17 Abril 2024
O teólogo Martin M. Lintner havia criticado a moral sexual católica e o Vaticano havia impedido a sua nomeação à reitoria de uma universidade ao sul do Tirol. Agora, porém, a Igreja está mudando de tom. No meio de 2023, o Vaticano havia vetado a sua nomeação ao Studio Teológico Acadêmico de Bressanone, no Tirol do Sul. Isso teve uma grande repercussão.
De fato, especialmente no âmbito de língua alemã, o teólogo moral desfruta de grande estima. “Devido às publicações do professor Lintner sobre questões de moral sexual católica”, o Dicastério para a Cultura e a Educação – autoridade vaticana que supervisiona os institutos de estudo e pesquisa eclesial – havia negado o nihil obstat, o documento que indica que a pessoa preenche todas as condições para assumir a função.
Lintner havia falado abertamente a favor da bênção de casais homossexuais, de reflexão sobre os abusos na Igreja e do diálogo sobre as pesquisas de gênero. Ele já havia falado com Christ&Welt sobre tal recusa, no início de julho de 2023. Depois de uma grande onda de solidariedade e crítica universal à decisão do Vaticano, agora surpreendentemente ela é revogada.
Perto da Páscoa, Lintner soube que o Dicastério para a Educação havia dado sua autorização. Em 1º de setembro de 2024 o teólogo assumirá o cargo de reitor do Studio Teológico Acadêmico de Bressanone.
A entrevista é de Lisa Maria Gasser, publicada por Zeit, 10-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sr. Lintner, durante o ano passado o senhor não apresentou nenhum protesto formal contra o nihil obstat. No entanto, as autoridades vaticanas mudaram a sua decisão. Por quê?
O motivo não me foi comunicado.
Como se explica essa mudança de opinião?
A recusa recebeu uma enorme atenção midiática e não foi absolutamente compreendida. Tal reação certamente não era esperada. Decisivo deve ter sido o fato de o bispo diocesano do Tirol do Sul ter-se manifestado fortemente a meu favor e ter buscado o diálogo com as autoridades do Vaticano. O fato de a recusa ter sido revogada e o meu caso novamente examinado foi oficialmente motivado pelo fato de haver várias questões a esclarecer que diziam respeito a diferentes dicastérios.
Isso sugere que nem todos no Vaticano concordavam com a decisão negativa.
Houve uma agitação excessiva?
Para muitos, não só para mim, foi como um milagre.
O Dicastério para a Doutrina da Fé é consultado para o nihil obstat – e foi suspeito de ter negado sua nomeação como reitor. Justamente quando seu caso se tornou público, o Papa Francisco anunciou, com a nomeação de uma pessoa de sua confiança, o cardeal arcebispo Víctor Manuel Fernandez, como novo prefeito do dicastério, uma mudança de pessoal que surpreendeu muitos. Francisco sabia do seu caso?
Uma fonte bem informada me comunicou que meu caso havia sido colocado na sua mesa. Não sei dizer se ele o levou em consideração e se, como reação, anunciou a mudança do prefeito antes do esperado. Mas é importante notar a indicação que deu a Fernández: que a sua tarefa não era procurar erros e julgar, mas promover o estudo da teologia e transmitir o conhecimento da fé de forma positiva.
É um fato excepcional que um não se transforme em sim?
Isso não é habitual e, tanto quanto sei, não há precedentes desse tipo. Considero isso um sinal de um novo estilo do dicastério, a escolha por trabalhar de forma objetiva e orientada para a busca de soluções.