04 Agosto 2023
"Todo serviço implica o exercício de uma autoridade e, portanto, requer o uso de formas de poder", escreve Fúlvio Ferrario, teólogo italiano e decano da Faculdade de Teologia Valdense, em Roma, em artigo publicado por Settimana News, 03-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Agradeço ao prof. Giuseppe Lorizio pela atenção dedicada à minha pequena nota no Facebook em relação às declarações do Prof. Hans Zollner.
Nesse interim, o prof. Andrea Grillo formula algumas observações em seu blog, em dialética com Lorizio. A este último responderei primeiro, com breves observações, que não ouso chamar de teses por sua extrema simplicidade e seu caráter parcial.
O tema, a esse ponto, é a discordância entre catolicismo e protestantismo sobre o ministério: não sobre sua patologia, que era o foco das observações do prof. Zollner, mas (para usar um termo que não é fácil de manejar, porém evocado neste contexto também pela Lumen Gentium), sobre sua essência.
O que católicos e evangélicos podem dizer juntos
Todo serviço implica o exercício de uma autoridade e, portanto, requer o uso de formas de poder. O descrédito de que padece esse termo deveria ser, a meu ver, relativizado. Tudo depende de como é entendido e regulamentado.
Formas de abuso são possíveis em todos os contextos, mesmo eclesiais. Para o propósito de nossa discussão, vale o antigo axioma: abusus non tollit usum.
Cada ministério (não só, portanto, aquele diretamente ligado ao anúncio e ao governo da comunidade) é expressão e determinação do sacerdócio universal dos crentes e das crentes.
Uma exegese aprofundada dessa expressão não é possível aqui, mas tenho motivos para pensar que Giuseppe Lorizio e eu concordamos sobre ela. O sacerdócio universal não é como tal um ministério, mas a condição de possibilidade de todo ministério.
Nós nos concentramos aqui no ministério comumente chamado de "ordenado". Na Igreja Católica, ele tem um caráter "tripartido" (bispo - presbítero - diácono). Especialmente no caso do bispo, mas também, de forma diferente, nos outros dois, a função de governo está associada à do anúncio.
Nas igrejas evangélicas, o ministério da palavra e da presidência eucarística é articulado de formas diversificadas, mas para simplificar menciono aqui o ministério pastoral. O ministério do governo (tanto em nível da comunidade individual quanto em nível mais amplo) não é necessariamente exercido pela figura pastoral.
Para sintetizar, expressarei assim: nas igrejas evangélicas, o "sacramento" que torna possível o ministério pastoral é o batismo. Dentro da comunidade das pessoas batizadas, alguns e algumas são escolhidos e escolhidas para tal tarefa específica. Resumirei essa dinâmica falando de uma compreensão funcional do ministério.
Na Igreja católico-romana, existe um sacramento específico, a ordem. A comunidade dos batizados é, portanto (não em sentido absoluto, é óbvio: por esse ponto de vista) dividida em dois, quem é ordenado e quem não é. A segunda categoria é geralmente indicada pelo termo "laicato". Essa é a sacramentalidade do ministério, da qual fala o prof. Lorizio. Desculpando-me pelo termo, falo de uma concepção ontológica do ministério.
Se bem vejo, o ponto crítico da discussão a respeito da sacralidade do poder está todo aqui: a autoridade do ministério na Igreja Católica, e o exercício do poder a ela ligado, participam desse status “ontológico”. A forma como isso ocorre é normatizada em vários níveis doutrinários e jurídicos.
Se Lorizio prefere definir tal dinâmica "sacramental" em vez de sagrada, não tenho objeções: a raiz é a mesma e, em todo caso, o importante é entender-se sobre o conteúdo.
A doutrina do ministério como "pivô" da eclesiologia católica?
Afirmo isso porque constato que praticamente todos os temas controversos, tanto no âmbito ecumênico quanto dentro do catolicismo romano (do desconhecimento do status eclesial às comunidades protestantes, à chamada "hospitalidade eucarística", ao veto à ordenação das mulheres, para não falar da atual discussão sobre a "sinodalidade"), têm a ver, geralmente bastante diretamente, com ela e com o fato que ela determina, dentro da comunidade, uma distinção (sacramental) entre clero e laicato. O Vaticano II confirma, parece-me, tudo isso, no contexto que lhe é característico.
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Ministério: função ou sacramento. Artigo de Fúlvio Ferrario - Instituto Humanitas Unisinos - IHU