A grande onda do pentecostalismo no Brasil e as propostas de alguns bispos para enfrentar a perda de fiéis

Mais Lidos

  • “Os israelenses nunca terão verdadeira segurança, enquanto os palestinos não a tiverem”. Entrevista com Antony Loewenstein

    LER MAIS
  • Golpe de 1964 completa 60 anos insepulto. Entrevista com Dênis de Moraes

    LER MAIS
  • “Guerra nuclear preventiva” é a doutrina oficial dos Estados Unidos: uma visão histórica de seu belicismo. Artigo de Michel Chossudovsky

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

17 Março 2017

Em fins de 2016, o Instituto Datafolha publicou uma pesquisa que fez ressoar uma campainha de alarme na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O estudo mostra que, nos últimos dois anos, 9 milhões de pessoas abandonaram o catolicismo no país. Em 2014, a porcentagem da população que declarava ser católica era de 60%, ao passo que em dezembro de 2016 baixou para 50%. No mesmo período, os fiéis pentecostais ou neopentecostais passaram de 18% a 22%. Embora a recente baixa na porcentagem de católicos não foi acompanhada por uma ampla expansão dos fiéis pentecostais ou neopentecostais, o que preocupa os bispos é outro dado: a metade dos que declaram ser pentecostais ou neopentecostais provém da Igreja Católica, onde haviam crescido.

A reportagem é de Rafael Marcoccia, publicada por Tierras de América, 16-03-2017. A tradução é do Cepat.

Recentemente, a CNBB organizou um encontro para discutir o crescimento das igrejas pentecostais e neopentecostais. As conclusões identificam diversas causas: os evangélicos contam com uma estrutura mais dinâmica e podem chegar às pessoas de uma forma mais rápida, em qualquer lugar onde estejam; aproveitam a ingenuidade ou a má formação dos católicos – sobretudo, os que vivem nas zonas rurais ou nas periferias das grandes cidades – e levam adiante uma intensa propaganda contra o catolicismo; por último, os evangélicos recorrem a uma forte carga emocional para atrair as pessoas.

Como os bispos focalizam estes problemas? Como podem responder à realidade? Que propostas podem ser úteis para inverter a situação?

Na CNBB, todos estão de acordo em que as respostas oferecidas pelos pentecostais ou neopentecostais àqueles que possuem problemas de saúde, acidentes ou situações graves são mais atrativas que as católicas. “Muitas vezes, a razão pela qual as pessoas deixam a Igreja Católica é de tipo material: a promessa de uma ajuda material que praticamente compra, adquire a pessoa, e depois a deixa com a sensação de ter sido traída e desiludida”, afirma dom Francisco Biasin, presidente da Comissão de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CNBB.

Contudo, o problema principal é que não há um ponto de encontro com estas pessoas que têm dificuldades. “Temos que ser mais missionários, encontrar a forma de estar mais presentes nas periferias e no interior, fazer tudo o que for possível para que haja uma figura de referência em cada comunidade”, afirma o cardeal de São Paulo, dom Odilo Scherer. “O importante é buscar os fiéis em suas casas, nas escolas, nas instituições. Ser uma Igreja projetada para o exterior.

Por isso, uma das propostas da CNBB é que o bispo eleja, em cada caso, ao menos dois leigos reconhecidos como católicos que sejam um ponto de referência para seus vizinhos e animem a comunidade. “Que a comunidade perceba que há alguém que está ali em nome do bispo, em nome da Igreja, que os anima e que também os ajuda a enfrentar as dificuldades, os problemas, as discussões, os distanciamentos, que tornam presente a misericórdia. Acredito que, de certa forma, é este elemento que falta bastante na realidade”, afirma dom Leonardo Steiner, secretário geral da CNBB.

Além disso, também é preciso oferecer nas próprias comunidades – e não nas paróquias – grupos de oração, grupos juvenis e de outro tipo. Isto poderia equilibrar, a seu critério, o fato dos pastores pentecostais serem casados, viverem nas comunidades e passarem grande parte do tempo com os fiéis, diferente dos sacerdotes, que precisam se ocupar da paróquia e, às vezes, estão distantes das pessoas.

Contudo, se não há uma autonomia real aos leigos católicos, nada pode mudar. Essa é a opinião de dom Enemésio Lazzaris, bispo de Balsas no Estado do Maranhão, uma das regiões que mais ressentem o crescimento dos pentecostais. “Compreendemos que um dos êxitos das igrejas evangélicas é que cada um se sente igreja, com uma autonomia quase completa. Nós, às vezes, delegamos a autoridade, mas a retemos, controlamos muito. Temos que dar maior liberdade, mais autonomia a estas pessoas”.

Outra proposta importante para a CNBB se refere à formação bíblica e a catequese dos fiéis. Considera-se que uma das possíveis soluções é propor nas comunidades cursos mais frequentes e menos extensos, com uma linguagem mais simples e direta. “Necessitamos de uma maior presença próxima aos católicos, evangelizar mais e ajudá-los a aprofundar a fé, para que tenham uma maior consciência de sua própria fé e possam crescer, para evitar confusões e incertezas”, afirma dom Orani Tempesta, cardeal do Rio de Janeiro.

Por último, constitui um desafio para a CNBB o forte componente emocional que os pentecostais utilizam para atrair os fiéis, o que a médio e longo prazo pode ser um problema. Dom Leonardo Steiner recorda que o Papa Francisco, ao fechar o Ano da Misericórdia, deixou claro que “é preciso testemunhas da esperança e da verdadeira alegria para desfazer as quimeras que prometem uma felicidade fácil com paraísos artificiais”. O problema de se centrar no fator emocional é que a experiência pode ser derrubada. Dom Steiner confirma que “os estudos demonstraram que as pessoas abandonam as Igrejas tradicionais (católicas e outras), vão para outra Igreja e depois para outra e outra, e depois... para nenhuma. Possuem o seu Deus pessoal”. Dessa maneira, as pessoas perdem a relação pessoal com a Igreja.

Por isso, diz dom Steiner, a Igreja não deve responder com a mesma moeda. O importante é se concentrar na maneira de evangelizar. “A alguns agrada, por exemplo, expressar sua fé de maneira mais emocional, e se distanciam do compromisso de transformação social. A Igreja não pode ceder a esse tipo de desejo, porque iria contra sua missão fundamental, que é anunciar integralmente o Evangelho de Cristo”, explica.

“Acredito que podemos aprender algumas coisas de nossos irmãos pentecostais”, afirma dom Biasin. “Há formas de levar em consideração, dentro da Igreja, algumas reivindicações legítimas do pentecostalismo”, e cita como exemplo o movimento da Renovação Carismática. Também oferecer aos fiéis que desejam uma liturgia mais participativa e emocional, com ênfase nos dons do Espírito Santo, o exorcismo, a leitura das Sagradas Escrituras e a música. “Conceber o diálogo católico-pentecostal como uma maneira de compartilhar dons é algo possível e útil para o futuro da Igreja”, conclui dom Biasin.

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

A grande onda do pentecostalismo no Brasil e as propostas de alguns bispos para enfrentar a perda de fiéis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU