Breves do Facebook

Foto: PxHere

03 Dezembro 2021

 

Christian Edward Cyril Lynch

Eis o efeito rebote do lavajatismo: reação do governo e do congresso aparelhando o judiciário - STF, STJ, PGR, PF - e reformas administrativas para sujeitar servidores de carreira à influência política. Ou seja: autoritarismo e corrupção duplicados.

Bolsonaro navega mal. Seu governo é o pior da história do Brasil. Mas ele soube rapidamente aproveitar esse vento antilavajatista para se sustentar no congresso e alugá-lo ao centrão, e essa se tornou sua principal força política: estender a impunidade do aparelhamento no judiciário a toda a classe política.

Aos colegas, delegada responsável por extradição de Allan dos Santos disse estar ‘incrédula’ com ordem da PF para abandonar posto na Interpol. Disponível aqui.

 

Faustino Teixeira

No prefácio de seu livro, "Revolução das plantas", o botânico italiano Stefano Mancuso assinala que a maioria das pessoas não se dá conta da importância dos vegetais em suas vidas: importância para a respiração e para toda a cadeia alimentar. É nossa vida, como as outras formas de vida, que dependem do mundo das plantas. De forma impressionante, sublinha que só em 2015 "foram descobertas 2034 novas espécies de plantas", sendo mais de 31 mil espécies distintas já documentadas.

O autor, como outros que estão trabalhando o tema da "virada vegetal", sublinha a riqueza presente nesse mundo vegetal, apontando para os caminhos e soluções encontradas pelas plantas para continuarem seu ritmo de vida. Elas, as plantas, "podem perceber o ambiente que as rodeia com uma sensibilidade mais elevada que a dos animais". Constituem o exemplo vivo da combinação entre solidez e flexibilidade. Sua resiliência é impressionante: são capazes de "resistir perfeitamente a repetidos eventos catastróficos sem perder a funcionalidade e de se adaptar com rapidez a enormes mudanças ambientais".

Ao contrário do que se imagina, as plantas são instrumentadas por capacidade de sobrevivência que é única, sendo talvez um dos organismos "mais modernos".

 

Aldo Ambrózio

Texto interessante sobre a repercussão do enunciado “A noivinha do Aristides” com o intuito de atacar a imagem de Bolsonaro.

De minha parte - sem julgar a intenção de quem fez isso circular com intensidade importante nas redes sociais - prefiro pensar que Bolsonaro não merece ser gay!

É uma experiência boa demais de viver para alguém com o grau de ressentimento que aflora nas falas, atos, atuações e até mesmo na estética apodrecida que compõem o personagem de Bolsonaro.

Ser o que ele é, do jeito que ele gosta de se exibir, já é, em si, a ofensa perfeita a lançar sobre ele: homofóbico, misógino, racista, machista, genocida, intelectualmente incapaz, grosseiro, tosco e, cereja do bolo, inútil!

*A Noivinha de Aristides e a Homofobia na Esquerda*

Sou policial rodoviário federal. E gay. E socialista.

Sempre me sinto constrangido quando o aparato policial é mobilizado de modo politicamente seletivo. A prisão da mulher que xingou Bolsonaro, realizada pela PRF, em Resende-RJ, nesse final de 2021, causou-me constrangimento (e também à maior parte dos policiais progressistas do país).

Não porque a detenção teria sido ilegal. Mas por sua seletividade.

Na ocasião, a protestante foi conduzida às barras da Justiça por ter injuriado o Presidente, o que nos levou a perguntar: quantos carros transitavam desfilando uma Dilma Rousseff de pernas arreganhadas, pronta para ser penetrada, a pouquíssimo tempo? Alguém teria sido preso naquela ocasião? Quantas vezes Jean Wyllys foi chamado de pedófilo e Lula de alcoólatra? Se viu algum flagrante? Ou estariam essas pessoas descobertas da capa de proteção jurídica que a todos deveria alcançar?

A atuação seletiva é constrangedora.

Como também tem sido constrangedor assistir à festança de uma esquerda que dança sorridente em um baile homofóbico por ela produzido.

A festa a que me refiro se chama *Noivinha de Aristides* e está sendo frequentada por muita gente.

Já vi anarquistas, comunistas, socialistas, sociais democratas – inclusive LGBTQIA+, vestidos de gala, estupefatos e convencidos de que vale tudo para “se vingar” de Bolsonaro.

