Os desafios dos usos da IA diante de futuros pós-humanos

No último encontro II Ciclo de Estudos sobre Inteligência Artificial, promovido pelo IHU, Laura Forlano proferirá a palestra “Futuros pós-humanos. Dos Eus digitais aos Demônios dos dados”

Foto: Pixabay

Por: João Vitor Santos | 30 Novembro 2023

São muitas as correntes que definem demônios como anjos decaídos. Ou seja, eles são da mesma natureza, só que acabam se reduzindo ao mal. Logo, se formos por esta linha, perceberemos que a diferença entre anjo, aquele que ajuda e guarda, e demônio, aquele que parece nos ajudar, mas que nos enreda numa teia que drena toda nossa vida, é bem tênue. Trazendo este pensamento para o mundo de hoje, da alta tecnologia emaranhada em nossas vidas, podemos nos questionar sobre em que medida a Inteligência Artificial, concebida como anjo, pode se converter em demônio que drena o ethos social.

Mas é preciso calma. Não se trata de elevar a IA aos céus e nem a jogar no inferno, pois a complexidade que a envolve pode, ao mesmo tempo, transformar-nos em super-humano, mas também desnutre nossa humanidade. O filósofo Nolen Gertz, professor da Universidade de Twente, na Nova Zelândia, observa, a partir do episódio da demissão do CEO da OpenAI, Sam Altman, que muitas vezes somos levados a pensar a IA apenas sob uma perspectiva, o que levada a endeusar os seus gestores ou criadores. “O anti-humanismo do Antropoceno e o trans-humanismo não envolvem apenas uma 'revolta contra a humanidade', mas também uma revolta contra a responsabilidade. Combinados, eles fazem com que os CEOs das empresas de tecnologia pareçam os nossos salvadores, e não os nossos destruidores”, provoca, em artigo publicado pelo IHU.

Cecília Rikap, pesquisadora do Instituto de Inovação e Propósito Público da University College London e do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica - Conicet da Argentina, em artigo, também publicado pelo IHU, vai além e propõe: “O salto na adoção da inteligência artificial que o lançamento do ChatGPT representou nos convida a refletir não só sobre a forma como esta tecnologia é utilizada, mas também sobre quem e como a IA é produzida e quem dela beneficia. Que tipos de trabalho permitem que ele seja produzido? Quais as consequências da sua adoção em termos de substituição de capacidades de aprendizagem? É possível outro modelo de inteligência artificial?”

Tanto as provocações de Cecília como as de Gertz são cenários para a discussão do último encontro do II Ciclo Ciclo de Estudos Inteligência Artificial, fronteiras tecnológicas e devires humanos, que ocorre hoje, quinta-feira, 30-11-2023, às 10h. A convidada é a Profa. Dra. Laura Forlano, do The Burnes Center for Social Change da Northeastern University, nos EUA. Sua palestra terá justamente como título Futuros pós-humanos. Dos Eus digitais aos Demônios dos dados. A videoconferência terá transmissão pelo canal do IHU.

 

Saiba mais sobre Laura Forlano

É bolsista premiada pela Fulbright e financiada pela National Science Foundation, é escritora, cientista social e pesquisadora de design. Leciona nos departamentos de Arte + Design e Estudos de Comunicação na Faculdade de Artes, Mídia e Design e Distinguished Senior Fellow no The Burnes Center for Social Change, da Northeastern University. Forlano é afiliada ao Projeto Sociedade da Informação da Faculdade de Direito de Yale. Doutorou-se em Comunicação pela Columbia University.

Suas pesquisas enfocam a estética e a política na intersecção entre o design e as tecnologias emergentes. Ela utilizou oficinas participativas, jogos colaborativos, exposições, vídeos especulativos, protótipos e performances para imaginar futuros alternativos para viver com dados e computação. Nos últimos quinze anos, estudou as materialidades e o futuro dos sistemas sociotécnicos, como veículos autônomos e cidades inteligentes; impressão 3D, produção local e ecossistemas de inovação; automação, práticas de trabalho distribuídas e o futuro do trabalho; e moda computacional, têxteis inteligentes e tecnologias médicas vestíveis.

Laura Forlano (Foto: Artcenter Dialoges)

Foi professora de Design no Instituto de Design e Faculdade Afiliada da Faculdade de Arquitetura do Instituto de Tecnologia de Illinois. Em 2019-2020, foi pesquisadora do Institute of Advanced Study (IAS) na Durham University, no Reino Unido, trabalhando em um projeto chamado “Material Imagination”. Em 2018-2019, foi pesquisadora visitante no Digital Life Institute da Cornell Tech e docente associada do Berkman Klein Center for Internet & Society da Harvard University.

É autora de Cyborg (com Danya Glabau, próximo MIT Press) e organizadora de três livros: Bauhaus Futures (MIT, Press 2019), digitalSTS (Princeton University Press, 2019) e From Social Butterfly to Engaged Citizen (MIT Press, 2011).

A pesquisa e os escritos de Forlano foram publicados em periódicos revisados por pares nas áreas de design, comunicações, interação humano-computador e estudos de ciência e tecnologia, incluindo os seguintes: ACM Interactions, ACM Transactions on Computer-Human Interaction, City, International Journal of Communication, She Ji, Catalyst, Design Issues, Journal of Peer Production, Fibreculture, Digital Culture & Society, ADA, Journal of Urban Technology, First Monday, The Information Society e Journal of Community Informatics.

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