Religiosas estão se mobilizando para denunciar os abusos sexuais, um apelo interno às ordens religiosas

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01 Março 2019

 Uma dor de cabeça atrás da outra. Encerrada a cúpula sobre os abusos, outra emergência assoma no horizonte para o Papa. "Nós gostaríamos de falar sobre os abusos contra as religiosas". A Irmã Patricia Murray, secretária-geral da UISG, a União das Superioras Gerais, praticamente 98% das freiras no mundo, um exército de 600.000 irmãs, lançou um apelo urbi et orbi para conseguir denunciar, falar, revelar. Enquanto isso, estão sendo preparadas estruturas internas na UISG para facilitar a operação de "quem souber algo, fale".

A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 28-02-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Para dar apoio às irmãs e incentivá-las a seguir em frente nessa batalha pela verdade colaborou uma jornalista, Valentina Alazraki, que na cúpula sobre os abusos, diante do Papa, dos bispos e dos cardeais, lembrou-lhes que esconder os problemas debaixo do tapete não é bom para a saúde da Igreja, e que existe mais um problema a ser enfrentado, aquele que tem como protagonistas as mulheres consagradas. Alazraki assumiu a campanha aberta com coragem por Lucetta Scaraffia, historiadora e diretora da revista mensal do Vaticano, Mulheres Igreja Mundo.

"Estamos incentivando as religiosas vítimas de abusos sexuais, psicológicos ou espirituais a vir a público. Existem muitas maneiras de abusar de uma mulher. É por isso que dizemos: falem, falem e falem", afirmou a irmã Murray.

No momento, não há estatísticas sobre os abusos femininos. No entanto, fala-se sobre isso desde a década de 1990, mas sobre esse ponto a Igreja sempre agiu com relutância. Um tabu. A Congregação da Propaganda Fide, por exemplo, que recebeu muitas denúncias nos últimos anos, vindas principalmente da África, nunca promoveu iniciativas generalizadas para promover uma cultura de respeito. Apenas recentemente o Cardeal Filoni fez algum movimento, com uma diretriz para os núncios apostólicos africanos.

Mesmo assim, ao retorno da viagem para os Emirados o Papa Francisco havia confirmado que a questão atualmente está aberta, é ampla, que tem havido abusos contra as mulheres e que seriam necessárias medidas concretas para resolvê-los. "É verdade, dentro da Igreja houve também clérigos que fizeram tais coisas, em algumas culturas um pouco mais que em outras, não é algo que todo mundo faz, mas houve sacerdotes e até bispos que fizeram. E eu credito que ainda aconteça, porque não é algo que, a partir do momento que é percebido, deixe de existir. A situação continua se mantendo. Estamos trabalhando nisso há algum tempo. Suspendemos alguns clérigos, removendo-os, por causa disso. Tivemos que dissolver alguma congregação religiosa feminina que estava muito ligada ao problema, uma forma de corrupção". A referência do Papa era à congregação francesa de monjas contemplativas, a Família de São João, cujo fundador abusava das irmãs, a havia reduzido ao silêncio, em uma deriva sectária preocupante e dolorosa.

A Irmã Carmen Sammut, Presidente da UISG, confirma a vontade de continuar a boa batalha. “Talvez chegue o dia em que, num sínodo, até as irmãs possam votar. Há um longo caminho a percorrer. Nós não devemos nos desesperar. Já começamos a jornada. Estamos coletando o material para estruturar uma denúncia dos abusos e enviá-la para o Vaticano. O problema existe, mas no momento é difícil delineá-lo pois não é fácil romper a cultura de silêncio e ajudar as irmãs a vir a público."

Recordando que já "no final dos anos 1990 duas religiosas, a Irmã Maura O'Donohue e a Irmã Marie McDonald, tiveram a coragem de apresentar denúncias precisas e circunstanciadas". E depois delas, para dar outro exemplo, em 2000, foi a irmã Esther Fangman, priora da comunidade das beneditinas de Atchison, Kansas, que levantou a questão no Congresso dos abades, priores e abadessas das ordens beneditinas em Roma.

Mais recentemente, entre 2017 e 2018 na África, na região dos Grandes Lagos, foram organizados seminários para religiosos e religiosas sobre o "cuidado das vítimas de abusos sexuais em situações de conflito", em colaboração, entre outros, com a UISG.

No encontro realizado em agosto passado em Kampala, Uganda, John Baptist Odama, arcebispo de Gulu, durante seu discurso, se ajoelhou e pediu perdão também pelos abusos cometidos por sacerdotes e consagrados contra freiras e agentes pastorais. Mas o caso recente mais rumoroso é certamente aquele de violência sexual contra uma freira pelo qual é acusado o bispo de Jalandhar na Índia, Franco Mulakkal. O fantasma do abusos e violência contra religiosas também apareceu na Igreja chilena, já abalada no ano passado por vários escândalos envolvendo sacerdotes e bispos.

A Congregação das Irmãs do Bom de Samaritano de Molina, na diocese de Talca, recebeu em dezembro passado uma visita apostólica por parte da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, para esclarecer sobre uma série de denúncias por parte de ex freiras sobre assédios e abusos sofridos por diretores espirituais, além de terem sido tratadas "como escravas" por parte das superioras.

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