Parece que estão a comemorar a chegada de um salvador frente a uma possível ausência de argumentos contra o governante dessa valsa bufa que se transformou o Brasil. Então, eis que desce dos céus, para a todos redimir, uma urdidura redentora!

Ocorre que, quando vista de pertinho, a alegação salvadora nada mais é que a requentada e velha homofobia.

“Ah, mas o caso da ‘Noivinha’ não é um apontamento homofóbico”.

É sim.

Comecemos pela “Noivinha”.

Aciona-se uma palavra no diminutivo e no feminino, representativa de um corpo meigo, desprovido de falo e, para alguns, carente de poder, na intenção de colocar a feminilidade em uma condição subalterna, desprestigiada, envergonhada, acuada, submissa ao macho. A isso chamamos machismo, não?

Logo em seguida vem o tal “Aristides”.

Mobiliza-se um instrutor de judô, que também é militar, para fazer a potencial punição pública mais profunda e potente. Chamamos isso falocentrismo, né?

Todo esse enredo argumentativo é construído para evidenciar que o “digníssimo presidente” poderia ter tido um relacionamento homoafetivo na época em que foi aluno-militar e para, logo em seguida, equiparar essa suposta relação a algo vergonhoso que - quando publicamente exposta, causaria sofrimento e humilhação.

Companheiro, menos!

Sabemos que utilizar argumentos que coloquem na mesma altura o fato de alguém “ser gay”, ou “ter tido um relacionamento homoafetivo”, ao sinônimo do “risível” é ser homofóbico. Ainda que se trate de uma “homofobia recreativa”.

Você sabe, há bastante tempo, que a homossexualidade não é uma condição que desqualifica ninguém. É apenas uma dentre as múltiplas possibilidades da sexualidade/existência humana. Por isso, lançar mão de um “viado” ou “baitola” [acreditando estar desqualificando alguém] é ser homofóbico.

E outra. Não quero generalizar. Mas, tenho percebido que aqueles que foram colocados no lugar do risível são os mesmos que são lançados no mercado da violência. E ela - a violência, nem sempre se apresenta no formato de um tapa. Ela pode vir como um riso, uma piada, uma gargalhada.

Uma história pessoal: eu demorei muitos anos (décadas) para exercer o “direito humano” de apresentar a pessoa que eu amava para minha família. Muitos outros LGBTQIA+ ainda não realizaram esse direito. E o fator impeditivo para que esse direito se realize nem sempre se apresenta no formato de “sopapo”, “soco” ou “porrada”. Ele vem embalado no riso cínico ou amargo [posterior a um silêncio constrangedor] ou na ferocidade de uma gargalhada. Estou querendo dizer que o riso pode sim ferir. Muito. Mas de forma bem mais dolorida ele fere as milhões de vítimas da LGBTfobia do que a Bolsonaro.

“Ah, mas queremos denunciar a incoerência”.

De quem? A nossa [da esquerda] ou a dele?

Se Bolsonaro teve um relacionamento com outro homem essa é uma questão dele. Se esse fato se deu no público ou no privado, essa situação jamais deveria ser acionada para causar sofrimento ao ser equiparada à vergonha.

“Ah, mas Bolsonaro ‘sentiu’”.

Putz. A ideia é se lambuzar na lama da vingança comemorada de acordo com a dose de sofrimento imposto ao outro?

“Ah, mas qualquer coisa que venha a irritá-lo vale a pena”.

Pode até valer a pena se a ideia for roubar o lugar dele. Agora vamos passar a ser os homofóbicos da história em substituição a ele, é isso?

“Ah, mas a intenção não é ofender”.

Mas está ofendendo. Então não deveria ser repensada essa estratégia?

“Ah, mas existem gays que também fazem essa brincadeira!”

Verdade. Mas sabemos que reproduzir preconceitos estruturais não é privilégios de alguns e que todes deveriam se comprometer em combatê-los.

“Ah, deixa de ser politicamente correto”.

OK. Então vamos voltar a achar graça quando diziam que alguns “quando não fazem na entrada, fazem na saída”. E vamos nos lambuzar nas lágrimas dos que eram tidos por “aleijados” ou “ceguinhos”.

Eita, minha gente.

Não é essa política que quero fazer.

Atormentar Bolsonaro não pode ser justificativa para acionar gatilhos doloridos ou para reforçar estereótipos no país que mais mata LGBTQIA+.

