alliance for Bio-Integrity, publicada por La Jornada, 07-06-2018. A tradução é do Cepat.

A aventura dos alimentos modificados pela engenharia genética dependeu de maneira crucial desses enganos e não teria sobrevivido sem eles. Portanto, é imprescindível expor esses enganos e que se conheça a verdade.

Em meu artigo publicado por La Jornada, em 18 de maio, revelei como os enganos centrais procederam do governo dos Estados Unidos – e como este país promoveu os cultivos transgênicos, de empresas de sementes mediante técnicas de engenharia genética e impulsionou seu negócio nos mercados mundiais. Nos parágrafos seguintes, eu explico como outras destacadas instituições contribuíram para este engano.

Uma das maiores ficções é que há consenso entre os especialistas da ciência sobre a inocuidade dos cultivos transgênicos. A Associação Americana para o Avanço da Ciência declarou que qualquer organização respeitável que tenha examinado a evidência científica conclui que os alimentos derivados destes cultivos não envolvem maior risco que os alimentos convencionais. No entanto, várias organizações respeitáveis, como a Sociedade Real do Canadá, a Associação Médica Britânica e a Associação de Saúde Pública da Austrália não compartilham tal acordo; ao contrário, alertam sobre seus possíveis riscos.

Além disso, aquelas organizações que proclamam a inocuidade dos transgênicos se apoiam basicamente no engano. Consideremos o caso das novas toxinas não previstas que a engenharia genética pode gerar. Para sustentar o argumento de que os alimentos transgênicos não implicam riscos adicionais ou novos, em um importante relatório da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos se argumenta que com o melhoramento genético convencional também é possível incorrer em riscos similares. No entanto, os autores só puderam citar um caso para a agricultura convencional (que envolve a batata), que mais adiante foi demonstrado que era falso. Afirmaram que a nova batata, obtida mediante métodos convencionais não transgênicos, continha uma molécula tóxica nova que não estava em nenhum dos progenitores, embora estes, sim, a produziam; mas tais tipos de substâncias tóxicas foram encontrados em outras batatas.

A Sociedade Real Britânica também torceu a verdade para fazer o público acreditar que os cultivos transgênicos não apresentam riscos em relação aos alimentos convencionais. Por exemplo, argumentam que estes últimos podem também produzir efeitos inesperados. Em uma publicação de 2016 da mesma organização, mostram que todos os genomas de plantas com frequência apresentam inserções de DNA viral e/ou bacteriano – e que essas inserções são similares às que são geradas mediante técnicas de DNA recombinante da engenharia genética. Ambas afirmações são falsas. Enquanto os genes inseridos no genoma via engenharia genética sempre são integrados ao genoma das plantas, raras vezes ocorre isto com os genes de vírus e bactérias. Além disso, as incomuns inserções de genes virais no genoma de plantas permanecem inativas e não estão combinadas com outras sequências de vírus ou bactérias, como ocorre nas construções recombinantes da engenharia genética. A presença de genes bacterianos também é restringida nos genomas de plantas, e tampouco estão ativos. Ao contrário, os genes e suas combinações inseridas mediante engenharia genética, além de impactar de diversas maneiras no fenótipo, são artificialmente impulsionados a uma intensa atividade, que pode causar desequilíbrios rigorosos.

A referida publicação também enganou sobre os resultados de pesquisa. Proclama que não houve evidências de dano ligado a algum cultivo transgênico aprovado, apesar de vários estudos publicados em revistas arbitradas demonstrarem o contrário. E mais, a própria sociedade está inteirada de um estudo que demonstra dano e que a própria Sociedade Real procurou desacreditar. Este estudo, realizado no reconhecido Instituto Rowett, colocou em dúvida a inocuidade dos alimentos transgênicos, ao reportar que o próprio processo de engenharia genética pode causar problemas. Tal descompostura animou o editor da prestigiosa revista The Lancet a rejeitar a iniciativa da Sociedade, qualificando-a como impertinência insólita. The Lancet considerou o estudo cientificamente adequado e o publicou. A Sociedade se esquivou deste estudo e afirmou que não havia pesquisa alguma que mostre que o processo de engenharia genética em si possa causar diferenças nos cultivos transgênicos que possam implicar danos.

Meu livro Genes alterados, verdade adulterada contém muitos exemplos de tais tipos de condutas inaceitáveis de importantes revistas e sociedades científicas que tentaram ocultar ou minimizar os possíveis impactos negativos dos cultivos transgênicos. Os proponentes dos cultivos transgênicos vêm subvertendo a ciência, ao mesmo tempo em que dizem atuar em seu nome.

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