31 Março 2022
“Escutar e caminhar com a comunidade trans encoraja-nos a construir a Família, não apenas o Reino, de Deus. Essa é a minha esperança: que neste Dia da Visibilidade Trans, essa família brilhe com a luz da visibilidade transgênero”, escreve Michael Sennet, em artigo publicado por New Ways Ministry, 31-03-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Hoje é o Dia da Visibilidade Transgênero, a qual é dedicada para celebrar as pessoas trans e não-binárias enquanto se desperta a conscientização sobre as contínuas opressões que elas enfrentam.
“Me abençoe, padre, por eu ter pecado”, falei nervosamente para o padre sentado próximo a mim. Ele acenou e esperou por mim para continuar, mas repentinamente minha língua parecia estranha em minha boca. Nós nos sentamos em silêncio, sentimos como se fosse uma eternidade, até que o padre perguntou o que havia me trazido até a confissão. Gaguejando, eu tentei explicar por que eu precisava absolvição. “Espere, eu tenho uma lista”, eu disse e me atrapalhei com a jaqueta para pegar o papel. Ele gentilmente sugeriu que falássemos sem a lista, cruzou as pernas e dobrou as mãos pacientemente no colo. Aquele pequeno gesto acalmou meus nervos e eu disse: “Eu sou transgênero!”
Aos 17 anos, essa ansiedade na reconciliação foi minha primeira asserção de visibilidade como uma pessoa católica trans. Uns 10 anos depois, a visibilidade tem sido tanto uma fonte de alegria quanto, às vezes, de sofrimento. Para os católicos trans, viver sem se desculpar pela maravilhosa Criação de Deus é libertador. Mas a vulnerabilidade pode também convidar à discriminação ou mesmo violência na pior das situações.
Durante a conversa na confissão, eu vivenciei a graça e o amor de Deus da compaixão do padre. Autenticidade, disse-me, não é o mal. Repreender minha identidade, acreditar que eu necessito mudar e odiar a mim mesmo seria a real tragédia. O padre me fez fazer votos de que sempre viverei autenticamente e cobrar o amor e o respeito que eu mereço como filho de Deus, e fazer um espaço para mim à mesa quando ninguém mais o fizer.
Embora a Igreja Católica certamente tenha muito a aprender sobre escutar os marginalizados, tem havido passos de progresso. A irmã Luisa Derouen, ministra para a comunidade transgênero, tem a mais de 20 anos dado conforto e esperança para muitos indivíduos. Seus programas e painéis são fontes de educação para o clero que deseja encontrar e aprender com católicos transgênero. A irmã Luisa tem intencionalmente dado centralidade às vozes das pessoas trans que foram frequentemente negligenciadas, mesmo quando nós estávamos gritando.
Dom Thomas Zinkula, da Arquidiocese de Davenport, Iowa, instituiu um Comitê de Gênero com o propósito de acompanhar paróquias e escolas na diocese. No último inverno, eu estava fazendo o diálogo com dom Zinkula e o comitê. Essas conversas são cruciais para suportar e normalizar a visibilidade trans. As oportunidades para diálogo devem ser promovidas em todas as dioceses, e não há tempo melhor que agora quando estamos no Sínodo sobre a Sinodalidade.
A autenticidade dentro de nós leva a uma profunda relação com o Criador. Mas para conseguir essa autenticidade, nós precisamos primeiro objetivar reconhecer e celebrar a visibilidade dos católicos transgênero. Escutar e caminhar com a comunidade trans encoraja-nos a construir a Família, não apenas o Reino, de Deus. Essa é a minha esperança: que neste Dia da Visibilidade Trans, essa família brilhe com a luz da visibilidade transgênero.
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Deixar a Família de Deus brilhar com a luz da visibilidade transgênero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU