Um dia histórico para o ecumenismo

Papa Francisco e Eugenio Bernardini (à esquerda). Foto: CNBB

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24 Junho 2020

"Com essas palavras, o papa mostrou que aceita plenamente uma ideia de ecumenismo – definido pelas "diversidades reconciliadas" - que está a anos-luz do "ecumenismo de retorno" (o retorno a Roma dos "irmãos separados") que caracterizava a abordagem católica até algumas décadas atrás. A visita do Papa Francisco ao templo valdense de Turim abriu novos horizontes para a colaboração ecumênica na Itália".

A opinião é do pastor italiano Luca Maria Negro, presidente da Federação das Igrejas Evangélicas na Itália (FCEI), em artigo publicado por Riforma, publicação semanal das Igrejas evangélicas batistas, metodistas e valdenses italianas, 26-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Um dia histórico: há cinco anos, para esses mesmos microfones, assim eu defini o evento de segunda-feira, 22 de junho de 2015, em Turim, quando pela primeira vez um papa cruzou o limiar de um templo valdense, local de culto de uma igreja que se uniu à Reforma Protestante em 1532, tendo às suas costas mais de três séculos de vida e perseguição, como movimento evangélico centrado na pobreza e na liberdade de pregação do Evangelho. "De parte da Igreja Católica - disse o Papa Francisco no templo valdense de Turimpeço a vocês perdão pelas atitudes e comportamentos não-cristãos, até mesmo não humanos, que, na história, tivemos contra vocês. Em nome do Senhor Jesus Cristo, perdoem-nos!”.

Esse pedido de perdão, declarou o então moderador da mesa valdense, pastor Eugenio Bernardini, "nos tocou profundamente e o acolhemos com alegria. Naturalmente o passado não pode ser mudado, mas há palavras que em um determinado momento devem ser ditas, e o papa teve a coragem e a sensibilidade de dizer a palavra certa”. Um dia histórico, portanto: depois de cinco anos, podemos certamente confirmar. Também pela franqueza fraterna e pela qualidade dos discursos proferidos pelos dois lados.

Particularmente importante, no discurso do Papa Francisco, foi a afirmação de que "a unidade que é fruto do Espírito Santo não significa uniformidade. De fato, os irmãos estão unidos pela mesma origem, mas não são idênticos entre si. Isso fica claro no Novo Testamento, onde, embora todos os que compartilham a mesma fé em Jesus Cristo sejam chamados irmãos, entende-se que nem todas as comunidades cristãs das quais eles faziam parte tinham o mesmo estilo nem uma idêntica organização interna. De fato, diferentes carismas podiam ser vistos dentro da mesma pequena comunidade (cf. I Cor. 12, 4) e mesmo na proclamação do Evangelho havia diferenças e, às vezes, contrastes (cf. Atos 15, 36-40). Infelizmente, aconteceu e continua a acontecer que os irmãos não aceitam sua diversidade e acabam em guerra uns contra os outros”.

Com essas palavras, o papa mostrou que aceita plenamente uma ideia de ecumenismo – definido pelas "diversidades reconciliadas" - que está a anos-luz do "ecumenismo de retorno" (o retorno a Roma dos "irmãos separados") que caracterizava a abordagem católica até algumas décadas atrás.

A visita do Papa Francisco ao templo valdense de Turim abriu novos horizontes para a colaboração ecumênica na Itália; poderíamos citar como exemplo o fato de que, desde 2016, os encontros ecumênicos nacionais da Conferência Episcopal são organizadas junto com protestantes e ortodoxos, ou a iniciativa ecumênica dos corredores humanitários promovida pela Federação de Igrejas Evangélicas e pela Comunidade de Santo Egídio.

Claro, ainda há um longo caminho a percorrer; mas, citando o discurso de despedida da diácona Alessandra Trotta (que na época era presidente da Ópera Metodista e hoje é a nova moderadora da Mesa valdense), devemos continuar caminhando juntos "com esperança, para trazer esperança".

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