Memória do Holocausto - Dia Internacional. Uma rua para os professores que disseram Não

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25 Janeiro 2018

Roma vai remover das ruas os nomes daqueles que aprovaram as leis raciais. É uma oportunidade para dedicá-las aos professores que se recusaram a assinar o termo de lealdade ao fascismo.

A reportagem é de Pierluigi Battista, publicada por Corriere della Sera, 24-01-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

A junta romana de Virginia Raggi anunciou que, no Dia da Memória, serão trocados os nomes das ruas que haviam sido dedicadas aos três cientistas que deram o aval - a cobertura pseudo-científica às leis racistas promulgadas em 1938 pelo regime fascista, no "Manifesto da raça" - com que se iniciou na Itália a discriminação antijudaica, que levou à perseguição dos anos de guerra. Mas, para que esse gesto não caia na hipocrisia, em um ritual para apaziguar as consciências, em uma autoabsolvição coletiva de um povo que deu ao fascismo um amplo consenso, seria o caso que em Roma e em outros municípios italianos surgissem simultaneamente ruas em homenagem a Giorgio Levi della Vida, avenidas Gaetano de Sanctis, praças Piero Martinetti, largos Lionello Venturi e outras ruas dedicadas a Vito Volterra, Francesco Ruffini, Edoardo Ruffini, Ernesto Buonaiuti, Giorgio Errera, Bartolo Nigrisoli, Fabio Luzzatto, Marco Carrara. Doze novos nomes como doze foram os docentes universitários italianos que - entre os milhares e milhares de pessoas que dobraram a cabeça e disseram sim para conservar intactas as suas cátedras - se recusaram em 1931 a assinar o juramento de lealdade ao fascismo. Doze heróis. Doze heróis desconhecidos para a maior parte dos italianos porque a Itália antifascista até agora tratou de se abster de celebrá-los como heróis do dissenso e da dignidade. Preferindo guardar silêncio sobre os milhares de professores que compactuaram primeiro com o fascismo e, em seguida, com o racismo antissemita.

Um reconhecimento tardio porque aqueles doze nomes são prova de que teria sido possível dizer Não. Mas, ao contrário, a maioria evitou dizer Não mesmo diante da discriminação antijudaica. Roberto Finzi recordou que, quando os judeus perderam seus postos na faculdade, Ernesto Rossi, então opositor do regime na prisão, disse que aquelas leis representariam "um verdadeiro maná para todos os candidatos que agora virão aos montes para concorrer às suas vagas". E foi exatamente o que aconteceu. Para ocupar as cátedras deixadas vagas pelos docentes judeus perseguidos, compareceram muitos nomes ilustres que, depois do retorno para a democracia se tornariam os pais da Pátria antifascista. Das capas de livros de autores judeus desapareceram os nomes dos discriminados e apareceram nomes racialmente puros. E ninguém pagou por isso, será lembrado no Dia da Memória. Aliás, como escreveu em 2002 Alberto Cavaglion "após o fim da guerra, a cátedra de literatura italiana subtraída a Attilio Momigliano seria duplicada para ser restituída àquele que tinha sido ilegalmente expulso, mas também para não incomodar quem em seu lugar tinha tranquilamente entrado". Nos últimos anos de sua vida Vittorio Foa disse: "Nenhum daqueles ilustres antifascistas disse uma única palavra contra a expulsão dos judeus das escolas, das universidades e dos empregos, contra aquela que foi uma imunda violência. Talvez eu não esteja procurando uma condenação moral, mas o reconhecimento de um fato."

Conta-se que quando Vittorio Emanuele Orlando, que na época do juramento tinha se valido do seu direito à aposentadoria, encontrou depois da guerra Edoardo Ruffini, filho de Francesco, se dirigiu a ele dizendo "nós, que recusamos o juramento", ao que o interlocutor respondeu de forma gélida: "Acredito que entre o seu pedido de aposentadoria e a recusa ao juramento de meu pai exista uma diferença."

Exatamente, o que Foa definiu de recusa do "reconhecimento de um fato." Ao não reconhecer o "fato" da submissão, da acomodação de grande parte da cultura aos ditames do fascismo e do antissemitismo escolheu-se condenar ao esquecimento os doze heróis que disseram Não.

Porque seu simples testemunho provaria que a humilhação poderia ter sido evitada.

Eis por que dedicar ruas e praças aos doze heróis desconhecidos teria grande valor. Longe das hipocrisias e das biografias embelezadas.

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