"História de uma alma: manuscritos autobiográficos narra o processo de conversão do coração de Teresa de Lisieux e o ensinamento espiritual que todos os místicos cristãos repetiram: "Não demorei para compreender que quanto mais se avança neste caminho, tanto mais se acredita estar afastado da meta".
O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestre em Filosofia pela Unisinos.
"Eu gostaria de convidá-los a redescobrir esse pequeno grande tesouro, um comentário luminoso do Evangelho, plenamente vivido." O convite do então Papa Bento XVI aos fiéis na audiência geral de 06-04-2011, na praça de São Pedro, para lerem História de uma alma, da carmelita e doutora da Igreja Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, é também um convite para "aprender na escola dos santos a amar de modo autêntico e total", como ele mesmo disse.
As últimas palavras de Santa Teresinha na noite de 30-09-1897, "Meu Deus, eu vos amo", explicou o pontífice na ocasião, "estão no centro de todos os seus escritos", que resumem-se a uma ação: "Jesus, eu vos amo". O Jesus Eucarístico está no centro de sua existência porque, segundo ela, "a Eucaristia é sacramento do amor divino, que se abaixa ao extremo para nos elevar até ele". Mas é do Jesus Crucificado que ela se "aproxima cada vez mais, com grande fé", o qual dá sentido ao seu nome religioso, de acordo com Bento XVI. "É um grande sofrimento que leva Teresa à contemplação da Face de Jesus em sua Paixão. Assim, o seu nome de religiosa – irmã Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face – expressa o programa de toda a sua vida, em comunhão com os mistérios centrais da Encarnação e da Redenção".
Neste domingo, 01-10-2023, data que a Igreja celebra a Festa de Santa Teresinha, as palavras de Bento XVI são um convite à renovação do nosso amor por Cristo. "Teresa indica a todos nós que a vida cristã consiste em viver plenamente a graça do batismo, na doação total de si ao amor do Pai, para viver como Cristo, no fogo do Espírito Santo, o seu amor por todos os outros".
História de uma alma: manuscritos autobiográficos narra o processo de conversão do coração de Teresa de Lisieux e o ensinamento espiritual que todos os místicos cristãos repetiram: "Não demorei para compreender que quanto mais se avança nesse caminho, tanto mais se acredita estar afastado da meta". Quanto mais se uniram a Cristo Jesus, mais perceberam o fosso existente entre eles e o Amado. Ao mesmo tempo, quando "tudo foi tristeza e amargura, a paz, sempre a paz encontrava-se no fundo do cálice".
Outro ensinamento espiritual é encontrado nos parágrafos 288 e 289, quando ela se interroga sobre a maneira como Jesus amou seus discípulos e por que os amou:
"Ah! Não eram suas qualidades naturais que podiam atraí-lo, havia entre eles e Ele uma distância infinita. Ele era a ciência, a Sabedoria Eterna; eles eram pobres pescadores ignorantes e cheios de pensamentos terrenos. Contudo, Jesus os chama de amigos, de irmãos, quer vê-los reinar com Ele no reino do seu Pai e, para abrir-lhes esse reino, quer morrer numa cruz, pois disse: Não há amor maior que dar a vida por aquele a quem se ama.
Madre querida, ao meditar essas palavras de Jesus, compreendi como era imperfeito o meu amor para com minhas irmãs, pois não as amava como Deus as ama. Ah! Compreendo agora que a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, não se surpreender com suas fraquezas, edificar-se com os menores atos de virtude que os vemos praticar. Compreendi, sobretudo, que a caridade não deve ficar presa no fundo do coração."
Para Bento XVI, "Teresa é um dos 'pequeninos' do Evangelho que se deixam conduzir por Deus às profundezas do seu mistério. Um guia para todos, sobretudo para aqueles que, no Povo de Deus, desempenham o ministério de teólogos". Eis a razão:
"A ciência dos santos, com efeito, da qual ela mesma fala na última página da História de uma alma, é a ciência mais nobre: 'Todos os santos o compreenderam e, de um modo mais especial, aqueles que encheram o universo com a irradiação da doutrina evangélica. Não é porventura da oração que os santos Paulo, Agostinho, João da Cruz, Tomás de Aquino, Francisco, Domingos, e numerosos outros ilustres amigos de Deus se inspiraram nessa ciência divina que fascina os maiores gênios?'"