Nazistas e fascistas avançam na Itália

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05 Dezembro 2017

Com Casa Pound, Veneto Fronte Skinhead, Militia, Forza Nuova, Ordine Nuovo, Avanguardia Nazionale, entre outros, a ultradireita anti-imigrante ganha protagonismo na Itália. Walter Veltroni, ex-prefeito de Roma, destacou: “Uma onda escura está destruindo o Ocidente”.

A reportagem é de Elena Llorente, publicada por Página/12, 04-12-2017. A tradução é do Cepat.

Desde o início deste ano, as notícias alarmantes vinham da Europa, com um avanço geral da direita na Dinamarca, França, Alemanha, entre outros países. Agora, muita gente também está preocupada na Itália, onde não só está avançando a direita de Silvio Berlusconi e Forza Italia, a Liga Norte e Fratelli d’Italia, como também a ultradireita encarnada em neonazistas, neofascistas, skinheads ou conforme queiram ser chamados os que apresentam Hitler e Mussolini como a única esperança para o país.

Várias manifestações públicas destes grupos, até pouco tempo considerados “insignificantes”, demonstraram que estão presentes. E mais, que estão decididos a empreender uma nova vida e ter um protagonismo maior. Há alguns meses, em Roma, reapareceu a Casa Pound, uma organização fascista que tinha permanecido bastante silenciosa ultimamente, e que nesse momento almejou desalojar um grupo de imigrantes que ocupavam moradias entregues oficialmente a eles pelo estado italiano. Casa Pound conseguiu pouco mais de 9% dos votos, nas últimas eleições municipais de Ostia, um município da província de Roma.

No último verão (europeu), reluziu um estabelecimento em uma praia perto de Veneza, decorada com bandeiras fascistas e cartazes alusivos com frases de Mussolini, espalhados entre as redes, vestiários e guarda-sóis. Em décadas, não era visto nada do estilo na Itália. O estabelecimento foi fechado em um primeiro momento pela polícia e seu proprietário acusado de “apologia ao fascismo”, coisa proibida por lei. Contudo, depois foi reaberto.

Há uma semana, na cidade de Como (norte da Itália), um grupo de neonazistas (que se autodenomina Veneto Fronte Skinhead) ocupou o centro de assistência aos migrantes Como sem Fronteiras, durante uma reunião, e leram um manifesto com ar de intimidação, acusando os voluntários de “arruinar a pátria” ao ajudar os imigrantes. E advertiram: “Logo irão nos ver em ação”. Oito dos treze protagonistas desta ação foram identificados pela polícia e provêm de diferentes cidades italianas, o que pode ser um indicador da difusão de suas ideias.

O último foi um fato realmente inacreditável: uma bandeira neonazista balançava em um dos escritórios de um quartel de carabineiros de Florença. Pelo que parece, tratava-se de um alojamento onde dormiam seis carabineiros e um deles seria o responsável, contra o qual foram tomadas medidas disciplinares. Tudo emergiu porque um cidadão passou perto da janela e viu a bandeira, fez um vídeo e colocou na internet. “Quem jura ser militar, age assim declarando fidelidade à República, a suas leis, a sua Constituição. Quem expõe uma bandeira nazista não pode ser digno de fazer parte das forças armadas porque não respeita seu juramento”, comentou a ministra da defesa da Itália, Roberta Pinotti.

Quer seja chamado Casa Pound, Veneto Fronte Skinhead, Militia, Forza Nuova, Ordine Nuovo, Avanguardia Nazionale, entre outros, o principal alvo apontado por todos estes grupos neonazistas ou neofascistas são os migrantes. Argumentam falsamente que os estrangeiros retiram dos italianos o trabalho e as casas onde vivem e destroem a cultura italiana e sua religião, dado que boa parte dos migrantes provém da África ou de países da Ásia, como Índia, Paquistão e Bangladesh e que são muçulmanos. Mas, também argumentam temas relativos à segurança – dado os tempos que correm na Europa, após os diferentes atentados –, como se todos os migrantes fossem terroristas. Partidos de direita representados no Parlamento, como Liga Norte, concordam com estes argumentos. “O problema não são os jovens que fizeram a ocupação de Como, mas, sim, a imigração sem controle”, comentou o líder da Liga Norte, Matteo Salvini.

O presidente do Senado italiano, Pietro Grasso, rebateu os preconceitos contra os migrantes, que cada vez são mais difundidos entre as pessoas. Em boa parte dos atentados ocorridos na Europa, disse, os terroristas “eram franceses ou belgas, não tinham chegado com os imigrantes. É uma elucubração sem fundamento dizer que com os imigrantes chegam os terroristas”.

Os progressistas, em geral, e em particular o Partido Democrático, criticaram a ação dos grupos neonazistas e organizaram uma manifestação de protesto para o dia 9 de dezembro, em Como. “Uma onda escura está destruindo o Ocidente”, declarou o ex-secretário do Partido Democrático (PD) e ex-prefeito de Roma, Walter Veltroni, ao jornal La Repubblica de Roma. “Há momentos da história em que os cidadãos não podem ser espectadores, mas, ao contrário, devem se mobilizar com vontade e consciência. A bandeira nazista no quartel de carabineiros quer dizer que também devemos vigiar aqueles que deveriam defender a democracia. Espero, de coração, que as forças democráticas e de esquerda deem um sinal de unidade sobre estes valores fundamentais”. Veltroni fazia menção à divisão reinante na esquerda italiana, dividida em minúsculos partidos fundados por aqueles que abandonaram o PD. E acrescentou: “Em momentos como este, como sempre, a direita se aproveita do medo das pessoas. E a esquerda o que faz? Divide-se. Pelo contrário, deve se reencontrar com o mal-estar social e a precariedade das pessoas”.

Segundo dados de uma pesquisa realizada pela empresa Demos&Pi, em novembro, a respeito dos medos dos italianos, 51% dos entrevistados pensam que os imigrantes não são um perigo. Por outro lado, 33% acreditam que são. E esta última porcentagem é significativa, pois em 2016 a mesma pesquisa havia apontado que só 23% dos entrevistados tinham medo dos imigrantes.

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