Munique. Cardeal planeja que leigos liderem paróquias

Mais Lidos

  • “Os israelenses nunca terão verdadeira segurança, enquanto os palestinos não a tiverem”. Entrevista com Antony Loewenstein

    LER MAIS
  • Golpe de 1964 completa 60 anos insepulto. Entrevista com Dênis de Moraes

    LER MAIS
  • “Guerra nuclear preventiva” é a doutrina oficial dos Estados Unidos: uma visão histórica de seu belicismo. Artigo de Michel Chossudovsky

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

29 Março 2017

Agrupamento de paróquias não é uma boa resposta à falta de padres, diz cardeal alemão Reinard Marx, alto assessor e conselheiro do Papa Francisco.

A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por La Croix International, 27-03-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

O Cardeal Reinhard Marx anunciou planos de permitir que leigos liderem paróquias em sua Arquidiocese de Munique, onde não há sacerdotes.

Ao fazer isso ele rejeitou fortemente a opção cada vez mais comum de lidar com a diminuição de ministros ordenados combinando ou "agrupando" paróquias.

O cardeal de 63 anos é um dos principais assessores e conselheiros do Papa Francisco.

Ele disse recentemente aos 180 membros do Conselho Diocesano de Munique - seu corpo de leigos mais importante - que era importante preservar paróquias individuais como forma de garantir a presença da Igreja em nível local.

Falando na assembleia plenária do Conselho, em 18 de março, o cardeal disse que a Arquidiocese de Munique introduziria um projeto piloto com novos modelos de liderança paroquial durante a temporada de outono. Especificamente, ele disse que equipes de leigos voluntários em tempo integral assumiriam as paróquias.

Ele reiterou sua convicção de que criar entidades paroquiais cada vez maiores através do agrupamento de paróquias não era o melhor caminho.

Este movimento é significativo, já que o cardeal Marx é membro do grupo consultivo de cardeais do Papa (C9) e coordenador do Conselho do Vaticano para a economia.

“Estamos passando por uma grande revolução na Igreja, no momento”, disse o cardeal.

Recordando que o Concílio Vaticano II (1962-1965) havia discutido o "sacerdócio de todos os fiéis", ele disse que nem todas as possibilidades em relação a isso haviam sido pensadas adequadamente.

Ele acrescentou que havia até mesmo escopo no direito canônico para uma maior participação dos leigos.

“A igreja local é mais importante. Nós perderíamos muitas oportunidades se tivéssemos de abrir mão de nossas raízes territoriais. É uma questão de permanecer visíveis localmente", enfatizou Marx.

Ele disse que estava convencido de que o trabalho pastoral deve estar alinhado aos recursos e carismas disponíveis localmente.
“Milhares de pessoas me disseram que têm certeza de que vale a pena disponibilizar seu tempo para participar e fazer o trabalho pastoral nas paróquias”, disse o cardeal, acrescentando que agora seria necessário olhar mais de perto as vocações destes paroquianos comprometidos.

Marx disse que nas condições atuais da Alemanha, as paróquias locais teriam que ser reorganizadas. Ele observou que apenas um candidato ao sacerdócio tinha chegado à arquidiocese de Munique este ano.

Portanto, além de reorganizar as paróquias, os atuais requisitos de admissão ao sacerdócio também teriam que ser discutidos. Ele disse que isso incluía a possibilidade de ordenar homens casados de virtude comprovada, ou, como diz o termo em latim, viri probati.

No entanto, o cardeal admitiu que quando o Papa Francisco mencionou essa possibilidade em uma entrevista recente ao jornal semanal alemão Die Zeit, ele não estava pensando na Alemanha: "ele estava se referindo a dioceses em áreas remotas, como a floresta tropical no Brasil, onde os católicos só recebem a Eucaristia uma vez por ano, na melhor das hipóteses”.

O Cardeal Marx disse que seu projeto piloto era realmente uma reação à falta de padres, "mas também ao fato de que nem todos os sacerdotes estão em posição para liderar paróquias".

Ele considerou importante que os bispos auxiliares e vigários episcopais se reunissem com membros da paróquia nestas regiões e, depois de escolher o local e selecionar a equipe de líderes leigos, discutir as estruturas e a organização paroquial. Cada projeto teria acompanhamento e monitoramento regular.

O cardeal disse que as paróquias não devem lamentar o passado, mas se concentrar no que podem fazer com os dons e talentos disponíveis localmente. Ele disse que os bispos também tinham que continuar aprendendo. E admitiu que, considerando a época em que se tornou arcebispo de Munique, ele rejeitaria o projeto piloto que está propondo agora.

O projeto piloto é baseado no plano pastoral de 2013 da arquidiocese, “Oportunidades e Desafios para a Vida Local da Igreja a partir de uma Perspectiva Sócio-demográfica”, e diz que as paróquias devem se concentrar nos seis pontos abaixo para o futuro:

1. Tendo em vista o fato de que, no futuro, haverá muito mais imigrantes, especialmente entre os jovens, as paróquias devem se concentrar na imigração, no desenraizamento e em fazer as pessoas se sentirem em casa;

2. Os pontos de contato devem ser estabelecidos de forma a atender e acolher os recém-chegados;

3. O trabalho pastoral de evangelização consiste em explicar repetidamente “o que nós acreditamos, o que fazemos, por que e como fazemos”;

4. Ajuste e modernização da linguagem da Igreja para torná-la mais compreensível;

5. Criação de uma pastoral especial para os solteiros; e

6. Criação de uma pastoral especial para adolescentes e jovens adultos.

Em suas "Orientações para as Atividades Pastorais" de 2016, o cardeal Marx lembrou os sacerdotes da arquidiocese que o ponto de ancoragem fundamental do trabalho pastoral é uma "clara alternativa" para as pessoas em necessidades materiais e espirituais.

“Lendo os Evangelhos, você vai encontrar uma orientação clara - não para amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo aos pobres e doentes que são tantas vezes desprezados e esquecidos e não podem recompensar ninguém”, disse ele.

Com citações frequentes de Evangelii Gaudium e Gaudium et Spes, o cardeal lembrou os seus colegas padres que eles foram todos chamados a sair de suas zonas de conforto e ir para as periferias. A Eucaristia era um poderoso remédio e alimento para os fracos, disse ele.

Marx disse que a Igreja ainda precisava de muitos locais diferentes e bem conectados para o seu trabalho pastoral. É imperativo que a vida da Igreja se mantenha viva localmente para que as pessoas continuem encontrando a mensagem do Evangelho.

E sublinhou que, como a Eucaristia permaneceu sendo a fonte e o ápice da vida e das atividades da Igreja, ela deve estar sempre no centro do palco.

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Munique. Cardeal planeja que leigos liderem paróquias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU