03 Mai 2024
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican News e reproduzida por Religión Digital, 03-05-2024.
Existem dois quadros, ambos memórias vivas na mente, ambos ligados à imagem do trem. Uma é mais recente, de 6 de novembro de 2023, quando o Papa, da plataforma da estação do Vaticano, cumprimentou quase todos os viajantes do Rock Train disponibilizado pela companhia ferroviária italiana Ferrovie dello Stato, isto é, para cerca de 7.500 crianças que haviam participado momentos antes do evento realizado pouco antes na Sala Paulo VI “As crianças encontram o Papa”, que o saudaram com abraços, apertos de mão e pedidos de selfies.
A outra imagem, porém, remonta aos tempos de Buenos Aires, quando viajava de transporte público “para estar entre as pessoas, sentir seu carinho e suas preocupações”, pegando o trem para se deslocar pelos bairros: "Hoje está entre os costumes. Que coisa estranha".
Os dois quadros abrem e encerram a entrevista concedida pelo Papa Francisco à revista La Freccia, da Trenitalia, que será publicada neste dia 4 de maio, conduzida por Roberto Pacilio, chefe da assessoria de imprensa do Dia Mundial da Criança. A conversa resulta de uma audiência privada na Casa Santa Marta, na qual – escreve o entrevistador – o Papa abre “mais que um raio de luz à hipótese de uma viagem de comboio papal ao pronunciar um esperançoso: Veremos”.
Foto: Vatican Media
O Papa Francisco recorda o momento em que cumprimentou as crianças a bordo do trem, na estação à sombra da Cúpula: “Como um avô cumprimentando os netos que voltam para casa. Educar significa acompanhar os pequenos até que sintam que podem fazê-lo sozinhos”, afirma o Pontífice. "Viajar é uma metáfora para a vida. E esse cuidado diário dos relacionamentos é nossa tarefa. Saber estar perto dos outros e deixá-los continuar a ser eles mesmos".
Sempre com a memória daquela audiência com mais de sete mil meninos e meninas que vieram de todo o mundo para cantar louvores à paz, o Papa Francisco sublinha que “os pequenos preservam um sentido de beleza que ainda está intacto”. Na verdade, ele nos convida a “observá-los, ouvi-los”, porque “se o fizermos – garante – serão eles que nos conscientizarão a nós, adultos”. E isso pode trazer “verdadeira esperança de mudança para todos”.
Quando crianças também podemos aprender a relação com a Criação, algo que muitas vezes é difícil para os adultos. O Papa convida-nos a “crescer sem perder a simplicidade”. A de uma criança “não é a mesma de um jovem ou de um adulto”, afirma: “Todos devemos ser simples, mas de acordo com a nossa idade”.
O tema só pode recordar a Laudato si', a encíclica social sobre o cuidado da Casa Comum: “Quanto fizeram os governos depois do grito de alarme lançado por vocês em 2015 em defesa da Terra e do meio ambiente?”, pergunta Pacílio. “Eles não fizeram o suficiente”, responde diretamente o Papa, explicando que este é precisamente o sentido da exortação apostólica Laudate Deum, oito anos depois da Laudato si'. “A crise – acrescenta o Pontífice – exige o envolvimento de todas as pessoas: toda a sociedade deve exercer uma pressão saudável, porque cabe a cada família pensar que o futuro dos seus filhos e filhas está em jogo”.
Foto: Vatican Media
A conversa termina com a lembrança da foto de Jorge Mario Bergoglio como clérigo no metrô argentino, imagem que se tornou viral nos primeiros dias de seu pontificado. É a oportunidade de destacar a importância da utilização de transportes públicos e de baixo impacto ambiental. “É essencial mudar o nosso estilo de vida para salvaguardar a nossa casa comum”, responde o Papa e acrescenta: “Sempre gostei de usar os transportes públicos: é uma forma de estar entre as pessoas, de sentir o seu calor e as suas preocupações. Durante o ensino médio eu pegava todos os dias o trem de Flores para Floresta, dois bairros de Buenos Aires. Hoje é um dos hábitos que mais sinto falta”.
Foto: Vatican Media