Vamos combater o bom combate! E combater o bom combate significa não replicar as opressões estruturais e não chafurdar no lamaçal que pertence a eles. Tenhamos certeza: eles sempre serão melhores que nós dançando nessa sujeira.

(Texto de *Fabrício Rosa*. PRF. Compõe a direção da RENOSP-LGBTI e dos Policiais Antifascismo)

 

Aldo Ambrozio

Gratidão ao amigo Eduardo Lara por compartilhar um texto preciso e precioso do Gabriel Zacarias (UNICAMP) no interior do qual a fase terminal e financeirizada de um capitalismo em escala planetária é relacionada a onipresença do cadáver insepulto do velho mundo em sua insistência/exigência de não permitir a emergência de um novo que, apesar de já existir, é colocado nas sombras por meio do deslocamento dos holofotes da atenção hegemônica para as inúmeras catástrofes que o velho exibe numa espécie de deleite sádico com a destruição do único planeta que serve de casa tanto para os operadores da máquina de destruição quanto para os que padecem dos efeitos deletérios de sua operação financeira-técnico-científico-militar azeitada com corpos, sangue e extinções em massa de biomas naturais.

Um motivo a mais para visitar esta Bienal que teve a coragem de expor que a fantasia (D-D’) do Capital Fictício ou Especulativo Parasitário pode custar a extinção de nossa própria espécie neste planeta Terra que vem dando sinais que já não nos suporta enquanto inquilinos descuidados-destruidores.

O velho mundo está morrendo: Reflexão sobre a barbárie da civilização capitalista e o reverso da globalização, a partir da 34a Bienal. Disponível aqui.

 

Paulo Brack

Direito à educação vai pro lixo. A direita dessa Província é impecável em destinar dinheiro da população pra encher as burras dos amigos do rei. Um desgovernador Milk Fake que destrói a democracia, a educação, a saúde, o meio ambiente, o Estado... E faz desdém da educação, sendo paparicado pela grande mídia, mercenária, por suas "façanhas modernizantes". Província de São Pedro atolada ainda mais na titica dos papagaios da RBS, do véio da Havan e de uma direita que surfa nos escombros do pior período da história pós-império no Brasil. Cabe irmos lá na frente do prédio do Instituto de Educação, algumas horas do dia, com mesas, panfletear e levar abaixos-assinados à população, e conversar com as pessoas na rua. Sim, conversarmos com as pessoas na rua! Além de nossas bolhas, denunciando a manobra eleitoreira do desgovernador, para não deixarmos que isso ocorra!! Educação, Saúde, Meio Ambiente, Água, Energia, Democracia, Vida Digna são direitos e não mercadoria!!

Aporte milionário prepara cessão de prédio do Instituto de Educação à empresa privada. Disponível aqui.

 

Cesar Benjamin

O site “O Antagonista” publica que o Clube Militar realizará palestra sobre “os efeitos adversos das vacinas contra a Covid e os riscos para a segurança nacional”. Será no dia 9 de dezembro, ministrada por Maria Emília Gadelha Serra, negacionista militante, que já entregou a Bolsonaro um dossiê contra as vacinas.

Por que não se calam?

 

Eunice Ostrensky

Programação linda, evento necessário neste final de ano. É na semana que vem.

Link da primeira mesa disponível aqui.

 

André Vallias

Cantar é uma maneira de se comunicar com as plantas, afirmam poetas na Flip.

JOÃO PERASSOLO

Como os seres humanos se comunicam com as plantas? Esta parece ter sido a questão principal a ocupar os autores da mesa "Fios de Palavra", a nona desta edição da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, nesta quarta-feira. De maneiras diferentes, os escritores convidados concordaram que o diálogo entre as espécies se dá por cantos ou sons que existem à parte da linguagem racional.

Para a poeta Júlia de Carvalho Hansen, ele acontece por cantos em línguas que ela não conhece, como o iorubá. Cecilia Vicuña, poeta e artista plástica chilena que trabalha desde os anos 1960 chamando a atenção do público para a destruição do meio ambiente, canta para as plantas, hábito que aprendeu com sua mãe.

"A única forma de se conectar com as plantas é entrar nesse espaço em que o humano não é exatamente humano, a planta não é a planta. É um espaço onde se produz outra forma de comunicação, outra realidade sonora", afirmou Vicuña.

A artista falou brevemente dos desastres mundiais e da destruição das florestas, não somente no Brasil. Segundo ela, ainda não começamos a reflorestar o planeta porque não estamos totalmente prontos para aceitar e encarnar o amor por tudo o que vive. Estamos semiprontos para atender a este momento urgente, ela disse, comparando esse estado humano com o de uma semente, um vegetal prestes a dar uma nova vida.

