29 Abril 2024
A reportagem é de Hernán Reyes Alcaide, publicada por Religión Digital, 28-04-2024.
Num "feito histórico" em si mesmo, onde um pontífice visita pela primeira vez a famosa Bienal, o Papa Francisco clamou hoje desde o Pavilhão da Santa Sé montado em um centro de reclusão para mulheres que as prisões ofereçam "novas oportunidades" às pessoas privadas de liberdade, conforme expressou ao iniciar uma série de encontros que também incluirá jovens e artistas durante sua estadia de algumas horas em Veneza, onde também celebrará uma missa na Praça São Marcos.
"A prisão é uma realidade dura, e problemas como superlotação, falta de instalações e recursos, episódios de violência geram muito sofrimento", sentenciou o pontífice na prisão veneziana de Giudecca, onde está montado o Pavilhão que leva o título bergogliano "Com meus olhos".
"Pode também tornar-se um local de renascimento, moral e material, onde a dignidade das mulheres e dos homens não seja 'isolada', mas promovida através do respeito mútuo e do cuidado com os talentos e habilidades, talvez deixados latentes ou aprisionados pelos acontecimentos da vida, mas que podem ressurgir para o bem de todos e merecem atenção e confiança", afirmou Francisco após uma série de cumprimentos de mão a mão que teve com detidas no pátio do presídio, renovando seu constante gesto de proximidade e misericórdia para com as pessoas presas.
Após partir do Vaticano de helicóptero às 6h32 desta manhã, o Papa disse que "paradoxalmente, uma estadia na prisão pode marcar o início de algo novo, através do redescobrimento de belezas inesperadas em nós mesmos e nos outros, como simboliza o evento artístico que você organiza e no qual contribui ativamente; poder tornar-se um local de reconstrução, onde alguém pode olhar e avaliar corajosamente sua vida, eliminar o que não é necessário, o que está desordenado, o que é prejudicial ou perigoso, desenvolver um projeto e depois recomeçar cavando os alicerces e voltando, à luz das experiências adquiridas, a colocar tijolos, juntos, com determinação".
"Por isso, é essencial que o sistema penitenciário também ofereça aos presos ferramentas e espaços para o crescimento humano, espiritual, cultural e profissional, criando as condições para sua reintegração saudável. Não para 'isolar a dignidade', mas sim para proporcionar novas possibilidades! Não esqueçamos que todos temos erros a corrigir e feridas a curar, e que todos podemos ser curados aqueles que trazem cura, perdoados aqueles que trazem perdão, renascidos aqueles que trazem renascimento", pediu por último.
"Hoje todos nós sairemos mais ricos deste pátio, e o bem que trocaremos será precioso", disse o Papa, que chegou diretamente à prisão às 7h55 locais, após uma hora e vinte de voo de helicóptero do Vaticano.
Após sua passagem pelo Pavilhão do Vaticano, Francisco falará com jovens na Igreja de Madalena e depois irá à Basílica da Saúde, onde se reunirá com jovens para fazer seu terceiro discurso no norte italiano, antes de celebrar o que já se sente como um verdadeiro marco: uma missa na histórica Praça São Marcos às 11 horas locais.
Após a missa, o Papa entrará na Basílica homônima para venerar as relíquias do Santo antes de retornar a Roma, onde está previsto que aterrisse no mesmo dia às 14h30, encerrando uma viagem histórica de apenas oito horas e quatro intervenções.
O Pavilhão do Vaticano está dedicado ao tema dos "direitos humanos e à figura dos últimos moradores de mundos marginalizados, onde nosso olhar raramente alcança", como afirmou o titular do Dicastério Vaticano para a Cultura e a Educação. O espaço conta com a colaboração do Departamento de Administração Penitenciária do Ministério da Justiça e está localizado na prisão de mulheres de Giudecca (um grupo de ilhas ao sul de Veneza). Com este pavilhão, a Santa Sé busca "promover a construção de uma cultura do encontro", que é "o eixo central do magistério de Francisco", conforme revelado pelo Dicastério da cidade-estado.
"O dia de hoje é um diálogo, pois não é que a Igreja espera que os artistas sejam sua caixa de ressonância, embora artistas e detentos tenham trabalhado juntos", afirmou o cardeal Tolentino ao apresentar o Pavilhão à imprensa.
"Já somos mais de 100 pessoas trabalhando em algo histórico: é o Papa vindo encontrar o mundo da arte, algo incrível", acrescentou.
De acordo com a comissária do Pavilhão, "são 80 detentas envolvidas entre a parte criativa e a logística, incluindo um set de cinema dentro do pavilhão para o qual trabalham pessoas dos Estados Unidos".
"Apesar de sabermos que pertencemos de certa forma a dois mundos distintos, o exterior e o interior, naquele momento em que estamos juntos, fazemos algo belo e criativo."
Do Ministério do Interior italiano, Giovanni Russo destacou que as pessoas privadas de liberdade que participarão da iniciativa "terão todos os benefícios possíveis, como sempre que detentos mostram intenção de participar desse tipo de iniciativas".
"Isto reforça algo com o qual trabalhamos diariamente, que é a consciência de que é possível reconstruir sempre no âmbito penitenciário", afirmou Russo.
O espaço, localizado na Cárcere Feminina de Giudecca, é comissariado pelos historiadores da arte Chiara Parisi e Bruno Racine e coordenado pelo cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação. Contará com a presença de artistas de renome internacional como Maurizio Cattelan, Bintou Dembélé, Simone Fattal e Claire Fontaine, entre outros, bem como a participação especial de Hans Ulrich Obrist, considerado um dos curadores artísticos mais influentes do mundo. Convidará os visitantes "a prestarem atenção a essas realidades que muitas vezes são consideradas periféricas e que frequentemente estão fora do debate cultural".
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Desde a Bienal de Veneza, o Papa pediu que as prisões ofereçam “novas oportunidades” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU