13 Julho 2018
Na semana em que o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes completa quatro meses, a Anistia Internacional no Brasil divulgou um comunicado em que critica as instituições do Sistema de Justiça Criminal Brasileiro por ainda não terem chegado a uma solução para os crimes.
A reportagem é de Vinícius Lisboa, publicada por Agência Brasil, 12-07-2018.
"Após quatro meses, a não resolução do assassinato de Marielle Franco demonstra ineficácia, incompetência e falta de vontade das instituições do Sistema de Justiça Criminal brasileiro em resolver o caso. É urgente o estabelecimento de um mecanismo externo e independente para monitorar essa investigação", afirmou Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional, que também pediu que as autoridades quebrem o silêncio e voltem a se comprometer publicamente a encontrar os responsáveis pelos assassinatos.
"A não solução do caso demonstra de forma inconteste a falta de compromisso do Estado brasileiro com seus defensores e defensoras de direitos humanos", disse.


Anistia Internacional critica "ineficácia" de autoridades no caso da vereadora Marielle Franco. Na foto, a coordernadora de pesquisa da Anistia Internacional Brasil, Renata Neder | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Marielle e Anderson foram assassinados em 14 de março no Estácio, na região central do Rio de Janeiro. Os assassinos dispararam tiros de um carro que seguia a vereadora.
A coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional, Renata Neder, defendeu hoje que a falta de solução do caso e a possibilidade de envolvimento de agentes do Estado apontam a necessidade de se criar um mecanismo independente de acompanhamento das investigações. Quem participaria desse órgão e como se daria a sua criação são pontos que ainda é necessário discutir, ponderou ela.
"É importante para garantir que as investigações andem de forma célere, não sofram com interferências indevidas e que todas as diligências sejam feitas", disse ela, que explicou que esse órgão externo não faria uma investigação paralela, mas apenas verificaria se os procedimentos corretos estão sendo cumpridos.
Quando o crime completou três meses, a Anistia cobrou que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro destacasse membros de seus grupos especializados para acompanhar o trabalho da Polícia Civil, que toca as investigações em sigilo. Segundo Renata, o MP não atendeu essa reivindicação e explicou que cinco promotores já estavam reforçando o trabalho do promotor responsável pelo caso.
Pais de Marielle
Os pais de Marielle Franco estiveram na sede da Anistia Internacional na manhã de hoje para reforçar a cobrança por uma investigação mais célere e transparente. Marinete da Silva disse que já não recebe notícias das autoridades fluminenses há mais de um mês.
"É bem ruim pra gente esse silêncio. É um sentimento de que se está chegando a um ponto de impunidade", disse ela, que afirmou que ainda confia no trabalho da Polícia e nas condições que ela tem de chegar a uma solução. "Eu preciso acreditar", desabafou.
Antônio Francisco da Silva, pai de Marielle também criticou as autoridades e disse que nenhuma se prontifica a falar com a família. Ele também disse ter confiança de que a Polícia pode chegar aos criminosos e mandantes do crime e afirmou que não apenas a família, mas a sociedade brasileira e a comunidade internacional também esperam que a justiça seja feita.
"Todo dia quando eu acordo eu faço essa pergunta: O que minha filha fez, o que ela falou, para que tirassem a vida dela brutal e covardemente como foi?"
Procurada, a Secretaria Estadual de Segurança Pública afirmou em nota que não vai se posicionar sobre o caso, porque ele segue em sigilo.
Leia mais
- Marielle Franco, vereadora do PSOL, é assassinada no centro do Rio na saída de evento que reunia ativistas negras
- 'É chocante', diz diretor da ONU sobre morte de vereadora no Rio
- Vereadora do PSOL-RJ é assassinada após denunciar policiais
- “Democracia está ameaçada”, disse Marielle Franco em entrevista inédita
- Mulher, negra, favelada, Marielle Franco foi de 'cria da Maré' a símbolo de novas lutas políticas no Rio
- Assassinato de Marielle Franco põe Planalto contra a parede
- Marielle presente!
- 'Caso simbólico, Marielle pode servir de inspiração', diz especialista
- Direção dos tiros contra Marielle reforça hipótese de ataque premeditado
- Batalhão alvo de denúncias de Marielle Franco é o que mais mata
- 'Tudo aponta para possível envolvimento de policiais', afirma coordenador criminal do MPF no Rio sobre Marielle
- Assassinato político de Marielle Franco reativa as ruas e desafia intervenção no Rio
- Tuitadas
- A primavera feminista chega às Câmaras
- "Retaliar o feminismo é vital para quem ocupa hoje o poder"
- A intervenção militar no Rio. O desafio é construir um Estado que destine os recursos públicos para a maioria da população. Entrevista especial com Jailson de Souza e Silva
- Intervenção no Rio de Janeiro é mais uma encenação político-midiática. Entrevista especial com José Cláudio Alves
- Militares 'ficham' trabalhadores que moram em favelas no Rio de Janeiro
- As misérias da intervenção
- Para Sérgio Adorno, intervenção no Rio mostra 'falência da política'
- "Ministério da Segurança Pública e intervenção são medidas populistas"
- 'Oportunidade' ou 'ação indefensável'? Intervenção federal divide ex-secretários de segurança do Rio
- Intervenção no Rio: as regras do jogo democrático não são um “luxo para tempos de paz”
- Às armas, cidadãos! Qualquer que seja o resultado da ação militar no Rio de Janeiro, sai perdendo a sociedade civil, sai perdendo a democracia
- Brasil: Vinte e cinco anos de impunidade alimentam as mortes cometidas pela polícia no Rio de Janeiro
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Anistia critica "ineficácia" de autoridades no caso Marielle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU