Missionários digitais e o anúncio do evangelho. Artigo de Antonio Iraildo Alves de Brito

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04 Novembro 2024

Não adianta a Igreja se deslumbrar com grandes influenciadores, por causa de seus milhares de seguidores, se antes não houver catequese, se antes não houver formação bíblica, se antes não houver comprometimento com a profecia.

O comentário é de Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp, padre da Congregação dos Paulinos/Paulus. É doutor em comunicação e semiótica e membro do Observatório da Comunicação Religiosa.

Eis o texto.

A expressão “missionários digitais” vem se tornando corrente nos meios eclesiais e, na última semana de outubro, teve certa repercussão, considerando o encontro promovido pela CNBB com os chamados “padres influencers". Aproveito a ocasião para uma breve reflexão sobre o fenômeno.

Nós vivemos na era digital. Este é o nosso tempo e contexto. É neste universo que agora devemos também cumprir o mandato de Jesus: “Ide, fazei discípulos meus entre todos os povos” (Mt 28,19).

Antes de tudo, é fundamental considerar que todo batizado é missionário, desde as pessoas mais simples àquelas revestidas de encargos e maiores responsabilidades. Esse dado é importante, porque, de certo modo, tira de cena a ideia equivocada de “classes missionárias”. Pelo batismo, todos temos a mesma dignidade. O batismo é a fonte de toda missão na Igreja. Ele é a porta de acesso para os outros sacramentos. Ninguém é ordenado diácono, padre, bispo se antes não for batizado; ninguém faz os votos religiosos se antes não receber o batismo.

Então, o missionário digital é como qualquer outro batizado, inserido em uma comunidade de fé e comprometido com o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele tem o encargo de anunciar a Boa Notícia, que é Jesus mesmo!

É necessário reforçar isso, porque há o risco, sobretudo nas plataformas e redes sociais digitais, de apropriação dos símbolos e das coisas da fé para autopromoção, autorreferencialidade, ficar famoso e lucrar; ganhar dinheiro na internet, utilizando-se de uma fachada de Igreja. Daí vêm as artimanhas próprias dos “subterrâneos da internet”, com certos conteúdos beirando o ridículo para mobilizar os algoritmos, atrair seguidores e, por conseguinte, monetizar. Há um tripé muito utilizado para promover o engajamento nas redes sociais: likes, lacres e lucros. O missionário autêntico não cai nesse golpe.

Não adianta a Igreja se deslumbrar com grandes influenciadores, por causa de seus milhares de seguidores, se antes não houver catequese, se antes não houver formação bíblica, se antes não houver comprometimento com a profecia. Se antes não houver um esforço conjunto por um letramento digital. Até os considerados nativos digitais necessitam de organização desses saberes das redes, incluindo o saber da fé, porque as redes sociais são especialistas na dispersão, na distração e no negacionismo.

O campo da missão digital e suas linguagens, portanto, constituem um grande desafio. Trata-se de um ambiente complexo, sobre o qual já não temos como nos furtar a pensar.

Se, por um lado, o fenômeno das redes sociais digitais é um campo fértil para o Evangelho, por outro, reforça uma tendência à individualização da experiência religiosa, na busca daquilo que mais oportunamente responde às necessidades e gostos pessoais. Há também o apelo à privatização da experiência religiosa. A atuação de um padre, um religioso ou leigo influencer, por exemplo, é a atuação no âmbito da diocese ou da congregação a que pertence. Nossa missão é comunitária. Então, há o dever de cumprimento de diretrizes e comprometimento com a Igreja local.

Para além do desejo e do afã de ter fama, é de suma importância a valorização das pequenas redes nas comunidades, dioceses e paróquias, como agentes mobilizadores de base. É ilusório considerar que os grandes influencers promovam alguma mudança no seio da comunidade de fé. A circulação em massa de mensagens via plataformas, ao mesmo tempo que tem suas vantagens, carrega o risco da confusão, da desinformação e, o pior, até da desintegração comunitária. Aí reside o nosso papel na catequese e na formação da pastoral da comunicação e de todos os batizados, para o bom uso dos meios.

É bom nunca esquecer o que Jesus ensinou aos seus discípulos. O Reino de Deus é como uma semente de mostarda (Mt 13,31). O Espírito Santo nos ajude a viver e anunciar o Evangelho com a prudência das serpentes e a simplicidade das pombas (Mt 10,16). A verdadeira comunicação ocorre quando há vínculos, e não somente um emaranhamento de conexões frias. Jesus é o influencer por excelência. Somos aprendizes desse mestre da comunicação.

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