Apreciada economista, a irmã Alessandra Smerilli, de 47 anos, religiosa das Filhas de Maria Auxiliadora, salesianas de Dom Bosco, foi chamada para desempenhar uma nova tarefa a partir de hoje. O Papa Francisco a nomeou subsecretária do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral para o setor de Fé e Desenvolvimento. Em seu currículo, destacam um doutorado em Economia Política na Universidade La Sapienza, de Roma, e um doutorado em Economia, na Universidade East Anglia, de Norwich (Grã-Bretanha).
Também é professora de Economia Política, na Pontifícia Faculdade de Ciência da Educação “Auxilium” de Roma. Seu compromisso com a Igreja a levou a fazer parte do Comitê Científico e Organizador da Semanas Sociais dos Católicos, desde 2019 é conselheira de Estado do Vaticano e desde março de 2020 é coordenadora do Grupo de Trabalho de Economia da Comissão Covid-19 do Vaticano, criada pelo Papa Francisco. Entre seus livros: “Economia da mulher. Da crise uma nova temporada de esperança”.
Na quinta-feira, 26-08-2021, o Papa Francisco a nomeou secretária ‘ad interim’ da Comissão Covid-19 do Vaticano. Abaixo, reproduzimos entrevista concedida por Smerilli, em março deste ano, dada na ocasião da sua nomeação para o Dicastério.
A entrevista é publicada por Religión Digital, 20-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Como recebeu esta nomeação e com que espírito empreende este novo serviço?
Sinceramente, me surpreendeu um pouco esta nomeação, porque cheguei a trabalhar aqui no Dicastério como colaboradora da Comissão Covid-19. Pensei que era um trabalho temporário, porém chegou esta nomeação e me surpreendeu. Trabalhando aqui percebi a bonita missão do Dicastério e como chega ao mundo inteiro. Sinto-me agradecida ao Santo Padre e ao prefeito do Dicastério, o cardeal Turkson, a todos os que trabalham nele e que mostram sua confiança em mim. Espero poder contribuir com meu grãozinho de areia.
Você, como subsecretária, estará ocupada em particular com a fé e o desenvolvimento. Como economista, que contribuição podes fazer a este novo compromisso?
Acredito que o trabalho acadêmico que tenho feito até agora possa me ajudar tanto na minha compreensão do mundo econômico quanto na minha compreensão dos economistas ao redor do mundo. Creio também que a missão do Dicastério, em particular na vertente Fé e Desenvolvimento, é acompanhar as Igrejas locais e assim traduzir, em termos pastorais, os conhecimentos e as aptidões econômicas existentes. Estou ansiosa para dar a minha contribuição e colaborar com todos para unir o Evangelho e a economia.
Por um ano, você trabalhou na Comissão do Vaticano para Covid-19. O que pode a Igreja fazer para não perder esta oportunidade de “sair melhor da crise”, como pede o Papa?
Da Comissão Covid-19, com a qual estamos fazendo um trabalho muito intenso – trabalho no Grupo 2, onde se elaboram as análises e propostas –, aprendi algumas coisas e acho que são as que podem servir para “sair melhor” desta crise. A primeira é que devemos ouvir muito as realidades locais e os problemas causados por esta crise, especialmente os mais vulneráveis, os mais pobres e os excluídos. No entanto, como Igreja, não temos simplesmente a tarefa de ouvir e apoiar os necessitados ou ajudar em emergências.
Como Igreja, e isso é reconhecido, também temos a capacidade de reunir à mesa muitas pessoas e instituições diferentes e fazê-las dialogar. Isso é o que aprendemos com a Comissão Covid: criar parcerias, conectar o mundo em algumas questões importantes, por exemplo, alimentos, vacinas para todos, trabalho, qual será o trabalho do futuro, desigualdades que estão aumentando, etc. Tudo isso em termos econômicos porque as consequências econômicas serão as predominantes para esta crise. Como Igreja, temos também o dever de elevar o tom do debate, de inspirar visões, não focar apenas no que precisa ser feito, mesmo que tenhamos que trabalhar no concreto, mas ter uma perspectiva que é o que às vezes parece estar faltando hoje. Se contribuirmos para isso, ajudaremos todos a saírem melhor desta crise, mas para isso devemos primeiro ser a mudança que queremos ver no mundo.
Tendências econômicas do mundo contemporâneo. Artigo de Alessandra Smerilli. Cadernos IHU Ideias, Nº 275
Com a sua nomeação, aumentou o número de mulheres em cargos importantes na Cúria Romana. Que impulso você acha que esta presença feminina pode trazer para a obra da Santa Sé?
Acredito que não podemos olhar o mundo com um só olho porque não é uma visão correta, portanto acredito que colaborar significa antes de tudo ter um olhar mais plural da realidade! Estou impressionada com o debate que tivemos no Sínodo dos Jovens e com o que lemos no documento final do Sínodo, do qual participei e que me enriqueceu: aí voltamos ao texto do Gênesis: “Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, homem e mulher os criou”, e isso significa que homem e mulher são a imagem de Deus, de um Deus que é comunhão. Essa vocação de aliança e reciprocidade deve realizar-se não só no âmbito familiar, mas em todas as demais esferas da vida, inclusive no ambiente de trabalho. Creio que também na Cúria Romana é necessário viver esta reciprocidade para melhor expressar a riqueza do nosso Deus que é comunhão.