“O risco agora é um novo ciclo de guerra contra o terrorismo”

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30 Agosto 2021

 

O risco, afirma nesta entrevista Lucio Caracciolo, diretor da revista Limes, um dos melhores intérpretes italianos da política internacional, é voltar ao velho círculo de guerra ao terrorismo. E isso acontecerá com os EUA em crise de identidade e a Europa que não pode constituir uma alternativa simplesmente porque não existe.

A entrevista com Lucio Caracciolo é de Stefano Cannavò, publicada por Il Fatto Quotidiano, 29-08-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis a entrevista.

 

Com o que está acontecendo nessas últimas horas, o retorno dos ataques com os drones, a guerra contra ao terrorismo, podemos dizer que voltamos ao começo?

Sim, mas não pelo que acontece no local, mas por um problema cultural. Os estadunidenses não saíram mentalmente da guerra ao terrorismo, ou seja, de um mecanismo que poderíamos definir neurótico, pelo qual um ataque terrorista gera uma reação militar que resulta em um novo ataque terrorista e assim por diante em um jogo infinito. Esta, porém, não é uma guerra contra um inimigo, porque o terrorismo é um método que qualquer um pode adotar, não é identificável, é mutante e, de fato, muda constantemente. Mas também é uma guerra contra nós mesmos.

 

Por que contra nós mesmos?

Porque a forma de abordar o tema cria um mecanismo negativo, obrigando-nos a um circuito infernal em que não temos possibilidade de vitória, mas de derrota certa. Não no sentido estratégico, mas de um desgaste progressivo, em particular da reputação estadunidense e ocidental. E isso também diz respeito a nós, europeus, em particular nós, italianos, na medida em que, para atestar a nossa existência na vida, participamos de missões nas quais não temos nenhum interesse a defender, senão demonstrar que existimos. Sem ter ideia de que tipo de troca conseguir.

 

Neste quadro cheio de sombras, que juízo fazer sobre os EUA? Eles têm condições co-controlar a situação?

Impossível fazer juízos definitivos e categóricos. Parece-me evidente que há uma crise identitária e cultural que há vários anos vem atingindo os Estados Unidos. Seu ponto de partida pode ser rastreado na vitória da "guerra fria" que privou os Estados Unidos de um inimigo perfeito, que entre outras coisas lhes poupava metade do trabalho (por exemplo, no Afeganistão estavam os soviéticos) e cujo desaparecimento fez perder a bússola estratégica.

 

As estratégias sob a insígnia do "choque de civilizações" ou do "fim da história" não foram uma alternativa...

Todas as estratégias após 1989 foram adaptações. E assim os Estados Unidos pensam até 11 de setembro que estão no topo do mundo e embarcam em uma aventura cujo objetivo final não consegue ser visto, simplesmente porque não existe.

A crise é mais profunda, também se expressa nos absurdos debates em torno do conflito entre "democracia" e "escravo-democracia" que projetam o passado no presente fazendo perder o princípio da realidade.

 

E esta crise coloca os EUA em uma situação de estresse, como foi visto no Capitólio em 6 de janeiro.

Não é um problema de Trump ou Biden, mas dos EUA.

 

No front afegão, por outro lado, o quanto diferentes são os talibãs?

Não tenho conhecidos entre eles, obviamente (risos, ndr), mas pelo que se pode intuir há diferenças e a principal é que agora se tornaram governo. E como acontece quando alguém sobe ao governo, isso acarreta uma mudança fundamental. A última vez que tiveram poder, acabou como acabou. O risco, aliás, a certeza, é que haverá um certo grau de guerra civil, ou de guerra entre potentados, e o controle dos talibãs não será total. Até porque o sistema afegão não garante um controle total.

 

Você acha que a Europa, como escrevem vários analistas, possa agora encontrar seu próprio novo espaço?

Não, não haverá nenhuma mudança, simplesmente porque os Estados Unidos existem enquanto a Europa não. Claro, parece evidente que devido à postura assumida pelos EUA ao longo do tempo, a estabilidade interna dos países europeus está em questão e o grau de segurança dos EUA é agora questionável.

 

Isso implica novidades para os países que podem suprir essa deficiência. Trata-se, portanto, de perspectivas que dizem respeito aos países individualmente?

Ninguém pode pensar em agir e exercer um papel sozinho, mas solidariedade e entendimentos podem ser criados. Estou me referindo em especial a Itália, França e Alemanha, sabendo que os britânicos permanecem no espaço europeu com uma força respeitável.

 

Que eficácia pode ter a iniciativa de Mario Draghi para um G20 que possa governar a crise?

Pode ter um fundamento porque envolve chineses, russos, mas também iranianos e paquistaneses, ou seja, as potências interessadas no caso afegão. Mas o nosso problema não é o Afeganistão, somos nós no contexto europeu e ocidental que corremos o risco de entrar em outro ciclo de guerra contra o terrorismo. Mas ainda estamos em tempo de evitar a repetição dos erros.

 

O caso do cônsul Claudi mostra uma nova diplomacia italiana?

Existem, em nossas estruturas de estado não extraordinariamente coesas, algumas excelências e inteligências que deveriam ser melhor exploradas.

 

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