Breves do Facebook

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27 Outubro 2021

José Luis Oreiro

Tensão pré Copom. Eis de forma clara e cristalina como o "mercado" pressiona a sociedade e o Banco Central para aumentar a taxa de juros. E teve economista heterodoxo que foi "inocente útil" nessa farsa.

 

 

Cesar Benjamin

É isso que os filhos da puta chamam de "análise econômica": um aglomerado de chavões e banalidades, um raciocínio raso com estilo ginasial, que não esconde a pura e simples defesa de interesses dos rentistas. Fazem pose de gente séria e cobram caro para escrever essas porcarias. São esses caras que estão salvando o Brasil todos os dias nas televisões. Eles são "o mercado".

 

Paulo Gala

O plano da China de U$1,4 trilhão para dominar a indústria mundial de semicondutores até 2025. Disponível aqui.

 

Cesar Benjamin

Por aqui, estamos expandindo a produção de soja para alimentar os porcos que são servidos nos almoços dos engenheiros chineses que produzem semicondutores.

 

Edith Derdyk

 

José Luis Oreiro

Um presidente de banco de investimento é consultado pelo Presidente do Banco Central a respeito de medidas de politica monetaria e de crédito que afetam diretamente a rentabilidade do Banco de Investimento. A confissão está gravada e é publica. Se o Brasil for um país minimamente serio, o Senado Federal no uso de suas atribuições legais, deve DEMITIR imediatamente, o Presidente e toda a diretoria do BCB por prova irrefutável de captura do regulador do sistema financeiro pelo regulado.

Áudio de banqueiro mostra verdade sobre ‘independência’ do BC. Disponível aqui.

 

Cesar Benjamin

Muita gente está repassando um estudo recente do Insper, que aponta queda na concentração de renda no Brasil entre 2002 e 2016, durante os governos do PT.

O estudo é pífio -- como, aliás, tudo o que vi do Insper até hoje. Baseia-se no Índice de Gini, calculado sobre os resultados das PNADs, o que, como se sabe, deforma os resultados.

Em 2016, publiquei um longo estudo sobre isso, que começa assim: * * *

Entre 1942 e 1963 houve a mais expressiva e mais longa redução da desigualdade já registrada entre nós. O golpe militar de 1964 a interrompeu, dando início a um período de reconcentração. Essa tendência perdurou até 1992, quando os efeitos da Constituição de 1988 começaram a se fazer sentir. Nesse ano iniciamos uma nova trajetória de melhora que, em diferentes ritmos, durou até 2013. Terminou então esse ciclo recente, que podemos chamar de distribuição sem reformas.

A reversão de 2013 não foi logo percebida porque os dados estatísticos mostravam que a baixa classe média continuava crescendo. Nesse ano, porém, ela já não crescia por absorver grupos em ascensão. Ao contrário. Pessoas antes posicionadas em estratos superiores estavam caindo. Ou seja, a baixa classe média ainda crescia em 2013 porque a média classe média diminuía.

[...]

A base de dados mais tradicional são as Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílio (PNADs), do IBGE, bastante sérias, mas portadoras de uma grande limitação: as entrevistas domiciliares praticamente só recolhem informações sobre salários, aposentadorias e pensões, deixando de fora lucros, dividendos e outros ganhos de capital, heranças, rendas resultantes de patrimônio, investimentos financeiros e atividades afins, que nunca são citados.

Os dados das PNADs mostram, basicamente, o que ocorre no mundo do trabalho. Ao subestimarem grandemente as rendas mais altas, essas pesquisas não conseguem captar o comportamento da desigualdade como um todo. Pois em um país com renda muito concentrada, como o Brasil, o que determina as variações na desigualdade é o comportamento do topo da escala, onde está a maior parte da renda nacional. A desigualdade que existe dentro dos 90% que são pobres ou remediados tem pouca influência no resultado geral. Por isso as PNADs não são o instrumento adequado para medir a chamada distribuição funcional da renda, que separa trabalho e capital.

[...]

As pesquisas domiciliares indicaram corretamente melhoras na base da pirâmide social, provavelmente como efeito da maior geração de empregos formais e dos aumentos reais do salário mínimo, que é o indexador dos benefícios do sistema de Seguridade Social (Figura 4). Mas isso não foi suficiente para alterar a desigualdade total.

Houve mobilidade social entre os mais pobres, chegando até a baixa classe média, mas a partir desse patamar o movimento arrefeceu consideravelmente. Cresceu a concentração no topo – algo que as PNADs não captam –, pois os ricos continuaram a se apropriar da maior parte do crescimento da renda nacional. Por isso a desigualdade de renda, vista como um todo, não diminuiu e pode até mesmo ter aumentado. As pesquisas que usam os dados tributários mostram que a razão entre a renda do grupo 1% mais rico e o PIB voltou a crescer a partir de 2006.

* * *

O estudo completo está no link, abaixo.

Abraços,

Cesar Benjamin

Concentração de renda: Quase nada mudou nos últimos anos. Disponível aqui.

 

Cesar Benjamin

Ontem eu comentei aqui em casa – desculpem a franqueza -- que temos políticos e uma sociedade de merda. Os exemplos são muitos.

Somos o maior produtor e exportador mundial de carne. Vendemos milhões de toneladas para o exterior todos os anos. O dinheiro fica lá, pois as empresas exportadoras não precisam internalizar suas receitas, e o nosso próprio povo come cada vez menos carne.

Agora, estamos no osso e no pé de galinha.

Não temos um governo que diga: vou continuar apoiando as atividades produtivas e as exportações, mas quero que fiquem no Brasil, por exemplo, pelo menos 10% da nossa produção.

É o mínimo que as empresas têm que ser obrigadas a fazer. Pois recebem imensos subsídios governamentais, diretos e indiretos, usam o território, a água e a infraestrutura do Brasil, contam com o apoio da Embrapa, uma empresa pública, para não deixar nada aqui.

Não estou falando em confisco, mas simplesmente em uma cota de vendas destinada ao mercado interno. Só isso.

Extensivo aos produtos agrícolas, é claro.

Brasil sem fome em primeiro lugar. Depois vem o restante.

'Prosperidade comum': a doutrina 'igualitária' que avança na China e impacta o mundo. Disponível aqui.

 

José Luis Fevereiro

texto do Edilson Silva que precisa ser lido

Sobre Lula, Frente Ampla e a prepotência do PT como cultura política —-

Começo esta reflexão já dizendo que tenho receio de fazer críticas a Lula de forma pública, ou mesmo formular opiniões que não estejam enquadradas dentro do que permite a censura lulo-petista (este termo homenageia figuras de cultura distinta, como Suplicy e Tarso Genro), pois existe uma patrulha petista incivilizada, que se potencializou muitíssimo com o advento das redes sociais digitais. Mesmo assim sigo fazendo-o, pelo compromisso com a honestidade intelectual e com o debate de ideias sem o qual a política vira mera briga de torcidas.

Importante demarcar logo de saída também um ponto de localização política conjuntural: a necessidade de ampla frente política para se derrotar o bolsonarismo, via impeachment, decisão da Justiça Eleitoral, ou nas eleições de 22. E diante desta necessidade, o bom senso e o incontornável pragmatismo apontam que a elegibilidade e a candidatura de Lula, combinados com os dados das pesquisas de intenção de voto que lhe dão maior margem de vantagem sobre Bolsonaro, sacramentam o ex presidente como o que reúne as melhores condições para liderar uma frente ampla, razão pela qual me incluo entre os que advogam esta tese. Ponto.

Necessário dizer ainda, antes de entrar no grão desta reflexão, que o ex Presidente Lula tem feito uma peregrinação política com mais acertos que erros na construção de sua candidatura. Tem buscado alargar apoios e isolar Bolsonaro. Há quem diga que assim o faz como sempre o fez, independente de estar buscando uma frente ampla com as especificidades que as urgências exigem. Pode ser que sim, mas a dramaticidade da conjuntura - sorte dele - lhe dá a licença política para trilhar por um velho caminho como se novo fosse.

Dito isto, vem agora a necessária crítica à prepotência do PT como cultura. Esta prepotência aparece no campo do pretenso debate politico e na busca não de um hegemonismo politico-eleitoral no campo da esquerda e centro esquerda, mas de uma supremacia, como se nenhuma outra força pudesse surgir e questionar a majestade do PT neste campo. Neste xadrez, sobram paciência e justificativas para se alinhavar com forças de centro-direita e direita, ou golpistas como se convencionou chamar após o impeachment da presidenta Dilma. E sobram intolerância, acidez e desqualificação aos parceiros do quadrante progressista mais à esquerda.

Nos últimos anos, de Bolsonaro no poder, um desafeto em especial tem recebido desta patrulha incivilizada toda sorte de críticas, covardias e fake news: Ciro Gomes. Este, conhecedor do histórico do “corredor polonês” que tiveram que passar Cristovam Buarque, Marina Silva, Heloísa Helena, e que estava passando Eduardo Campos antes de falecer naquele trágico acidente - todos dissidentes da nau Lulo-petista - passou a ter uma estratégia de confronto, de bateu-levou, e de bater até sem levar. Ciro entrou na trocação, tem a ver com sua essência também, “foi pra Paris”, o que acabou camuflando o que é desde há muito uma cultura de prepotência construída pelo PT.

Mas esta camuflagem se desnuda quando vemos as críticas ácidas contra Boulos e o PSOL, tão dóceis ao lulo-petismo. Quando vemos a presidenta da UNE, mulher, negra, nortista, do PCdoB, outro partido aliado nas melhores e piores horas do petismo, ser desqualificada por dar entrevista à imprensa e falar exatamente desta rede de ódio que existe na esquerda e que forma com esta prepotência cultural dos “petistas” uma química insuportável, e que abre as portas para um antipetismo subjetivo, vindo não de bolsonaristas ou gente anti esquerda, mas de qualquer um que experimente este dissabor.

O fato de Lula estar em melhores condições de estar à frente de uma ampla coalizão política não implica adesão acrítica à sua candidatura. Não implica fechar os olhos para os erros políticos do PT no passado e que contribuíram sim para o impeachment de Dilma, a prisão de Lula e consequentemente para a eleição de Bolsonaro. Não implica dizermos amém para os graves problemas econômicos não tratados adequadamente nos governos de Dilma, sobretudo.

Há sempre à disposição o suposto argumento de que são grupos e pessoas isoladamente que tratam os aliados com esta despolidez e truculência, como um Zé de Abreu da vida. Mas não é difícil ver figuras de proa, como o Pres do Diretório Estadual do PT de São Paulo agir com similar prepotência e descuidado.

Deixo como parte desta reflexão esta fala curta e pedagógica de um dos maiores intelectuais da esquerda brasileira, José Paulo Neto, tratando exatamente desta cultura de prepotência, que é uma fábrica de antipetistas.

*Edilson Silva (ex deputado estadual, Pres da Unegro/Recife e membro da Comissão Política Estadual do PCdoB PE).

 

Cesar Benjamin

Em meados de 1971, durante a ditadura, eu morava clandestino numa casinha de sapê no sertão da Bahia, num lugar tão ermo que eu mesmo tinha dificuldade de encontrar. Frequentemente me perdia nas trilhas que deveriam me levar até minha casa. A luz da tarde começava a desaparecer. Eu sabia, então, que não adiantava seguir procurando o caminho certo, pois o Cerrado é uma paisagem homogênea, sem referências, na qual nos deslocamos curvados, olhando para o chão. Precisava preparar um lugarzinho no meio do mato, esperando o dia seguinte raiar.

Eu caminhava a pé longas distâncias, rotineiramente, entre a minha área de recuo, chamada Cangula, e os contatos com o nosso pessoal no Recôncavo Baiano, que eu coordenava.

Precisei vir ao Rio em meados do ano para uma reunião. Não deu outra: fui localizado e atacado pela polícia política. Consegui fugir com a roupa do corpo, sem um tostão. Meus documentos (falsos) foram apreendidos.

Minha organização precisava de três dias para refazer documentos para a minha viagem de volta, já com outro nome. Apelei, então, a um velho amigo, que me abrigou. Ele e a mulher saíam para trabalhar de manhã e voltavam à noite.

Vivendo no sertão sem água corrente e sem luz, estando por aqui apenas de passagem, passei três dias ouvindo Echoes, do Pink Floyd, em vinil. Acho que tinha sido recém-lançado.

Eis-me aqui, quase 50 anos depois, trabalhando e... ouvindo Echoes, não mais com a formação original do Pink Floyd, mas com o mesmo prazer.

Abraços,

Cesar Benjamin

 

 

José Luis Fevereiro

Paulina Chiziane vencedora do prêmio Camões de literatura

 

Cesar Benjamin

DARCY RIBEIRO

Hoje, há 99 (quase 100!) anos nasceu Darcy Ribeiro, um dos grandes brasileiros do século XX. Há alguns anos, eu estava em trânsito quando recebi um convite para seguir para um evento chamado “Darcy Ribeiro, que falta ele nos faz”. A mesa era sobre os “fazimentos” de Darcy. Tomei algumas notas e fiz uma fala de improviso sobre aquele que foi, ao meu ver, o maior “fazimento” dele. Está no vídeo.

 

Roberto D'Araujo

Paulo Guedes acha que a Petrobras não vai valer nada. A eletricidade vai substituir.

Então, a Eletrobras vai valer muito! Por isso, vende também!

 

Cesar Benjamin

Bolsonaro anunciou a intenção de privatizar a Petrobras. Paulo Guedes completou, dizendo que ela valerá zero daqui a trinta anos.

Ou seja, na visão deles, tem que ser vendida baratinho.

 

André Vallias

Um banqueiro e dois golpes

CRISTINA SERRA

O portal de notícias Brasil 247 publicou o áudio de animada conversa entre o banqueiro André Esteves e um grupo de clientes. É uma aula sobre os donos do poder no Brasil, entrecortada por risadas típicas de quem está ganhando muito dinheiro, ainda que o país esteja uma desgraça.

O banqueiro faz questão de exibir sua influência junto às mais altas instâncias do poder político, com uma mistura de cinismo e boçalidade envernizada, própria de quem se acha educado só porque sabe usar os talheres. Esteves jacta-se de seu prestígio junto ao presidente da Câmara, Arthur Lira. Gaba-se do acesso ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a ponto de este tê-lo consultado sobre o nível da taxa de juros, atitude que é um escândalo de relações carnais entre o público e o privado.

Vangloria-se de ter influenciado a decisão do STF favorável à independência do Banco Central, informando ter conversado com alguns ministros antes do julgamento. Só não revelou quais. E expõe o motivo de tanto empenho. Se Lula for eleito, "vamos ter dois anos de Roberto Campos". Esteves considera que Bolsonaro, se "ficar calado" e trouxer "tranquilidade institucional para o establishment empresarial", será o "favorito" em 2022.

Em tortuosa análise sobre o Brasil, Esteves compara o impeachment de Dilma Rousseff ao golpe de 1964: "Dia 31 de março de 64 não teve nenhum tiro, ninguém foi preso, as crianças foram pra escola, o mercado funcionou. Foi [como] o impeachment da Dilma, com simbolismos, linguagens, personagens da época, mas a melhor analogia é o impeachment da Dilma"

A comparação é um insulto aos milhares de presos, perseguidos, torturados e assassinados na ditadura, mas o raciocínio de Esteves faz sentido ao aproximar (talvez sem querer) as duas datas infames: 1964 e 2016 foram golpes. A conversa desinibida do banqueiro desnuda, de maneira explícita, um país refém de meia dúzia de espertalhões do mercado financeiro.

Cristina Serra é paraense, jornalista e escritora. É autora dos livros “Tragédia em Mariana - a história do maior desastre ambiental do Brasil” e “A Mata Atlântica e o Mico-Leão-Dourado - uma história de conservação”.

FSP 25.10.2021

 

Paulo Victor Leite Lopes

Saiu a resenha que fiz do livro "Doces Santos" na mais recente edição de Religião & Sociedade - com um dossiê, aliás, muito interessante ao refletir sobre Religiões e Pandemia (org por Carly Machado e Mariana Côrtes).

Segue um trecho do meu texto:

“Pegar doce” ou “dar doce” são expressões comuns no subúrbio carioca, sobretudo, nos dias que antecedem a festa de Cosme e Damião. Formuladas na interseção entre culturas e religiosidades populares, essas sentenças evocam lembranças e sentimentos de pertencimento daquelas e daqueles que as enunciam. Constituem memórias, pessoas, sociabilidades e sentimentos. O doce que se trata é mais que um alimento. Como somos lembrados em “Doces Santos: devoções a Cosme e Damião”, coletânea organizada por Renata Menezes, Morena Freitas e Lucas Bártolo, mais que degustativo, o doce é adjetivo e metafórico.

Se os doces não são apenas doces, também os santos não são só católicos, os gêmeos não são dois, e as Crianças não são crianças. Por meio dos seus 11 capítulos, a obra oferece não apenas um quadro denso sobre a “especificidade da forma carioca” de devoção a Cosme e Damião, mas, em razão da combinação de diferentes abordagens metodológicas e campos de investimentos das autoras e autores, deve ser lida como uma potente reflexão sobre as transformações no Brasil contemporâneo a partir de enquadramentos caros à antropologia da religião e da devoção, da festa e dos rituais, da alimentação, da família, infância e das gerações, da política, do patrimônio, da arte, das materialidades e da cidade. (...)

Por fim, é preciso pontuar que a potência do livro também está na eleição do tema e do seu enquadramento. Ao trazer aportes e interpretações acerca de uma devoção articulada no espaço público e a partir da centralidade das crianças, contribui para reflexões e enfrentamentos em torno da intolerância religiosa, observando suas manifestações, apontando transformações e caminhos, como também relatam a resistência daquelas e daqueles que permanecem ocupando as ruas, não abrindo mão desses espaços para convívio, partilha e realizações coletivas. Além disso, ao lançar luz acerca das presenças e elaborações sobre/das crianças físicas e espirituais, demonstra o poder e os agenciamentos dos seus conhecimentos e brincadeiras, evidenciando que a infância não é só momento de aprender, mas forma de educar, ser educado e experimentar a vida. Nessa direção, concluo a escrita desta resenha revelando que durante a leitura revivi algumas experiências de receber e dar doces de Cosme e Damião que, desejoso de compartilhar essa dádiva, também me faz convidar a leitora e o leitor a correr atrás desse livro-oferta, uma espécie de saquinho de doces (e dos bons!) dado a todas e todos nós!

Um doce de livro. Disponível aqui.