"A questão da semente é que, ao eclodir, ela perde a própria flor. Sempre que a semente brotar, ela precisa entrar em processo de transformação, que tem a ver com perder-se", completou Hansen, respondendo à uma pergunta da mediadora Ludmilla Lis sobre o que é semente e o que é raiz, ou seja, o que está para nascer ou o que está na profundidade de cada um.

O outro convidado, o poeta Leonardo Fróes —radicado há 50 anos na serra de Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, onde plantou uma floresta que viu nascer — fez uma comparação das plantas e dos animais com os homens. Se as árvores passam por um período de latência, quando no inverno secam e perdem as suas folhas, e lagartos hibernam nos meses de junho, julho e agosto, deixando a vida de lado por um tempo, "eu morro e renasço a cada dia", ele afirmou.

"Eu morro quando eu durmo, não sou mais a mesma pessoa, e eu renasço na manhã seguinte. Se nós compreendermos que vida e morte são a mesma coisa, nós vamos entender a lição do [filósofo francês Michel de] Montaigne, que escreveu que viver é aprender a morrer. A separação entre vida e morte é que me parece um pouco absurda."

Os três autores também falaram de seus processos de criação. Experientes, concordaram que os versos dos poemas lhes chegam prontos, "aterrissam no meio da noite", nas palavras de Vicuña.

 

Faustino Teixeira

Poesia vital de Adriana Lisboa é um respiro em meio a mundo asfixiante

Autora, que participa da Flip, se aproxima da natureza sem buscar que ela se torne metáfora do ser humano

Maria Esther Maciel

Entrar na esfera do que se configura como força vital, transformando essa experiência em um fluxo de palavras também vivas é o movimento que atravessa as páginas de "O Vivo", quarto livro de poesia de Adriana Lisboa, autora que participa da Flip na próxima sexta-feira.

Tendo em vista o cenário sombrio que impera em nosso planeta, especialmente no Brasil, onde as práticas necropolíticas se juntaram a uma devastação perversa e programada da natureza, pode-se dizer que os 49 poemas que compõem a primorosa edição da Relicário fazem um contraponto necessário a esse quadro por meio da delicadeza e da empatia, sem prescindirem de um olhar crítico e contundente sobre as relações entre a espécie humana e o mundo natural.

A escritora brasileira Adriana Lisboa, autora de 'O Vivo' - Lucero

Animais, plantas, flores, pedras, águas, ventos, entre outros seres e elementos da natureza são o principal foco da autora, sem que sejam convertidos em meras metáforas do humano ou pretextos para as elucubrações de ordem teórica.

Os viventes não estão ali para significar algo que os ultrapassa, mas vêm à tona como sujeitos que compartilham conosco a experiência da vida, cada um com sua singularidade e suas formas próprias de existência. Integram o que a própria Lisboa, evocando Ailton Krenak, chamou de "caleidoscópio da vida".

A via de acesso da poeta a esse caleidoscópio é menos pela razão do que pelas "palavras do coração" —no sentido dado a elas por Jacques Derrida no fragmento que serve de uma das epígrafes do livro.

Isso porque a autora sabe que, embora haja um conjunto de estudos científicos sobre os viventes nos campos da zoologia, da botânica e da etologia, tais conhecimentos se mostram insuficientes, já que o espaço íntimo das alteridades não humanas não se deixa apreender apenas pela investigação racional. Ele demanda, sim, outro tipo de entendimento, pautado nos sentidos, na empatia e na imaginação.

Daí a importância dada pela poeta à sensorialidade e ao exercício dos afetos, para que se torne possível uma aproximação mais verdadeira com esses outros.

O que fica explícito no poema intitulado "Cachorro", que contrasta as especulações da ciência sobre as faculdades visuais dos caninos com a troca de olhares entre uma mulher e um cão: "mas quando toco a ponta/ do meu nariz no seu/ e nossos olhos olhares se entrançam/ não há ciência/ talvez não haja nem mesmo história/ o que vê a mulher no cachorro e o que vê / na mulher o cachorro".

Se vários poemas apresentam nomes científicos de aves, anfíbios e plantas, como no "plumbato auriculata", focado no arbusto "bela-emília", com remissões afetivo-familiares, outros já se voltam para os atos de crueldade contra os animais, a exemplo do poema "outro vivo", que trata das experiências de laboratório com cães e ratos, da "lagosta escaldada viva" e do "boi eviscerado".

