“Fratelli Tutti”: Papa propõe fundo mundial contra a fome, financiado por atuais despesas militares

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05 Outubro 2020

Nova encíclica retoma rejeição da pena de morte e diz que guerras são injustificáveis, face ao poder destruidor das armas.

A reportagem é publicada por Agencia Ecclesia, 04-10-2020.

O Papa Francisco propõe na sua nova encíclica ‘Fratelli Tutti’, publicada hoje pelo Vaticano, a criação de um fundo mundial contra a fome, que seria financiado pelas atuais despesas militares.

“Com o dinheiro usado em armas e noutras despesas militares, constituamos um Fundo mundial, para acabar de vez com a fome e para o desenvolvimento dos países mais pobres”, refere.

A primeira encíclica do atual Papa em mais de cinco anos tem como temática central a fraternidade e amizade social, sob inspiração da figura de São Francisco de Assis (1182-1226).

Francisco propõe um ideal de não-violência, particularmente em relação à guerra e à pena de morte, considerando que estas “nada mais fazem que acrescentar novos fatores de destruição no tecido da sociedade nacional e mundial”.

O documento recorda que o Catecismo da Igreja Católica fala da possibilidade duma “legítima defesa por meio da força militar”, mas refere que tem havido uma “interpretação demasiado larga deste possível direito”.

“Conferiu-se à guerra um poder destrutivo incontrolável, que atinge muitos civis inocentes”, observa o Papa.

Para Francisco, “hoje é muito difícil sustentar os critérios racionais amadurecidos noutros séculos para falar duma possível ‘guerra’, pedindo que a discussão deixe o plano teórico e se centre nos “civis massacrados, como ‘danos colaterais’”.

“Às vezes deixa-me triste o fato de, apesar de estar dotada de tais motivações, a Igreja ter demorado tanto tempo a condenar energicamente a escravatura e várias formas de violência. Hoje, com o desenvolvimento da espiritualidade e da teologia, não temos desculpas”, aponta.

Quanto à pena de morte, a nova encíclica sublinha que “a vingança não resolve nada” e que as decisões judiciais devem procurar “evitar novos crimes e preservar o bem comum”.

“Hoje, afirmamos com clareza que ‘a pena de morte é inadmissível’ e a Igreja compromete-se decididamente a propor que seja abolida em todo o mundo”, assume, condenando em particular “as chamadas execuções extrajudiciais ou extralegais”.

Em 2018, o Papa Francisco ordenou a alteração do número do Catecismo da Igreja Católica relativo à pena de morte, cuja nova redação sublinha a rejeição total desta prática.

Todos os cristãos e homens de boa vontade estão chamados hoje a lutar não só pela abolição da pena de morte, legal ou ilegal, em todas as suas formas, mas também para melhorar as condições carcerárias, no respeito pela dignidade humana das pessoas privadas da liberdade. E relaciono isto com a prisão perpétua”.

A ‘Fratelli Tutti’ saúda os 75 anos de existência das Nações Unidas e a experiência dos primeiros 20 anos deste milénio para sublinhar que “a plena aplicação das normas internacionais é realmente eficaz e que a sua inobservância é nociva”.

Francisco destaca que a reconciliação exige memória e que há acontecimentos – como o Holocausto ou os bombardeamentos atômicos de Hiroshima e Nagasaki – que não se podem esquecer.

“Também não devemos esquecer as perseguições, o comércio dos escravos e os massacres étnicos que se verificaram e verificam em vários países, e tantos outros factos históricos que nos fazem envergonhar de sermos humanos”, prossegue.

O Papa realça que os cristãos são chamados a amar todos, incluindo os seus inimigos, mas precisa que “amar um opressor não significa consentir que continue a ser tal nem levá-lo a pensar que é aceitável o que faz”.

A encíclica é o grau máximo das cartas que um Papa escreve e a expressão ‘Fratelli Tutti ‘ (todos irmãos) remete para os escritos de São Francisco de Assis, o religioso que inspirou o pontífice argentino na escolha do seu nome.

As duas anteriores encíclicas do atual pontificado foram a ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé), de 2013, que recolhe reflexões de Bento XVI, Papa emérito; e a Laudato Si’, de 2015, sobre a ecologia integral.

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