Igreja da Inglaterra, entre sínodo e escândalos

Lord George Carey | Foto: Reprodução Youtube

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30 Junho 2017

Entre os dias 7 a 10 de julho, a Universidade de York vai sediar o Sínodo Geral anual da Igreja da Inglaterra. A denominação anglicana chega ao evento abalada por escândalos sexuais.

A reportagem é de Claudio Geymonat, publicada no sítio Riforma, 28-06-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

É dos últimos dias o surpreendente posicionamento do arcebispo de Canterbury, Justin Welby, pediu que o seu antecessor, Lord George Carey, renuncie ao cargo de bispo honorário. A máxima figura espiritual dos anglicanos de todo o mundo tomou a decisão depois da publicação de um inquérito independente intitulado “Abuse of Faith” [Abuso de Fé], que divulgou os acobertamentos, durante anos, ao poderoso e venerado bispo Peter Ball, amigo próximo do príncipe Charles, condenado a 32 meses de prisão em 2015 pela exploração e abuso sexual de 18 meninos, com idades entre 18 e 25 anos, que tinham se dirigido a ele em busca de ajuda espiritual, nos anos que vão de 1977 a 1992.

Carey, no seu papel de líder da Comunhão Anglicana, testemunhou e defendeu Peter Ball várias vezes, contribuindo a encobrir as investigações e a verdade por anos.

“Trata-se de um comportamento chocante e imperdoável – declarou Welby à mídia britânica – que também vê a cúpula da Igreja envolvida por ter traído as vítimas que, ao contrário, deviam ser ajudadas. São coisas inadmissíveis, injustificáveis.”

O relatório, encomendado pelo próprio Welby, é impiedoso ao elencar as conivências, as ações tomadas para desacreditar os acusadores e defender Ball. Este deixou o cargo episcopal e se retirou durante anos para uma casa alugada dentro de uma propriedade do próprio príncipe de Gales, continuando, porém, a oficiar em 17 escolas confessionais da região.

Finalmente, nos últimos anos, chegaram o processo e a condenação por aqueles fatos distantes, porém ainda tão presente na memória das vítimas. A elas, foram dirigidas as desculpas do arcebispo Welby em nome da Igreja da Inglaterra pela dor sofrida, quando, em vez disso, elas buscavam socorro e consolação. Depois de apenas 16 meses de prisão, em fevereiro deste ano, Ball, aos 85 anos, obteve a sua libertação.

Mas a onda longa das suas ações continuam hoje a se propagar e ameaçam minar a credibilidade de toda a instituição religiosa.

Não há nada previsto na agenda dos trabalhos sinodais dedicado à questão, mas é possível apostar que a questão vai ser levantada.

Os bispos e os delegados se encontrarão diante de outra questão relacionada, desta vez, com a identidade sexual: como acolher as pessoas que mudaram de sexo e, por isso, também desejam receber um novo batismo, que, porém, é um ato único e irrepetível. A questão foi levantada pela diocese de Blackburn, que pediu para poder obter materiais litúrgicos, válidos em nível nacional, para acompanhar quem optou por mudar a própria identidade sexual.

Uma solução poderia estar na adoção, nesses casos, da liturgia para a afirmação da fé batismal, contida no livro de serviço “Common Worship”, que contém todas as liturgias oficiais da Igreja da Inglaterra.

Mas está prevista uma batalha nessa matéria entre os delegados, que também deverão lidar com os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. A Igreja da Inglaterra, no momento, não os prevê, mas, em fevereiro, um documento que lembrava como o casamento era uma prerrogativa somente entre um homem e uma mulher foi rejeitado. E há quem veja nesse primeiro voto a fresta para uma nova visão sobre o assunto.

O tema está dividindo a Comunhão Anglicana em nível global, com diversas denominações, especialmente na América do Norte ou na Europa, que já autorizam uniões entre pessoas do mesmo sexo, colocando-se em desacordo com muitas Igrejas irmãs, especialmente africanas e asiáticas, que já obtiveram sanções contra quem se põe em contraste com as diretrizes da Comunhão Anglicana nessa matéria.

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