22 Agosto 2022
O presidente do Chile, Gabriel Boric, apelou neste sábado pela unidade duas semanas antes que os chilenos aprovem ou rejeitem a proposta da nova Constituição nas urnas em uma das votações mais cruciais e polarizadas desde o fim da ditadura. "O compromisso do libertador Bernardo O'Higgins de trabalhar incansavelmente pelo país, pela unidade do país, é algo que nestes momentos em que há divisão, temos que resgatar", assegurou o presidente no sul, no comemoração do nascimento daquele que é considerado um dos pais da pátria. "É na unidade do Chile que sai o melhor dos chilenos e chilenos e o melhor do nosso país", acrescentou Boric.
A reportagem é publicada por Página/12, 21-08-2022.
Às urnas
Mais de 15 milhões de chilenos são convocados às urnas em 4 de setembro para decidir se querem aprovar a nova Constituição ou manter a atual, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e parcialmente reformada na democracia. As sondagens de quinta-feira, quando começou a proibição de divulgação de inquéritos, revelaram que a tendência de rejeição do texto continua, com uma diferença de mais de 10 pontos.
Para o estudo Citizen Pulse, 45,8 por cento votariam em "Rejeição", 32,9 "Eu aprovo", 15,7 estão indecisos e 2,5 votariam nulo ou em branco.
Para o pesquisador Cadem, 37 por cento votariam "eu aprovo", 46 "rejeição" e 17 por cento não decidiriam.
Desta vez, o voto é obrigatório, ao contrário do plebiscito de outubro de 2020, quando foi voluntário e a opção de elaborar uma nova constituição venceu por quase 80%, com mais da metade dos cadernos eleitorais. Milhões de eleitores não vão às urnas desde 2012, quando o voto se tornou voluntário.
Grande barganha
A direita votaria contra por achar o novo texto muito radical, enquanto a esquerda faz campanha a favor da "Aprovação", embora tenha prometido chegar a um grande pacto para reformar os aspectos mais conflituosos, uma negociação liderada pelo próprio Boric.
Antes de participar do aniversário de O'Higgins, o presidente concedeu entrevista à Rádio Macarena de Chillán, a 370 quilômetros da capital, e reiterou seu compromisso de reformar o novo texto caso seja aprovado. "Vou considerar com humildade. Não pode haver vencedores e perdedores", assegurou.
A nova carta constitucional declara o Chile um Estado social de direito, em relação ao Estado secundário do texto atual, e consagra direitos como saúde pública e universal, educação gratuita, melhores aposentadorias e acesso à moradia e à água. O caráter multinacional do Estado, a reeleição presidencial, o sistema de justiça e a eliminação do Senado são alguns dos temas incluídos no texto que mais geram rejeição.
Leia mais
- Chile. Uma convenção constitucional pela dignidade
 - Chile. Maturana e uma nova convivência
 - Chile. A rebelião continua
 - Chile. Estudantes constituintes: a 20 anos do mochilaço no Chile
 - Chile. A insurreição popular vem do subterrâneo e perfura a máquina violenta e neoliberal. Entrevista especial com Rodrigo Karmy Bolton
 - Governos socioambientais para o Chile
 - Chile. Por constituintes dos movimentos sociais
 - Chile. Rumo a municípios pelo Bem Viver
 - Chile. Descentralização em tempos constituintes
 - Chile. A construção do poder constituinte
 - Quatro chaves para pensar a primavera chilena
 - Paridade de gênero na elaboração da Constituição chilena é vitória do movimento feminista
 - Chile. O fim da constituição plutocrática?
 - Chile: vitória histórica para uma mudança profunda
 - Chile. O abandono dos defensores ambientais
 - Indigenizar a política no Chile e na América do Sul
 - Chile. Espoliação do povo Mapuche. Artigo de Raúl Zibechi
 - As feridas abertas do neoliberalismo chileno
 - Chile. “Produziram-se graves violações de direitos humanos em elevado número”, conclui relatório da ONU
 - Chile. Anistia Internacional recomenda investigar a responsabilidade do governo pela violação de direitos humanos contra manifestantes
 - Chile. A revolução dos jovens contra o modelo social herdado de Pinochet
 - Chile. Mais de 200 pessoas perderam a visão em protestos
 - Chile: falsa normalidade
 - Visões críticas aos novos constitucionalismos sul-americanos
 - Chile. Justiça aceita denúncia contra o presidente
 - Mobilizações no Brasil ontem (2013) e no Chile hoje (2019)
 - Protestos no Chile: as rachaduras no modelo econômico do país expostas pelas manifestações
 - Chile: lições que vêm da rebelião popular contra a herança maldita de Pinochet
 - Chile. A casta trata de salvar o modelo diante de um povo que despertou
 - “Um duro golpe”: as consequências econômicas e de imagem para o Chile pelo cancelamento de duas grandes cúpulas internacionais
 - Insurreições de outubro. O mundo nas ruas
 - Chile. Relatório registra mais de 20 mortos e 9 mil pessoas presas no país
 - Presidente do Chile cancela COP um mês antes do evento
 - “Não se trata de 30 pesos, mas de 30 anos de abuso de poder”
 - A ‘maldição’ das matérias-primas que condena a América Latina
 - ‘O Chile acordou’: autora da foto viral que marcou protestos conta o que sentiu ao capturar imagem
 - Chile. “Jesus teria vindo aqui”. A luta dos cristãos em Santiago
 - Chile. Piñera renovou seu gabinete em meio a novas manifestações
 - Chile. A insurreição popular vem do subterrâneo e perfura a máquina violenta e neoliberal. Entrevista especial com Rodrigo Karmy Bolton
 - Chile tem a terceira maior concentração de renda no 1% mais rico
 - O enigma chileno (e o nosso)
 - Chile é palco de novos protestos e incêndio na capital
 - Da despedida profética de Salvador Allende a um Chile que despertou
 - A agitação social que inflama a América do Sul
 - Chile. Inflexão constituinte contra a pilhagem neoliberal?
 - Chile. Protestos ganham adesão e intensificam pressão das ruas
 - Protestos no Chile: um governo cego, surdo, inepto e incompetente
 - Chile. Protestos massivos, que tem outra noite de toque de recolher
 - Chile. Insurreição quer passar país a limpo
 - Protesto social desorienta Piñera e submerge o Chile em uma grave crise