Instituto Humanitas Unisinos promove evento sobre as primeiras impressões, perspectivas e desafios do Instrumentum Laboris do Sínodo sobre a sinodalidade nesta quinta-feira, 20-07-2023, às 17h30min
“Estamos caminhando. Quer dizer, o Concílio disse que a imagem da Igreja é o Povo de Deus, andando com Cristo. E eu sinto que agora está acontecendo. Começamos a caminhar e Cristo deve ser o centro. Se Cristo não estiver no centro, algumas pessoas caminharão para a direita, outras para a esquerda. Temos que trabalhar juntos, com Cristo. Também não tenho medo de que nem todas as perguntas sejam respondidas [no Sínodo]. Porque, se aprendermos no processo como conviver com as diferenças dentro desta Igreja caminhando juntos, será um resultado maravilhoso”. Foi com essas palavras que o Cardeal Jean-Claude Hollerich, de Luxemburgo, expressou, em entrevista recente a Gerard O'Connell, da revista America, dos jesuítas dos EUA, sua expectativa em relação ao Sínodo sobre a Sinodalidade, que está em curso desde 2021 e que será concluído em outubro de 2024. Sobre as frustrações, críticas e pessimismos manifestos até o momento, ele é categórico: “A direita já está frustrada porque há um sínodo [aberto a abordar questões polêmicas], e algumas palavras os irritam, de modo que reagem contra as palavras sem olhar para o que foi dito com essas palavras, e como foi dito. E haverá uma esquerda que quer uma mudança da doutrina da Igreja, mas isso não vai acontecer”.
Segundo ele, as tensões presentes em todo o processo sinodal "podem ser muito frutíferas", mas "devemos encontrar, também por experiência, uma sinodalidade católica típica que seja diferente da sinodalidade ortodoxa e protestante". Isso significa, explica Hollerich, que a sinodalidade "terá que incluir a colegialidade dos bispos; deverá incluir também o Primado de Pedro no convencionalismo católico. E é baseado em um processo de discernimento. Portanto, será muito diferente, digamos, da Igreja Luterana alemã, onde alguns até chamam o sínodo de 'parlamento da Igreja'. E é isso que não é". É preciso lembrar, acrescenta, que o sínodo é um evento espiritual: “o processo espiritual deve ser feito, porque, caso contrário, estaremos muito próximos do que se chama de parlamento”.
Para ele, o processo sinodal leva a sério o Vaticano II e, diferentemente do que alguns dizem, não indica a realização de um Vaticano III. "Isso é voltar ao Vaticano II, levar o Vaticano II a sério, tentar implementar o Vaticano II”, assegura.
A mesma opinião é compartilhada pelo jornalista Michael Sean Winters, do National Catholic Reporter, para quem o Instrumentum laboris, o documento de trabalho da assembleia deste ano (de 9 a 24 de outubro de 2023), "está profundamente enraizado no Vaticano II". Em sua avaliação, "as duas primeiras coisas que saltam à vista ao ler o documento (...) são o quanto ele traça uma nova abordagem para um documento de trabalho para um sínodo eclesial e quão profundamente o documento está em continuidade com os ensinamentos do Concílio Vaticano II".
Um dos destaques do Instrumentum laboris é a série de perguntas que o compõem. "Essas questões refletem aquelas levantadas nas consultas mundiais. A comissão de planejamento não elaborou um conjunto de respostas plausíveis. Não se inclinava para as questões nevrálgicas de uma forma ou de outra. Reconhece-os e, ao fazê-lo, também reconhece que o esforço para declarar alguns tópicos encerrados não conseguiu interromper o questionamento", sublinha.
Na interpretação do jornalista René Poujol, o tema do sínodo, “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação, Missão”, reflete a proposta do pontificado de Francisco e, mais especificamente, o Instrumentum laboris "surpreende por sua audácia: há quem o acolha favoravelmente, quem o condena, quem o relativiza…". O seu texto "começa especificando mais uma vez a definição de sinodalidade, pois é convicção de Francisco que não existe verdadeira Igreja Católica se não for sinodal, isto é, uma Igreja na qual todos os batizados caminham juntos e compartilham a mesma missão de evangelização". Poujol acrescenta que o texto insiste naquelo que define como a "conversão no Espírito apresentada como o método de trabalho profícuo das fases de consulta, proposta desde o Vade-mécum de 2021, e que continuará a prevalecer durante as Assembleias de 2023 e 2024".
Diariamente, na sua página eletrônica, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU tem publicado análises e impressões sobre o Sínodo e o Instrumentum laboris que orientará a sessão de 9 e 24 de outubro de 2023. Em entrevista ao Instituto, Silvia Kreuz e dom Vicente de Paula Ferreira apresentaram as primeiras impressões sobre o documento. Para Kreuz, autora de Um café na fronteira: a missão de mães cristãs no acolhimento de filhos LGBTQIA+ (Metanoia, 2022), os três pilares do texto, comunhão, missão e participação, "são palavras importantes e de fácil compreensão conceitual, mas de difícil aplicação prática nas comunidades de fé", o que lança o "desafio de promover uma caminhada sinodal permanente, não apenas neste tempo do Sínodo".
Por sua vez, dom Vicente Ferreira acentuou a abrangência e a complexidade do texto e seu incentivo ao debate das questões abordadas, que revelam "o próprio contexto poliédrico da contemporaneidade". Para este bispo, "o documento cita várias vezes estas duas chagas de nosso tempo: o grito dos pobres e da criação. Em meu ponto de vista, na verdade, este deveria ser o eixo fundamental ao redor do qual todos deveríamos estar unidos. A vida tem pedido socorro nas chagas dos corpos de nossos irmãos descartados e na terra que sangra por conta de tantas violações de um sistema capitalista que tem se transformado numa engenharia criminosa. A Igreja necessita ser mais ágil com palavras e ações que apontem para um mundo novo".
Para refletir sobre as primeiras impressões, perspectivas e desafios do Instrumentum laboris, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU promoverá duas mesas-redondas. A primeira será transmitida ao vivo hoje, 20-07-2023, às 17h30 na página eletrônica do IHU, nas redes sociais e no canal do IHU no YouTube. Participarão do evento virtual Flavio Lazzarin (Comissão Pastoral da Terra – CPT), Alzirinha Souza (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas, Instituto São Paulo de Ensino Superior em São Paulo – ITESP) e dom Joaquim Mol (bispo auxiliar de Belo Horizonte).
Segundo Lazzarin, padre italiano fidei donum atuante na Diocese de Coroatá, no Maranhão, "a distância entre palavras e práticas, entre documentos e efetivas conversões pastorais, se repete com o tema da sinodalidade, tema que é objeto de estudos, reflexões, comentários, na maioria das vezes repetitivos e desvinculados de decisões e de eventos que possam traduzi-lo. Parece-me que muitas paróquias obedeceram mais uma vez ao chamado de reunir os fiéis para refletir sobre a urgência de caminharmos juntos como irmãos e irmãs, um novo povo a serviço do Reino. Mas a continuidade da supremacia hierárquica do pároco e a centralidade inoxidável da Igreja paroquial, em torno da qual tudo gira, fragilizam esse esforço".
Na próxima quarta-feira, 26-07-2023, participarão Cleusa Maria Andreatta (Instituto Humanitas Unisinos – IHU), Faustino Teixeira (Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF) e Pe. Edson Thomassim (Paróquia São João Batista, bairro Arroio da Manteiga, São Leopoldo). O evento será transmitido às 10h no sítio do IHU e em suas redes sociais.