A Santa Sé reconhece Lutero como “uma testemunha do Evangelho”

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06 Janeiro 2017

“Separando o que é polêmico das coisas boas da Reforma, os católicos são capazes de ouvir agora os desafios de Lutero para a Igreja de hoje, reconhecendo-o como uma ‘testemunha do Evangelho’. E assim, após séculos de mútuas condenações e depreciações, em 2017 católicos e luteranos irão comemorar pela primeira vez juntos o começo da Reforma”.

A reportagem é de Jesús Bastante,  publicada por Religión Digital, 04-01-2017. A tradução é de André Langer.

Este é texto redigido pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pela Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que se celebra de 18 a 25 de janeiro próximo e que, este ano, tem como marco o V Centenário da Reforma Luterana.

No mesmo, tanto a Santa Sé como o Conselho Mundial de Igrejas encorajam para “buscar a unidade durante todo o ano” e oferecem uma série de reflexões conjuntas para a Semana de Unidade “e para todo o ano” de 2017. Um ano carregado de esperanças no caminho ecumênico.

Assim, na introdução ao tema destaca-se como em 1517 “Martinho Lutero expressou preocupações sobre o que ele via como abusos na Igreja de seu tempo, tornando públicas suas 95 teses. Em 2017, temos o 500º aniversário desse evento chave dos movimentos de reforma que marcaram a vida da Igreja ocidental por vários séculos”.

Um acontecimento que, reconhece o texto, “foi um tema de controvérsia na história das relações inter-eclesiais na Alemanha, e não menos nestes últimos anos”. Após “extensas, e às vezes difíceis, discussões” sobre a conveniência de “celebrar” uma ruptura, chegou-se à conclusão de que “se a ênfase fosse colocada em Jesus Cristo e seu trabalho de reconciliação como centro da fé cristã; dessa maneira, todos os parceiros ecumênicos da EKD (católicos romanos, ortodoxos, batistas, metodistas, menonitas e outros) poderiam participar das festividades desse aniversário”.

“Considerando-se o fato de que a história da Reforma foi marcada por dolorosa divisão, esse foi um importante avanço”, constata o documento, que aponta para o documento “Do conflito à comunhão”, elaborado pela Comissão Luterano-Católico Romana sobre a Unidade como crucial para entender o trabalho em prol da unidade e para “chegar a um entendimento compartilhado da comemoração”. Assim, “depois de séculos de condenações e depreciações mútuas, em 2017 cristãos luteranos e católicos irão pela primeira vez comemorar juntos o começo da Reforma”.

Neste contexto do aniversário, o Conselho das Igrejas da Alemanha (ACK), convidado pelo Conselho Mundial de Igrejas, assumiu a tarefa de elaborar os materiais para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos deste ano. O comitê, composto por uma dezena de membros de diferentes confissões cristãs, assumiu a tarefa de comemorar a Reforma Luterana e lutar pela unidade, com duas ênfases: “por um lado, deveria haver uma celebração do amor e da graça de Deus, a ‘justificação da humanidade somente pela graça’, refletindo a ideia principal das Igrejas marcadas pela Reforma de Martinho Lutero. Por outro lado, deveria também ser reconhecida a dor das subsequentes profundas divisões que afligiram a Igreja, com menção aberta de culpa e oferta de uma oportunidade para dar passos na direção da reconciliação”.

Finalmente, foi a Exortação Apostólica do Papa Francisco de 2013, a Evangelii Gaudium (“A Alegria do Evangelho”), que contribuiu para o tema deste ano ao utilizar a passagem: “O amor de Cristo nos impele”.

No documento, as confissões cristãs propõem-se a “ir além de nossas preces pela unidade entre os cristãos”, instando a um “testemunho comum”. “O mundo precisa de embaixadores da reconciliação, que destruirão barreiras, construirão pontes, promoverão a paz e abrirão portas para novos caminhos de vida em nome daquele que nos reconciliou com Deus, Jesus Cristo. Seu Espírito Santo indica o caminho na estrada para a reconciliação em seu nome”, afirma-se.

Enquanto se preparava este texto (2015), “muitas pessoas e Igrejas na Alemanha estavam praticando a reconciliação ao oferecer hospitalidade aos numerosos refugiados que chegavam da Síria, do Afeganistão, da Eritreia, bem como de países dos Bálcãs ocidentais, em busca de proteção e nova vida. A prática da ajuda e de poderosas ações contra o ódio aos estrangeiros foram um claro testemunho de reconciliação para a população alemã. Como embaixadoras de reconciliação, as Igrejas ativamente prestaram assistência aos refugiados na busca de novos lares, enquanto ao mesmo tempo tentavam melhorar as condições de vida nos países que eles haviam deixado para trás. Ações concretas de ajuda são tão necessárias quanto oração em conjunto pela reconciliação e pela paz, se aqueles que estão fugindo de suas terríveis situações devem encontrar alguma esperança e consolação”.

“Que a fonte da gratuita reconciliação de Deus se derrame na Semana de Oração deste ano, para que muitas pessoas possam encontrar a paz e para que pontes possam ser construídas. Que pessoas e Igrejas possam ser impelidas pelo amor de Cristo a viver vidas reconciliadas e a derrubar as paredes da divisão”, conclui o documento, apelo para prosseguir um caminho cujo primeiro grande passo foi dado por Francisco em Lund, subscrevendo uma declaração conjunta com o presidente da Federação Luterana Mundial.

Por sua vez, em sua mensagem para esta jornada, os bispos espanhóis destacam esta celebração, destacando que “uma das notas mais destacáveis deste centenário é que acontece pela primeira vez em uma época ecumênica, após anos de diálogo e de vários acordos teológicos alcançados em temas importantes, tendo-se feito um importante esforço para deixar para trás a mútua desconfiança e as leituras parciais e tendenciosas da história”.

Para a Comissão de Relações Interconfessionais da CEE, as viagens do Papa a Lesbos, junto com o Patriarca Bartolomeu, seu encontro com Kirill em Havana, a assinatura de um documento conjunto com o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, e o Concílio Pan-ortodoxo de Creta ou o encontro inter-religioso celebrado em setembro em Assis “nos impulsionam a nos comprometer com mais força nos diálogos ecumênicos em seus diferentes níveis para chegar logo a um mútuo reconhecimento da validez dos sacramentos e do ministério eclesial”.

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