“Bergoglio levou da América do Sul para Roma um estilo de Igreja da libertação”

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15 Mai 2019

Francesco Margiotta Broglio é um dos maiores historiadores das relações entre Estado e Igreja. Autor de muitos livros importantes como "Religione, diritto e cultura politica nell'Italia del Novecento (Religião, Direito e Cultura Política na Itália do Século XX, em tradução livre)" (Il Mulino). Ele também é presidente da comissão conjunta sobre as relações entre a Itália e a Santa Sé.

A entrevista é de Mario Ajello, publicada por Il Messaggero, 14-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

Professor, o cardeal esmoleiro interferiu na esfera laica que não seria da sua alçada?

Peço desculpas se a resposta possa lhe parecer zombeteira. Mas, mais do que esse aspecto, há outro que me impressiona. Parece-me uma bravata, solicitada pelo Papa, de um cardeal que banca o eletricista. Era mais simples se o Vaticano, em vez de inventar esse gesto marcante e provocativo, tivesse simplesmente pago a conta em silêncio. Você quer que eu sugira um título para a sua entrevista?

Ficaria grato.

O cardeal no poço e os ciganos na cadeira do Papa. Isso aconteceu em Roma. Parece absurdo para mim. Repito: eles tinham que ficar no Vaticano e fazer uma transferência bancária se realmente sentissem a necessidade.

Não acredita que o respeito entre as esferas, entre o Estado e a Igreja, deveria ser mais respeitado?

Agora é impossível retornar à regularidade do passado. Também porque com este Papa em tudo é diferente. Ele vem da América do Sul e seu estilo campesino o colocou em Roma. Na América do Sul, mas também no resto da América, com os catecumenais e outras seitas, para não ficar fora da sociedade, a Igreja enfia-se por toda parte. É só encontrar uma abertura, zac! O Papa se assemelha àqueles da Teologia da Libertação, aliás, é daquele continente que vem. Mas um gesto como o dos lacres dos medidores poderia ser esperado na Argentina ou naqueles lugares, mas não no centro de Roma. Além do mais, com um cardeal polonês disfarçado de eletricista. Eu gostaria de tê-lo visto enquanto entrava no poço. Não é que ele correu o risco ficar enredado na batina?

Não há também um problema jurídico?

O que mais de impressiona é o valor simbólico. Que faz par com o convite do Papa aos ciganos no Vaticano. Com Francisco, a Teologia da Libertação também chegou para libertar os medidores de eletricidade.

Se Cavour, o defensor da rígida separação entre Igreja e Estado, tivesse visto essa ingerência, o que teria dito?

Estaria se revirando no túmulo. Mas o mundo mudou e, infelizmente, a separação entre Igreja e Estado é continuamente ignorada.

Em sua opinião, o Papa disse a Dom Conrado: vá?

Mas certamente. É uma blitz que o Papa quis fazer. Para bater na atual política sobre os migrantes, sobre a qual ele não faz nada além de polemizar e dar estocadas.

É o único Papa que faz política?

Não o único, certamente. Mas quando se trata de jesuítas, como esquecer que Pio XII chegou a elaborar três esboços da Constituição, enviou-as aos políticos de sua época e queria que eles as adotassem?

Mas você, como profundo conhecedor dessas histórias, esperava que Bergoglio tivesse esse estilo?

Quem o sabia não era só eu, mas aqueles que o elegeram. Bergoglio não aconteceu por acaso. Sabiam que ele teria trazido junto a América do Sul para todos os lugares. Foi realmente uma escolha. E, de fato, mesmo que as divisões internas da Igreja sobre sua atuação existam, elas não me parecem muito extensas e preocupantes para ele. Eles queriam um Che Guevara? E aqui está.

Mesmo?

Ok, digamos que ele se parece mais com monsenhor Romero, aquele que lutou contra os fascistas em El Salvador e foi brutalmente trucidado. Que episódio terrível. De fato, o tornaram um santo.

Também Bergoglio, talvez seja declarado beato?

Tudo pode acontecer. E quem sabe se essa história das contas atrasadas contribuirá para a canonização.

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