Dom Scicluna entrevistará vítima do Chile pessoalmente

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08 Fevereiro 2018

O especialista em inquéritos sobre crimes sexuais do Vaticano mudou de planos e vai voar até Nova York para ouvir o testemunho pessoal de uma vítima chilena de abusos sexuais, depois que seus apelos para ser ouvida pelo Papa Francisco foram ignorados anteriormente. Foi o que a vítima disse à Associated Press nessa quarta-feira.

A reportagem é de Nicole Winfield e Eva Vergara, publicada por Associated Press, 07-02-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A mudança em relação a uma entrevista por Skype ocorreu depois que a Associated Press informou que Francisco recebeu uma carta em 2015 de Juan Carlos Cruz, um sobrevivente do mais notório padre pedófilo do Chile. Cruz escreveu ao papa que um dos protegidos do padre, Dom Juan Barros, estava presente no seu abuso e não fez nada, e questionou a decisão de Francisco de fazer dele um bispo diocesano.

Barros negou ter visto ou sabido de qualquer abuso cometido pelo Pe. Fernando Karadima, um carismático sacerdote sancionado pelo Vaticano em 2011 por ter abusado sexualmente de menores de idade.

Francisco provocou um clamor durante sua recente visita ao Chile ao defender Barros fortemente, descrevendo as acusações contra ele como calúnias e dizendo que nunca ouviu nada das vítimas sobre o comportamento de Barros.

A reportagem da Associated Press, publicada na segunda-feira, desmentia a afirmação do papa de que as vítimas nunca haviam se manifestado.

Ainda antes da reportagem, na semana passada, o Vaticano indicou o arcebispo Charles Scicluna para ir até Santiago para receber o testemunho das vítimas e de outros que possuam informações sobre o caso Barros.

Originalmente, Scicluna entrevistaria Cruz via Skype, já que ele vive na Filadélfia.

Mas Scicluna telefonou para Cruz na terça-feira, “em nome do papa”, e perguntou se eles poderiam se encontrar pessoalmente, disse Cruz à Associated Press. Seu encontro está agendado para o dia 17 de fevereiro em Nova York, onde Cruz deve estar para trabalhar naquele mesmo dia, disse ele.

De lá, Scicluna viajará para Santiago, como planejado originalmente.

“Eu acho que a mudança de atitude do Vaticano se deve aos tremores causados pelo artigo da Associated Press”, disse Cruz. Ele disse que apreciou o gesto de Scicluna como um sinal de que o Vaticano está levando seu testemunho a sério.

“Eu vejo uma boa disposição, de que eles não estão apenas levando o meu testemunho a sério, mas também o de todos aqueles que estão vivendo desesperadamente com a angústia do abuso sexual e de uma Igreja que não faz nada por eles”, disse ele à Associated Press.

Scicluna se recusou a comentar.

Por mais de uma década, Scicluna foi o principal investigador dos crimes sexuais do Vaticano e se levantou contra a hierarquia vaticana para poder penalizar o pedófilo em série Pe. Marcial Maciel, fundador da Legião de Cristo. Durante décadas, Maciel foi protegido pelas mais altas autoridades da Igreja Católica, que bloquearam uma investigação sobre seus crimes.

Uma vez que Scicluna foi autorizado a persegui-lo, ele viajou por toda a parte – inclusive para Nova York – para entrevistar as vítimas de Maciel, preferindo testemunhos presenciais e para evitar que as vítimas já feridas pela Igreja tivessem que viajar para ir até ele. Maciel, que estuprou e molestou seus seminaristas, foi condenado à mesma sanção que Karadima: uma vida de “penitência e oração” pelos seus crimes, a típica punição da Igreja dada aos abusadores idosos.

O Vaticano disse que Scicluna, em sua nova missão, está encarregado de “ouvir aqueles que manifestaram a vontade de dar a conhecer os elementos de sua posse” sobre Barros.

Francisco desencadeou o tumulto em torno de Barros em 2015, quando o nomeou bispo de Osorno, no Chile, mesmo com a oposição de muitos bispos chilenos. Eles estavam preocupados com as consequências do escândalo Karadima, que custou à Igreja Católica grande parte de sua credibilidade no Chile. Karadima foi responsável por cultivar dezenas de vocações sacerdotais e cinco bispos – incluindo Barros –, mas ele também beijou e acariciou jovens na sua comunidade.

Francisco vetou a proposta dos bispos de que Barros e outros dois bispos formados por Karadima renunciassem e tomassem um ano sabático, dizendo que, se ele aceitasse suas renúncias, isso equivaleria a uma admissão da culpa deles. Francisco disse que não havia nenhuma prova de que eles haviam feito algo errado.

Mas até mesmo os membros da própria Comissão para a Proteção dos Menores, criada por Francisco, manifestaram sua preocupação de que, se Barros não reconhecesse como abusivo o ambiente homoerotizado da comunidade de Karadima, ele não seria capaz de detectar abusos quando fosse bispo diocesano e responsável por proteger os menores de pedófilos como seu mentor.

Quatro membros da comissão viajaram para Roma em abril de 2015 para manifestar suas preocupações – e entregar pessoalmente a carta de Cruz ao papa.

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