A esse repertório ainda se somam os poemas centrados na lastimável situação política do Brasil, a exemplo de "O Povo Foi às Ruas", "Bandeira" e "No Caminho do Templo".

Diálogos explícitos e implícitos com outros poetas também aparecem em diversas partes do livro, seja através de epígrafes, seja pelas referências inesperadas que permeiam alguns poemas, vide "Um Peixe Lê Drummond" e "Lida dos Cinquent’anos".

Para não mencionar o uso criativo que a autora faz de um artigo de jornal sobre um novo sofrimento climático chamado "solastalgia", que assola os habitantes do Ártico. Aliás, o poema com esse título, além de impressionante, é o mais longo de todos.

Assim, com uma linguagem límpida, imagética e sonora, Adriana Lisboa constrói um livro coeso, no qual a beleza se inscreve não apenas na tessitura verbal, mas também na maneira com que as questões éticas, políticas e ecológicas do nosso tempo são abordadas.

Ao convocar todas as formas de vida à coexistência e celebrar "o ar que inventa o pulmão", "O Vivo" chega como um respiro, um alento em meio à asfixia da realidade.

 

André Vallias

Democracia dos EUA depende do sucesso de um presidente diante da Covid e da inflação.

LÚCIA GUIMARÃES

A queda na aprovação de Joe Biden, demonstrada por sucessivas pesquisas desde agosto, é motivo de temor e confusão que não se restringem a membros do Partido Democrata.

Não é exagero afirmar que, se os democratas perderem o controle da Câmara e do Senado em novembro de 2022, estará aberto o atalho para uma segunda Presidência Trump.

Ou, se o empresário senil decidir que fatura mais levantando fundos com a mentira da eleição presidencial roubada, ele deve tolerar um candidato poste. Trump continua a ser o republicano mais popular, o mais formidável arrecadador de fundos e não hesita em perseguir seus desafetos dentro do partido.

A audácia demonstrada na tentativa de golpe de Estado no 6 de janeiro só vai ganhar força, já que a Justiça, ou melhor, o Departamento de Justiça não parece disposto a enquadrar os extremistas no topo.

A explicação mais simples para o infortúnio de Biden é resumida a duas palavras — pandemia e inflação. O democrata idoso deslizou para a frente de um grupo de candidatos em 2020 em meio à exaustão com a crise sanitária espetacularmente agravada por Trump.

A missão de Biden era clara: restaurar a normalidade pulverizada pelo caos trumpista. Mas o normal continua elusivo. Morreram mais americanos de Covid-19 em 2021, sob Biden, do que sob o renegado negacionista Trump, em 2020.

O país se aproxima de 800 mil mortes, apesar de três vacinas introduzidas há quase um ano. A fartura não se reflete na imunidade, porque a resistência aos fármacos virou bandeira na crise de saúde pública mais politizada da história do país. Os EUA ainda não conseguiram chegar a 60% de população imunizada com duas doses, meses após introduzir a terceira dose de reforço. A variante delta ainda é a principal ameaça, embora as manchetes, na última semana, tenham sido dominadas pela recém-identificada ômicron.

A pandemia selou a derrota de Trump e continua a definir a Presidência Biden. A rotina imposta pela Covid acirrou a percepção da desigualdade. Elites urbanas trabalham de casa via Zoom e compram gadgets para animar o isolamento — um cenário que provoca o rancor que favoreceu Trump em 2016.

Mas o retorno da inflação não fica atrás. Não adianta o governo tentar explicar que o problema é em parte decorrente da pandemia e de rupturas na cadeia de abastecimento e anunciar medidas paliativas.

A inflação de outubro, 6,2%, bateu recorde de três décadas e é diretamente responsável pela dificuldade dos centros de distribuição de alimentos para fornecer itens básicos a milhões de americanos que dependem da ajuda pública.

Os ambiciosos pacotes de estímulo econômico, proteções sociais e programas de infraestrutura de Biden contêm medidas populares que transcendem ideologia ou filiação partidária. Mas a pesquisa feita por um think tank democrata, logo após a vitória de um republicano ao governo da Virgínia, mostrou que eleitores não conseguiam citar uma só medida implementada pelos democratas desde que Biden assumiu.

Não falta quem acuse a imprensa política, preocupada demais em cobrir intrigas da corte, de negligência em explicar o impacto dos programas de Biden. Não há como comprovar esse argumento. Mas não resta dúvida de que, no momento, a democracia americana depende do sucesso de um presidente.

 

Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

 

André Vallias

Um governo de aldrabões

RUY CASTRO

É raro, mas quando acontece é para celebrar —ganhar um irmão numa palavra. É o que se dá quando descobrimos alguém que usou um termo que um dia aprendemos, adotamos e, como em nosso meio ninguém mais o fazia, passamos a achar de nossa propriedade. Até que a lemos em outrem. Pois é como me sinto agora em relação a Gregorio Duvivier: irmão em aldrabão.

Em sua coluna desta quarta (1°/12), ele se referiu às 100 mil palavras que os portugueses nos trouxeram da Corte, mas reservaram algumas para uso próprio no seu lado do Atlântico. Uma dessas, aldrabão —que, em oito letras, três das quais o a, e um humilde til, define em Portugal o farsante, mentiroso, trapaceiro, impostor, descarado, aquele que comete fraudes, patranhas, aldrabices.

Com deleite e estupor, descobri aldrabão em Lisboa, onde morei de 1973 a 1975. Foi ao assistir a um festival de clássicos da comédia americana, estrelados por comediantes famosos entre nós por outros nomes. Lá, os Irmãos Marx eram Os Grandes Aldrabões; os Três Patetas, os Três Estarolas; o Gordo e o Magro, o Bucha e o Estica; e Jerry Lewis, o Estoira-Vergas. Bem, para isso servem os dicionários. Um estarola é um deslumbrado, leviano, apatetado. Um estoira-vergas (verga é uma barra, uma vara, algo difícil de... vergar) é um estúpido, encrenqueiro, estouvado.

Aqui esses nomes teriam de denominar outras figuras. Aldrabões, por exemplo, são o que não falta no governo Bolsonaro. Se nos limitarmos a três, e só entre os ministros no cargo, eles seriam, a discutir, Onix Lorenzoni, Ciro Nogueira e Joaquim Álvaro Pereira Leite. Os Três Estarolas seriam, de barbada, os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos. O Estoira-Vergas, disparado, Paulo Guedes. E, em todas as categorias, cabe o próprio Bolsonaro.

Bucha e estica significam, literalmente, gordo e magro. Há gordos e magros no governo, e isso não é crime. Mas o Gordo e o Magro não eram canalhas.

Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

 

Pedro Albuquerque

Pastor Henrique Vieira, da Igreja Batista do Caminho: Escolha por André Mendonça para o STF é trágica

“Essa dimensão que o André Mendonça expressa é antidemocrática, antilaica, não respeita a divesidade cultural e religiosa do Brasil. Trata o Estado como extensão da sua doutrina. Do ponto de vista ético, político, democrático, republicano, acho uma escolha trágica. Porque revela uma moral conservadora, violenta, intolerante, insensível, de aparalhemento do Estado para um projeto doutrinário fundamentalista.”

 

Faustino Teixeira

Fui ontem, 02/11/21, assistir ao filme "Está tudo bem" (Tout s´est bien passé), do diretor François Ozon. Trata-se um filme interessante sobre a o direito de morrer com dignidade. Faz parte da seleção de filmes do Festival Varilux 2021, que está passando em Juiz de Fora num dos cinemas da UCI. A programação é bem mais curta que nos anos anteriores, sempre à noite, com alguns filmes sugestivos. Aconselho: "Enquanto vivo" (de Emmanuelle Bercot - a ser exibido no próximo domingo, dia 05) e "Nosso planeta, nosso legado" (terça, 07 de dezembro)

Do sumário:

"Emmanuèle, romancista realizada na sua vida privada e profissional, se dirige ao hospital onde o seu pai, André, acaba de sofrer um AVC. Fantasque, apaixonado pela vida, porém cansado, pede à sua filha para ajudá-lo a acabar com isso. Com a ajuda de sua irmã Pascale, ela terá que escolher: aceitar a vontade de seu pai ou convencê-lo a mudar de ideia".

 

Adelgicio De Paula

Creio que a Medicina está evoluindo na atenção ao chamado "doente terminal". Já existe uma especialidade chamada "tanatologia", que ajuda este tipo de paciente a realizar sua passagem para outra dimensão com ajuda médica, humana e espiritual. É uma área nova e portanto ainda com poucos recursos humanos, e que a Medicina com a Espiritualidade.