03 Janeiro 2024
Em entrevista ao jornal espanhol ABC, o cardeal Victor Fernández responde aos ataques de vários episcopados após a publicação de um texto que autoriza os padres a abençoar os casais "irregulares".
A autorização do Vaticano para a bênção de casais do mesmo sexo continua a causar reações negativas. Embora diversas conferências episcopais, especialmente na África, mas também na Europa Oriental, se opõem oficial e publicamente a qualquer bênção desse tipo, o cardeal Victor Manuel Fernandez, começou a responder às críticas virulentas.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix, 29-12-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Depois de se expressar pela primeira vez no site estadunidense The Pillar, o cardeal argentino, na liderança do Dicastério para a Doutrina da Fé desde 15 de setembro, escolheu outra mídia conservadora para responder às críticas formuladas contra o texto publicado pelo Vaticano em 18 de dezembro. Em uma entrevista ao jornal espanhol ABC, publicada em 27 de dezembro, o cardeal argentino defende a linha da declaração, intitulada “Fiducia supplicans”, assinada por ele e aprovada pelo Papa Francisco.
O documento, insiste o cardeal, não altera em nada o ensinamento da Igreja sobre o sacramento do matrimônio. “O tema central do documento é o valor das bênçãos 'não litúrgicas’, 'não ritualizadas'", especifica. Acrescentando: “Não ratificam nada”. As bênçãos a casais “irregulares”, como divorciados e recasados ou casais do mesmo sexo, “são apenas a resposta de um pastor a duas pessoas que pedem a ajuda de Deus. E nesse caso o pastor não põe condições". O cardeal Fernández toma o exemplo de um padre que encontra, durante uma peregrinação, um casal de divorciados, recasado ou formado por pessoas do mesmo sexo.
“Abençoá-los não é aceitar um casamento, nem é aprovar a vida que levam, nem mesmo é uma absolvição. É um simples gesto de proximidade pastoral que não tem as mesmas exigências de um sacramento”.
O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé analisa o clamor contra o seu texto: “O problema que eles levantam, afirma, é a inconveniência de realizar bênçãos em seus contextos regionais que se confundiriam facilmente com uma legitimação de uma união irregular”. Depois continua: “A isso acrescenta-se que na África existe uma legislação que penaliza o simples fato de se declarar homossexual com uma pena de prisão, imaginem então uma bênção”. No continente africano a homossexualidade é de fato proibida em trinta e dois países, uma legislação repressiva que muitas vezes tem o apoio mais ou menos explícito dos bispos católicos locais.
“Na realidade, cabe a cada bispo local fazer o discernimento necessário na sua diocese ou, em qualquer caso, dar orientações complementares", acrescenta o cardeal argentino, para quem não poderia ser justificada “uma recusa total desse gesto solicitado aos padres”.
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Bênção a casais homossexuais, o Vaticano responde às críticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU